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Serotonina e queda de cabelo: como essa substância do cérebro pode fortalecer seus fios
A busca por soluções eficazes contra a queda de cabelo ganha um novo capítulo. Desta vez, o protagonismo não está em uma fórmula cosmética ou em mais um composto sintético, mas sim em uma substância amplamente conhecida por sua atuação no cérebro: a serotonina.
Além de sua função como reguladora do humor e do sono, essa neurotransmissora está sendo estudada como possível aliada no tratamento da calvície e outras formas de alopecia.
Entenda, aqui no SaúdeLAB que a pesquisa descobriu.
O que é serotonina e como ela pode influenciar o cabelo?
A serotonina (5-hidroxitriptamina ou 5-HT) é um neurotransmissor que atua em diversas funções do organismo, como o equilíbrio emocional, a digestão e o sono.
No entanto, novos estudos vêm demonstrando que ela também pode exercer influência sobre o ciclo capilar, principalmente por sua interação com células especializadas do folículo piloso chamadas células da papila dérmica (DP).
Essas células são essenciais no processo de crescimento do cabelo, já que produzem sinais bioquímicos que determinam se os fios vão crescer, entrar em repouso ou cair.
A descoberta de que a serotonina pode ativar essas células representa um possível avanço nas terapias contra a queda de cabelo.
O estudo que colocou a serotonina no centro das pesquisas capilares
Pesquisadores europeus conduziram uma investigação detalhada, publicada na revista Scientific Reports, sobre os efeitos da serotonina e de seus receptores nos folículos capilares humanos.
Utilizando tanto culturas celulares quanto organoides capilares (folículos artificiais desenvolvidos em laboratório), os cientistas observaram a ativação de genes importantes para o crescimento capilar após a aplicação de serotonina.
Entre os genes ativados estão o VEGFA (fator de crescimento endotelial vascular) e a fosfatase alcalina (ALP), ambos conhecidos por sua associação com o crescimento e a vascularização dos folículos.
A aplicação da serotonina também resultou no alongamento dos fios nos modelos testados, especialmente a partir do quarto dia de exposição, sugerindo um efeito tanto dose-dependente quanto cumulativo.
Por que isso importa?
A queda de cabelo afeta milhões de pessoas no Brasil e no mundo, com impactos significativos na autoestima e na qualidade de vida.
As causas variam desde predisposição genética até fatores hormonais, estresse, alimentação inadequada, poluição e doenças autoimunes.
Entre as opções de tratamento disponíveis hoje estão o minoxidil, medicamentos hormonais e suplementos, mas os resultados costumam ser variáveis e nem sempre satisfatórios.
A possibilidade de usar uma substância natural do próprio corpo (como a serotonina) para estimular o crescimento capilar abre espaço para terapias mais seguras e potencialmente mais eficazes, com menos efeitos colaterais.
A serotonina já é produzida no couro cabeludo?
Sim. Embora a maior parte da serotonina do corpo esteja concentrada no trato gastrointestinal, estudos mostraram que os folículos capilares também são capazes de produzir serotonina, especialmente em resposta à estimulação mecânica, como escovação ou massagem no couro cabeludo.
Esse dado reforça a hipótese de que estimular a serotonina localmente pode ter benefícios diretos para a saúde dos fios.
A serotonina pode substituir medicamentos como o minoxidil?
Ainda é cedo para afirmar. Embora os resultados iniciais sejam animadores, os pesquisadores alertam que as concentrações de serotonina utilizadas nos experimentos são muito superiores às encontradas naturalmente no organismo.
Em níveis elevados, a serotonina pode provocar efeitos adversos graves, como a chamada síndrome serotoninérgica, que envolve sintomas neuromusculares e psiquiátricos.
Além disso, há registros de que medicamentos que aumentam a serotonina no sistema nervoso central, como os antidepressivos da classe dos inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS), podem, em alguns casos, desencadear queda de cabelo.
Isso mostra que o equilíbrio da serotonina no organismo é complexo e seus efeitos podem variar conforme o contexto.
Alternativas em estudo: sumatriptana e cafeína
O estudo também testou a ação de um medicamento chamado sumatriptana, usado para tratar enxaquecas, que atua como agonista dos receptores de serotonina.
Os resultados foram similares aos da serotonina pura, sugerindo que fármacos já existentes no mercado poderiam ser redirecionados para fins capilares.
Outro ponto interessante é que a cafeína foi mencionada como uma substância potencialmente capaz de aumentar a atividade dos receptores de serotonina nos folículos capilares.
Isso se soma a estudos anteriores que já sugeriam um papel positivo da cafeína no estímulo ao crescimento capilar.
Serotonina e saúde intestinal: uma ligação indireta com os cabelos
Outro aspecto importante abordado pelos cientistas é a relação entre o intestino, os microrganismos da flora intestinal (microbiota) e a saúde capilar.
Compostos como biotina e equol, produzidos por bactérias intestinais, têm efeito comprovado na saúde dos cabelos.
Considerando que o intestino é um dos principais produtores de serotonina, é plausível pensar que uma microbiota saudável pode favorecer não só o humor, mas também o crescimento capilar.
O que esperar do futuro?
Apesar das descobertas promissoras, é fundamental destacar que os resultados ainda estão restritos a ambientes controlados de laboratório.
Não há, até o momento, nenhum suplemento ou medicamento à base de serotonina aprovado para tratar queda de cabelo.
A próxima etapa dos estudos envolve testes clínicos em humanos, para avaliar a eficácia, segurança e viabilidade de formulações tópicas ou orais com ação sobre os receptores de serotonina no couro cabeludo.
A relação entre serotonina e queda de cabelo representa uma nova fronteira na dermatologia capilar. Embora ainda estejamos nos primeiros passos, o potencial dessa neurotransmissora como agente estimulador de crescimento capilar é real e digno de atenção.
Para quem sofre com a perda dos fios, a mensagem principal é de esperança, mas também de cautela. Antes de tentar qualquer substância com promessas milagrosas, consulte sempre um profissional de saúde especializado.
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