Baixos níveis de vitamina D na infância podem prejudicar a saúde do coração na vida adulta

Estudo finlandês associa deficiência de vitamina D na infância a maior risco de doenças cardiovasculares na idade adulta. Entenda os mecanismos e como a prevenção precoce pode fazer a diferença.

A vitamina D, conhecida por seu papel na saúde óssea e no sistema imunológico, pode ter um impacto ainda mais profundo no organismo—especialmente no coração.

Uma pesquisa recente, publicada no European Journal of Preventive Cardiology, revelou que crianças com níveis insuficientes de vitamina D apresentam maior risco de desenvolver doenças cardiovasculares precoces na vida adulta.

O estudo, conduzido na Finlândia, acompanhou participantes por décadas e encontrou uma relação significativa entre a deficiência de vitamina D na infância e o surgimento de aterosclerose e eventos cardiovasculares anos depois.

Os resultados sugerem que garantir níveis adequados desse nutriente desde cedo pode ser uma estratégia importante para proteger a saúde do coração no futuro.

A conexão entre vitamina D e doenças cardiovasculares

Estudos anteriores em adultos já haviam indicado que baixos níveis de vitamina D estão associados a um maior risco de infarto, acidente vascular cerebral (AVC) e outras complicações cardiovasculares. No entanto, a nova pesquisa investigou se essa relação começa ainda na infância—e os resultados são preocupantes.

Os pesquisadores analisaram dados de 3.516 participantes do Cardiovascular Risk in Young Finns Study, um estudo de longo prazo que acompanhou indivíduos desde a infância até a meia-idade.

Amostras de sangue coletadas em 1980, quando os voluntários tinham entre 3 e 18 anos, foram analisadas para medir os níveis de 25-hidroxivitamina D (25-OH-vitamina D), a forma circulante da vitamina D no organismo.

Ao cruzar esses dados com registros de saúde nacionais até 2018, os cientistas descobriram que:

  • Crianças com níveis de vitamina D abaixo de 37 nmol/L tiveram risco significativamente maior de desenvolver doenças cardiovasculares na vida adulta.
  • Aqueles com concentrações inferiores a 35 nmol/L apresentaram mais que o dobro do risco de eventos cardiovasculares precoces.
  • A associação permaneceu mesmo após ajustes para fatores como obesidade, pressão arterial, colesterol e hábitos de vida.

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Por que a vitamina D é tão importante para o coração?

A vitamina D não age apenas nos ossos—ela desempenha um papel crucial na regulação de processos inflamatórios, na função vascular e no controle da pressão arterial. Alguns mecanismos que explicam sua relação com a saúde cardiovascular incluem:

1. Efeito Anti-Inflamatório

A vitamina D ajuda a modular a resposta inflamatória do organismo. Níveis baixos estão associados a um aumento na inflamação crônica, um fator conhecido para o desenvolvimento de aterosclerose (acúmulo de placas nas artérias).

2. Proteção Vascular

Receptores de vitamina D estão presentes em células das paredes dos vasos sanguíneos. A forma ativa da vitamina ajuda a manter a elasticidade arterial e pode retardar o enrijecimento das artérias, um marcador precoce de doenças cardiovasculares.

3. Regulação da Pressão Arterial

Estudos sugerem que a vitamina D influencia a produção de renina, uma enzima que controla a pressão sanguínea. Deficiências podem contribuir para hipertensão, um dos principais fatores de risco para infarto e AVC.

O que esses resultados significam na prática?

Os achados reforçam a importância de monitorar e manter níveis adequados de vitamina D desde a infância. Apesar de o estudo não estabelecer uma relação de causa e efeito (por ser observacional), ele aponta para uma associação consistente e independente de outros fatores de risco.

Recomendações para prevenção

  • Exposição solar moderada: A principal fonte de vitamina D é a síntese cutânea após exposição ao sol. Crianças devem passar algum tempo ao ar livre, com proteção adequada.
  • Alimentação rica em vitamina D: Peixes gordurosos (salmão, atum), gema de ovo, leite fortificado e cogumelos são boas fontes.
  • Suplementação quando necessário: Em regiões com pouca luz solar ou em casos de deficiência comprovada, um profissional de saúde pode indicar suplementos.

Limitações e próximos passos

Apesar de robusto, o estudo tem algumas limitações:

  • A população analisada era majoritariamente de origem europeia, o que pode limitar a generalização para outros grupos étnicos.
  • Como os participantes ainda eram relativamente jovens no acompanhamento (idade média de 47 anos), mais pesquisas são necessárias para avaliar o impacto em idades mais avançadas.
  • São necessários ensaios clínicos randomizados para confirmar se a suplementação infantil pode, de fato, reduzir o risco cardiovascular na vida adulta.

A deficiência de vitamina D na infância pode ser um marcador precoce de risco cardiovascular, e sua correção pode representar uma estratégia simples e de baixo custo para prevenir doenças no futuro.

Enquanto novas pesquisas são conduzidas, garantir que as crianças tenham níveis adequados desse nutriente é um passo importante para um coração saudável ao longo da vida.

Fonte:European Journal of Preventive Cardiology (2023). Estudo prospectivo com dados do Cardiovascular Risk in Young Finns Study.

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Elizandra Civalsci Costa
Elizandra Civalsci Costa

Farmacêutica (CRF MT n° 3490) pela Universidade Estadual de Londrina e Especialista em Farmácia Hospitalar e Oncologia pelo Hospital Erasto Gaertner. - Curitiba PR. Possui curso em Revisão de Conteúdo para Web pela Rock Content University e Fact Checker pela poynter.org. Contato (65) 99813-4203

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