O que é H. pylori? Causas, complicações e tratamento

A Helicobacter pylori (H. pylori) é uma bactéria que infecta o estômago e é uma das principais causas de gastrite, úlceras pépticas e até câncer gástrico.

Estima-se que mais da metade da população mundial seja portadora dessa bactéria, ainda que muitas pessoas não apresentem sintomas. No Brasil, a prevalência da infecção por H. pylori é alta, especialmente em áreas com condições socioeconômicas desfavoráveis.

Entender o que é a H. pylori, seus sintomas, métodos de diagnóstico e as opções de tratamento é essencial para a prevenção de complicações mais graves. Muitas pessoas convivem com essa infecção sem saber, o que aumenta o risco de desenvolver doenças gástricas mais sérias ao longo do tempo.

Por isso, a conscientização sobre essa bactéria e os cuidados necessários é fundamental para a promoção da saúde pública e a prevenção de doenças digestivas.

O que é Helicobacter pylori?

A Helicobacter pylori é uma bactéria gram-negativa em forma de espiral que coloniza a mucosa do estômago humano. Ao contrário de muitas outras bactérias, ela consegue sobreviver no ambiente ácido do estômago, o que lhe permite persistir e causar infecções crônicas.

A H. pylori está associada a várias condições gastrointestinais, incluindo gastrite crônica, úlceras pépticas e até câncer gástrico.

Características da Bactéria

A H. pylori possui um formato helicoidal que facilita a sua penetração na camada mucosa do estômago, protegendo-a do ácido gástrico.

Além disso, a bactéria é capaz de produzir uma enzima chamada urease, que neutraliza o ácido ao converter a ureia em amônia, criando um ambiente mais alcalino em torno dela.

Essa capacidade de adaptação permite que a bactéria colonize e sobreviva no estômago por longos períodos, muitas vezes sem ser eliminada pelo sistema imunológico.

História da Descoberta

A descoberta da H. pylori é relativamente recente. Em 1982, os cientistas australianos Barry Marshall e Robin Warren conseguiram isolar e cultivar a bactéria pela primeira vez.

Até então, acreditava-se que úlceras e gastrites eram causadas principalmente por estresse, dieta ou excesso de ácido gástrico. A descoberta da H. pylori revolucionou o entendimento das doenças gastrointestinais e rendeu a Marshall e Warren o Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina em 2005.

Dados de Prevalência

A infecção por H. pylori é uma das infecções bacterianas mais comuns no mundo. No Brasil, cerca de 60% da população pode estar infectada, enquanto em países em desenvolvimento, esse número pode ultrapassar 80%.

Em países desenvolvidos, a prevalência é geralmente menor, variando de 20% a 50%. Essas estatísticas ressaltam a importância de políticas de saúde voltadas para o diagnóstico precoce e tratamento adequado da infecção.

Como ocorre a infecção por H. pylori?

A infecção por H. pylori geralmente ocorre na infância e pode ser transmitida de várias maneiras, incluindo o contato direto com saliva, vômito ou fezes de pessoas infectadas.

O consumo de água e alimentos contaminados também são vias comuns de transmissão. A falta de saneamento básico e de boas práticas de higiene são fatores que facilitam a disseminação da bactéria.

Modo de Transmissão

Contato Direto: O contato próximo com uma pessoa infectada, especialmente em ambientes com pouca higiene, pode levar à transmissão de H. pylori. Beijar ou compartilhar utensílios também são formas potenciais de transmissão.

Alimentos e Água Contaminados: Ingestão de alimentos e água contaminados é outra forma comum de transmissão. Isso é especialmente relevante em regiões onde o saneamento básico é deficiente.

Falta de Higiene Pessoal: A falta de lavagem das mãos antes de comer ou após usar o banheiro pode aumentar significativamente o risco de infecção.

Fatores de Risco

Idade: A infecção por H. pylori é mais comum em crianças, principalmente em países em desenvolvimento.

Condições de Higiene: Ambientes com condições sanitárias inadequadas aumentam o risco de contaminação.

Uso de Certos Medicamentos: O uso prolongado de anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) pode agravar a mucosa gástrica, facilitando a colonização por H. pylori.

Grupos de Risco

Crianças: Maior risco devido à exposição em ambientes onde a infecção é prevalente.

Idosos: Imunidade reduzida e maior exposição ao longo da vida.

Pessoas em Áreas de Baixa Renda: Maior prevalência devido a condições de vida mais precárias, como falta de água potável e saneamento.

Sintomas da Infecção por H. pylori

A infecção por H. pylori pode apresentar uma ampla variedade de sintomas, desde desconfortos leves até condições graves que exigem intervenção médica imediata. No entanto, é importante ressaltar que muitos portadores da bactéria podem não apresentar sintomas aparentes.

