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Você acha que só pessoas obesas têm apneia do sono? Esta pesquisa recém publicada vai te surpreender
Estudo revela dados surpreendentes sobre apneia do sono em pessoas não obesas. Entenda os riscos, sintomas e por que a OMS alerta para diagnóstico precoce. Saiba como identificar e tratar esse distúrbio que afeta a saúde cardiovascular e cognitiva.
A apneia obstrutiva do sono (AOS) é frequentemente associada à obesidade, mas um estudo recente publicado na revista eClinicalMedicine revelou um dado surpreendente: quase metade dos pacientes diagnosticados com o distúrbio não são obesos.
A descoberta desafia a percepção comum de que apenas pessoas com excesso de peso desenvolvem a condição e reforça a necessidade de critérios mais amplos para diagnóstico e tratamento.
O que é apneia do sono e por que ela preocupa?
A apneia obstrutiva do sono é caracterizada por interrupções repetidas na respiração durante o sono, causadas pelo colapso das vias aéreas superiores. Essas pausas, que podem ocorrer dezenas de vezes por hora, levam a quedas nos níveis de oxigênio no sangue e fragmentam o sono. Entre as consequências estão:
- Maior risco cardiovascular (hipertensão, arritmias, AVC);
- Comprometimento cognitivo (dificuldade de concentração, memória);
- Cansaço crônico e sonolência diurna;
- Redução da qualidade de vida.
A obesidade é, de fato, um fator de risco bem estabelecido, já que o acúmulo de gordura na região do pescoço pode estreitar as vias respiratórias. No entanto, o novo estudo — o maior já realizado sobre o tema — mostra que a apneia não é um problema exclusivo de quem está acima do peso.
O estudo que mudou a perspectiva sobre a apneia
A pesquisa analisou dados de 12.860 adultos, com média de idade de 67 anos, provenientes de quatro grandes estudos de coorte nos Estados Unidos e na Suíça. Os participantes foram avaliados por meio do Índice de Apneia-Hipopneia (IAH), que mede a quantidade de interrupções respiratórias por hora de sono.
Principais achados:
Prevalência da apneia em não obesos
- 56% dos participantes tinham AOS (definida como 5 ou mais eventos por hora);
- Apenas 31,5% desses pacientes eram obesos (IMC ≥ 30);
- 44% estavam com sobrepeso (IMC entre 25 e 29,9);
- 24% tinham peso normal ou abaixo do ideal (IMC ≤ 24,9).
Gravidade da apneia em diferentes faixas de peso
- Entre os casos moderados a graves (15 a 30 eventos/hora), 39% eram obesos e 42% tinham sobrepeso;
- Nos casos severos (mais de 30 eventos/hora), 47% eram obesos e 37% tinham sobrepeso.
Diferenças por sexo e idade
- Homens obesos tiveram maior prevalência de AOS (81%) do que mulheres obesas (64%);
- No entanto, mulheres com apneia eram mais propensas a serem obesas (40%) do que homens (30%);
- Pessoas mais jovens (abaixo de 65 anos) apresentaram maior risco de desenvolver AOS em comparação com idosos.
Por que pessoas magras também desenvolvem apneia?
Se a obesidade não é o único fator, o que explica a apneia em indivíduos com peso normal? Especialistas apontam outras causas:
- Anatomia das vias aéreas: Mandíbula retraída, amígdalas aumentadas ou palato mole alongado podem estreitar a passagem de ar;
- Fatores genéticos: Histórico familiar aumenta a predisposição;
- Hábitos noturnos: Dormir de barriga para cima, consumo de álcool ou sedativos relaxam a musculatura da garganta;
- Distúrbios hormonais: Condições como hipotireoidismo ou acromegalia alteram a estrutura das vias respiratórias.
O perigo do diagnóstico tardio
Como a apneia em pessoas não obesas muitas vezes passa despercebida, muitos pacientes só buscam ajuda quando surgem complicações graves, como:
- Hipertensão resistente a medicamentos;
- Arritmias cardíacas;
- Diabetes tipo 2 (devido à fragmentação do sono e resistência à insulina).
“O mito de que apenas obesos têm apneia atrasa diagnósticos“, alertam os pesquisadores. Ronco alto, sono não reparador e cansaço diurno persistente devem ser investigados, independentemente do peso.
A OMS e a preocupação com os distúrbios do sono
A OMS incluiu recentemente a privação do sono e os distúrbios respiratórios noturnos na lista de fatores que contribuem para doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs), como:
- Doenças cardiovasculares (a AOS não tratada aumenta em até 3x o risco de hipertensão e AVC);
- Diabetes tipo 2 (a fragmentação do sono altera o metabolismo da glicose);
- Declínio cognitivo (a falta de oxigenação cerebral está ligada a maior risco de demência).
Segundo a OMS, cerca de 45% da população mundial sofre de algum distúrbio do sono, e muitos casos de apneia permanecem sem diagnóstico justamente pela falsa crença de que só afeta pessoas com obesidade.
Como é feito o diagnóstico e tratamento?
O padrão-ouro para confirmar a AOS é a polissonografia, exame que monitora a respiração, oxigenação e atividade cerebral durante o sono. Entre as opções terapêuticas estão:
- CPAP: Dispositivo que mantém as vias aéreas abertas com fluxo de ar contínuo;
- Aparelhos intraorais: Indicados para casos leves ou anatômicos específicos;
- Cirurgias: Correção de desvios septais, redução do palato ou avanço mandibular;
- Mudanças comportamentais: Evitar álcool antes de dormir, perder peso (quando necessário) e dormir de lado.
Os resultados do estudo reforçam que a apneia do sono é um problema multifatorial, não restrito a um único perfil. A subnotificação em pacientes magros ou com sobrepeso exige maior atenção de médicos e pacientes.
Se você apresenta sintomas como ronco, sono agitado ou cansaço inexplicável, consulte um especialista em sono. O diagnóstico precoce pode prevenir danos cardiovasculares e melhorar significativamente a qualidade de vida.
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