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Sono e aprendizagem: como o cérebro escolhe o que lembrar e esquecer enquanto dormimos
Dormir bem não é apenas descansar o corpo. Durante o sono, o cérebro trabalha intensamente para organizar as lembranças do dia (reforçando algumas e apagando outras). Essa é a base de uma nova pesquisa publicada na revista Frontiers in Behavioral Neuroscience, que ajuda a entender melhor a relação entre sono e aprendizagem.
O estudo mostra que nossas intenções conscientes têm mais peso do que as emoções na hora de consolidar memórias.
O cérebro escolhe o que vale a pena lembrar
Pesquisadores do Merrimack College, nos EUA, investigaram o que acontece quando a emoção e a intenção disputam espaço na nossa memória.
Ao contrário do senso comum, não é a carga emocional de um evento que garante que ele será lembrado, mas sim a decisão consciente de guardá-lo.
Como o estudo foi realizado:
- Participantes visualizaram palavras (neutras e com conteúdo emocional negativo).
- Eles receberam instruções específicas para lembrar algumas e esquecer outras.
- Após 12 horas (que incluíram uma noite de sono para parte do grupo), a memória foi testada.
Resultado: As palavras marcadas como “para lembrar” foram mais recordadas, independentemente de serem emocionais ou neutras. O comando de “esquecer” também foi eficaz, mesmo para palavras negativas.
Dormir ajuda, mas de forma seletiva
Embora o estudo explore a relação entre sono e aprendizagem, os pesquisadores não encontraram uma diferença significativa no desempenho geral de memória entre quem dormiu e quem ficou acordado.
Isso não significa que dormir não faz diferença, e sim que o sono atua de forma mais sutil, ajudando o cérebro a ser mais seletivo.
Entre os participantes que dormiram e tiveram o sono monitorado com sensores cerebrais (EEG, um exame que registra a atividade elétrica do cérebro durante o sono), os cientistas observaram algo fascinante.
Certos estágios do sono estavam ligados a tipos específicos de lembranças.
- Fusos do sono — pequenos surtos de ondas cerebrais — foram associados à melhor recordação de palavras emocionais que as pessoas haviam escolhido lembrar.
- Já o sono profundo, conhecido como sono de ondas lentas, se relacionou à diminuição do acesso a memórias em geral, sugerindo que o cérebro também usa essa fase para “limpar” informações desnecessárias.
Um filtro inteligente durante o descanso
Essas descobertas reforçam a ideia de que o cérebro, durante o sono, age como um editor cuidadoso; ele mantém o que é útil e apaga o que não é.
Essa seletividade ajuda a explicar por que dormir depois de estudar melhora o aprendizado. Não porque o sono grava tudo, mas porque ele reforça o que consideramos mais importante.
Além disso, o estudo identificou que a fase REM, aquela em que ocorrem os sonhos, está ligada à tendência de misturar lembranças emocionais.
Isso pode explicar por que sonhamos com versões simbólicas ou distorcidas de experiências reais.
Sono e aprendizagem: por que isso é importante para você
Entender essa conexão tem aplicações práticas que vão da sala de aula à saúde mental.
Esses achados podem inspirar novas formas de otimizar técnicas de estudo, reduzir o impacto de lembranças traumáticas e desenvolver tratamentos voltados a distúrbios do sono e da memória.
Como explica a líder da pesquisa, Laura Kurdziel, nossas intenções conscientes parecem guiar o cérebro mesmo enquanto dormimos.
A lição final é a de que se você quer aprender algo de verdade, preste atenção e tenha a intenção de guardar aquela informação. Depois, durma bem, pois seu cérebro saberá o que fazer.
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