Sintomas Comuns

Os sintomas mais frequentes associados à infecção por H. pylori incluem:

  • Dor abdominal: Geralmente uma dor ou queimação na região do estômago, que pode piorar quando o estômago está vazio.
  • Queimação: Sensação de ardor no estômago, muitas vezes descrita como azia.
  • Náuseas e vômitos: Podem ocorrer especialmente após refeições.
  • Perda de apetite: A dor e o desconforto podem levar à diminuição da vontade de comer.
  • Inchaço e sensação de plenitude: Mesmo após pequenas refeições.

Sintomas Mais Graves

Em casos mais graves, a infecção por H. pylori pode levar ao desenvolvimento de complicações que apresentam sintomas mais intensos, como:

Úlceras gástricas e duodenais

Lesões na parede do estômago ou do duodeno que podem causar dor intensa e persistente.

Sangramento gastrointestinal

Manifesta-se através de vômitos com sangue ou fezes escuras (melena), sinal de hemorragia no trato digestivo.

Casos Assintomáticos

Uma grande proporção de pessoas infectadas com H. pylori não apresenta sintomas significativos, o que é conhecido como infecção assintomática. Estima-se que 70% dos casos de infecção sejam assintomáticos.

Isso pode dificultar o diagnóstico precoce, permitindo que a infecção persista por anos, aumentando o risco de complicações mais graves, como úlceras e câncer gástrico.

Leia agora: Sintomas de má digestão: quais são e como aliviá-los?

Diagnóstico da Infecção por H. pylori

O diagnóstico da infecção por H. pylori é fundamental para o manejo adequado da condição e a prevenção de complicações. Existem vários métodos de diagnóstico disponíveis, cada um com suas indicações, vantagens e desvantagens.

Métodos de Diagnóstico

Teste de sangue (sorologia): Detecta a presença de anticorpos contra H. pylori no sangue. É um teste simples, mas não diferencia infecções atuais de passadas.

Teste de urease respiratória: Considerado um dos mais precisos. O paciente ingere uma substância que, em presença da bactéria, é convertida em dióxido de carbono marcado, que é detectado no ar expirado.

Exame de fezes: Detecta antígenos da H. pylori nas fezes. É não invasivo e pode ser usado para confirmar a erradicação da bactéria após o tratamento.

Endoscopia com biópsia: Permite a visualização direta do revestimento do estômago e a coleta de amostras de tecido para a detecção da bactéria. É o método mais invasivo, mas também o mais abrangente para avaliar outras condições gástricas.

Indicações para o Diagnóstico

Os exames são geralmente recomendados em casos de:

  • Presença de sintomas gastrointestinais persistentes, como dor abdominal e azia.
  • Histórico familiar de câncer gástrico.
  • Diagnóstico de úlcera gástrica ou duodenal.

Vantagens e Desvantagens de Cada Método

  • Teste de sangue: Vantagem – fácil de realizar; Desvantagem – pode não distinguir infecções antigas das atuais.
  • Teste de urease respiratória: Vantagem – alta precisão e não invasivo; Desvantagem – pode ser mais caro.
  • Exame de fezes: Vantagem – não invasivo e útil para monitorar a erradicação; Desvantagem – menos conveniente.
  • Endoscopia com biópsia: Vantagem – fornece uma avaliação abrangente do estômago; Desvantagem – invasivo e mais caro.

Complicações Associadas à Infecção por H. pylori

A infecção por H. pylori pode levar a diversas complicações gastrointestinais, especialmente quando não tratada adequadamente.

Desenvolvimento de Úlceras Pépticas

A H. pylori causa inflamação da mucosa do estômago e do duodeno, que pode evoluir para úlceras pépticas. A bactéria danifica a mucosa gástrica, reduzindo a proteção contra o ácido do estômago, o que leva à formação de úlceras. Úlceras pépticas são dolorosas e podem causar complicações graves, como perfuração e sangramento.

Relação com o Câncer Gástrico

A infecção crônica por H. pylori é um fator de risco bem estabelecido para o desenvolvimento de câncer gástrico. A bactéria pode induzir alterações inflamatórias na mucosa do estômago que, ao longo do tempo, podem levar a mudanças pré-cancerosas (metaplasia intestinal) e, eventualmente, ao adenocarcinoma gástrico.

Outras Complicações

Linfoma MALT (Mucosa-Associated Lymphoid Tissue): Um tipo raro de câncer que pode ser tratado com a erradicação da infecção.

Gastrite Crônica: Inflamação persistente do estômago que pode levar à atrofia gástrica e outras complicações.

Dispepsia Funcional: Uma condição de desconforto abdominal sem causa estrutural clara, associada à presença da bactéria.

