A polêmica sobre doação de órgãos de vítimas fatais da Covid-19 tomou corpo depois do anúncio da morte cerebral do Senador Major Olimpio. A família postou, na tarde desta quinta-feira (18), nas redes sociais o seguinte texto:

“Com muita dor no coração, comunicamos a morte cerebral do grande pai, irmão e amigo, Senador Major Olimpio. Por lei a família terá que aguardar 12 horas para confirmação do óbito e está verificando quais órgãos serão doados. Obrigado por tudo que fez por nós, pelo nosso Brasil”.
A doação de orgãos caiu em 40% desde o início da pandemia, a fila de espera no país tem mais de 40 mil pessoas.
Histórico
O Senador pelo PSL, Sérgio Olimpio Gomes, também Major da Reserva da Polícia Militar do Estado de São Paulo (PMESP), estava internado desde o dia três de março, para tratar-se da Covid-19 e comorbidades. Dia cinco ele foi transferido para a UTI do Hospital São Camilo. O senador tinha 58 anos, deixa esposa e dois filhos.
Em fevereiro, o major chegou a participar de protestos contra o fechamento do comércio em São Paulo, declarando oposição ao governador João Doria (PSDB) e sua forma de combate ao coronavírus. O senador se declarava ainda contra políticas de isolamento social.
Doação de órgãos de portadores de Covid-19
Segundo nota oficial emitida pelo Ministério da Saúde e a Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), ele não poderia ser doador. Além disso, os pacientes com o coronavírus não podem ser considerados doadores vivos nem mortos.
Em ambos os casos há o risco de transmissão da doença para o órgão doado e risco de morte para o receptor.
“Ainda assim, o vírus ainda pode estar em circulação no corpo e ser transmitido ao receptor”, informa o MS. A exceção, neste sentido, é para pessoas que já tiveram a doença, mas se curaram. Elas podem doar após teste negativo e em um prazo mínimo de 28 dias após a infecção, segundo a ABTO.
Dessa maneira, o MS salienta haver “contraindicação absoluta para doação de órgãos e tecidos” de doadores que morreram com a Covid-19 ativa, com teste para Sars-CoV-2 positivo ou com Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS).
No caso de doador falecido de órgãos e tecidos oculares e pele, pode ser validado apenas para órgãos, com regressão completa dos sintomas há mais de 28 dias e assim como novo teste laboratorial negativo.

Com efeito, pelo alto risco de contaminação mesmo após a morte do paciente, o MS não recomenda a realização de velórios e funerais de mortos com confirmação ou suspeita de Covid-19.
Assim como orienta a não realizar autópsias, a menos que extremamente necessário. Caso a coleta de material biológico não tenha sido realizada em vida, a forma post-mortem deve ser feita no serviço de saúde. Feito, inclusive, por meio de swab na cavidade nasal e de orofaringe, para investigação pela equipe de vigilância local.
Receptor em risco
Segundo Paulo Pêgo, diretor e membro do conselho deliberativo da ABTO, “É muito grave”. Um transplante de órgãos, o receptor está imunossuprimido, e o órgão já vem contaminado por Covid, “a chance da pessoa que receber o órgão morrer é muito grande”, garante.
Por fim, “Juntar um procedimento arriscado e bastante invasivo com uma infecção da Covid e um sistema imunológico frágil é uma união de fatores grave”, enfatiza.