Tratamento para H. pylori

O tratamento da infecção por H. pylori visa erradicar a bactéria do estômago, aliviar os sintomas e prevenir complicações como úlceras e câncer gástrico.

Para isso, existem diferentes regimes terapêuticos, geralmente envolvendo o uso de antibióticos combinados com medicamentos que reduzem a produção de ácido estomacal.

Mas atenção, todos e qualquer tratamento contra a doença deve ser prescrito por um médico.

Veja também: Quem tem H. pylori pode comer ovo? Saiba o que acontece

Opções de Tratamento

Confira agora quais são os tratamento mais comuns contra a doença:

Terapia Tripla

É o tratamento mais comum e envolve o uso de dois antibióticos (geralmente claritromicina e amoxicilina ou metronidazol) em combinação com um inibidor da bomba de prótons (IBP) como o omeprazol, que reduz a acidez gástrica, facilitando a ação dos antibióticos. A duração típica é de 10 a 14 dias.

Terapia Quádrupla

Utilizada quando há resistência aos antibióticos da terapia tripla ou falha inicial no tratamento. Inclui um IBP, dois antibióticos (como tetraciclina e metronidazol), e um agente protetor da mucosa gástrica (bismuto subsalicilato). Este regime é mais eficaz em áreas de alta resistência bacteriana.

Outras Combinações

Dependendo da resposta ao tratamento ou de alergias específicas, outras combinações de medicamentos podem ser utilizadas. A escolha da terapia deve ser sempre personalizada pelo médico.

Duração e Adesão ao Tratamento

A adesão rigorosa ao tratamento é essencial para a erradicação bem-sucedida da H. pylori. A interrupção prematura ou o uso inadequado dos medicamentos pode levar à resistência antibiótica, dificultando o tratamento futuro.

Os pacientes devem seguir todas as orientações médicas, mesmo que os sintomas melhorem antes do término do tratamento.

Possíveis Efeitos Colaterais e o Que Fazer se o Tratamento Falhar

Os efeitos colaterais comuns dos antibióticos podem incluir diarreia, náuseas, gosto metálico na boca e desconforto abdominal.

Se o tratamento falhar, é necessário realizar novos testes de sensibilidade para selecionar um regime alternativo mais adequado. A repetição do tratamento com uma combinação diferente de antibióticos é geralmente eficaz.

Prevenção da Infecção por H. pylori

Prevenir a infecção por H. pylori envolve principalmente práticas de higiene e cuidados básicos no dia a dia, especialmente em áreas onde a bactéria é mais prevalente.

  • Boas Práticas de Higiene
  • Lavar as mãos: Especialmente antes de comer e após usar o banheiro.
  • Cuidados na preparação dos alimentos: Cozinhar bem os alimentos e evitar o consumo de produtos crus ou mal higienizados.
  • Evitar água não tratada: Consumir apenas água filtrada ou fervida em áreas de risco.

Alimentação e Estilo de Vida para Pacientes com H. pylori

Uma alimentação adequada e um estilo de vida saudável são importantes para controlar os sintomas da infecção por H. pylori e promover a saúde digestiva.

Alimentos que ajudam

Probióticos (como iogurte e kefir) podem auxiliar na manutenção da flora intestinal saudável e potencialmente reduzir a colonização por H. pylori. Alimentos ricos em fibras, como frutas, vegetais e grãos integrais, também são recomendados.

O que evitar

Alimentos picantes, ácidos, frituras, álcool, cafeína e bebidas carbonatadas, pois podem irritar a mucosa gástrica e agravar os sintomas.

Uma dieta balanceada e o controle do estresse podem melhorar a resposta ao tratamento e diminuir os sintomas gastrointestinais. Técnicas de relaxamento, como yoga e meditação, podem ser benéficas.

A infecção por H. pylori é um problema de saúde global que requer atenção. Conhecer o que é a bactéria, como preveni-la, diagnosticá-la e tratá-la pode ajudar a reduzir sua prevalência e as complicações associadas.

Consultar um profissional de saúde ao suspeitar de uma infecção e seguir as orientações médicas é fundamental para um tratamento eficaz.

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Enf. Raquel Souza de Faria
Enf. Raquel Souza de Faria

Sou Raquel Souza de Faria, Enfermeira (COREN – MG 212.681) Especialista em Docência do Ensino Superior, Consultora de Enfermagem em Núcleo de Segurança do Paciente, Gestora de Serviços de Atenção Básica/Saúde da Família. Empresária e Empreendedora, amante da Fitoterapia e das Terapias Holísticas, oferecendo bem-estar e prevenção de doenças como Auriculoterapêuta e Esteticista.
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