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Herbicida mais utilizado no mundo, glifosato foi associado à neurodegeneração em estudo científico
Uma nova pesquisa revelou que a exposição crônica ao glifosato, o herbicida mais amplamente utilizado globalmente, pode estar diretamente associada ao aumento do risco de desenvolvimento da doença de Alzheimer.
De acordo com os pesquisadores, a exposição, mesmo em níveis considerados seguros pelas autoridades reguladoras, provocou alterações neuroinflamatórias e uma aceleração da patologia característica da doença de Alzheimer em camundongos.
Surpreendentemente, os efeitos persistiram por até seis meses após a interrupção da exposição. A descoberta levanta sérias questões sobre os impactos a longo prazo do glifosato no cérebro humano, além de reforçar o debate sobre os limites da exposição ao herbicida.
Este estudo foi publicado em 4 de dezembro no periódico Journal of Neuroinflammation e sugere a necessidade de mais investigações para compreender plenamente os efeitos do glifosato na saúde cerebral.
Glifosato: o herbicida mais utilizado e seus potenciais riscos à saúde
O glifosato é, sem dúvida, o herbicida mais utilizado em todo o mundo. Nos Estados Unidos, por exemplo, aproximadamente 136 mil toneladas do produto são aplicadas anualmente em diversas áreas agrícolas, além de ser utilizado em parques e jardins residenciais.
Embora a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA) tenha declarado que o uso do glifosato, quando realizado conforme as instruções de segurança, não representa riscos à saúde humana, sua classificação pela Agência Internacional de Pesquisa sobre Câncer (IARC), da Organização Mundial da Saúde (OMS), levanta preocupações.
Em 2015, a IARC classificou o glifosato como “possivelmente carcinogênico para seres humanos”, desencadeando um debate global sobre os efeitos do produto.
Além da possível relação com o câncer, evidências crescentes indicam que o glifosato pode ter impactos negativos no sistema nervoso central.
Em estudos anteriores, o Dr. Ramon Velazquez e seus colaboradores demonstraram que o glifosato tem a capacidade de atravessar a barreira hematoencefálica, estrutura protetora que separa o cérebro da corrente sanguínea, podendo infiltrar-se diretamente no cérebro.
Esse processo pode levar à neuroinflamação, um fator chave no desenvolvimento de doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer.
Exposição ao glifosato e os impactos neuroinflamatórios
O estudo realizado pelos pesquisadores da Arizona State University observou que camundongos expostos ao glifosato, mesmo em níveis abaixo dos limites considerados seguros por organismos reguladores, apresentaram um aumento significativo na neuroinflamação e evidências de patologia acelerada semelhante à da doença de Alzheimer.
Os pesquisadores notaram que esses efeitos não foram temporários, com a neuroinflamação persistindo por até seis meses após a interrupção da exposição.
Os camundongos que participaram do estudo foram expostos ao glifosato em doses que estão dentro dos níveis considerados aceitáveis pela EPA. No entanto, os resultados indicaram que esses níveis ainda podem ser suficientes para causar danos ao cérebro, especialmente a longo prazo.
As alterações observadas nas células cerebrais foram compatíveis com os sintomas observados em estágios iniciais da doença de Alzheimer, o que levanta questões sérias sobre a exposição crônica ao herbicida e seu papel em condições neurodegenerativas.
Os pesquisadores, liderados pelo Dr. Ramon Velazquez, alertam que mais estudos são essenciais para determinar os efeitos do glifosato no cérebro humano, além de identificar a dose segura para limitar esses riscos.
Embora o estudo tenha sido realizado em camundongos, os cientistas destacam que os resultados indicam a necessidade de uma análise mais profunda sobre a segurança do uso prolongado do glifosato, especialmente em áreas residenciais e rurais.
Consequências a longo prazo e necessidade de mais estudos
Apesar dos resultados iniciais, o estudo levanta mais questões do que respostas definitivas.
Os efeitos observados nos camundongos são significativos, mas a extrapolação para os seres humanos exige uma investigação mais aprofundada, considerando as diferentes variáveis, como o tempo de exposição e as doses a que a população humana pode ser submetida.
Para os cientistas, uma das grandes preocupações é a persistência dos efeitos da neuroinflamação, que podem se acumular ao longo do tempo e contribuir para o desenvolvimento de doenças degenerativas.
A exposição ao glifosato, especialmente em áreas onde o uso do herbicida é elevado, precisa ser monitorada de perto. A combinação da alta incidência de uso do glifosato com os possíveis riscos para a saúde cerebral gera um alerta sobre a necessidade de políticas públicas mais rigorosas, além de uma maior conscientização pública sobre os riscos de exposição.
Embora o glifosato seja considerado seguro por alguns órgãos, as descobertas desse estudo sugerem que deve haver uma reavaliação dos parâmetros de segurança e da regulamentação do produto, a fim de proteger a saúde pública, especialmente no que se refere a doenças neurodegenerativas.
A urgência de mais pesquisas sobre os efeitos do glifosato no cérebro humano
O estudo sobre os efeitos do glifosato no cérebro humano abre novas perspectivas para a compreensão dos impactos ambientais e químicos na saúde neurológica.
Embora o herbicida seja amplamente utilizado na agricultura e em ambientes urbanos, os dados indicam que sua exposição crônica pode ter efeitos prejudiciais a longo prazo, especialmente no que se refere a condições neurodegenerativas como o Alzheimer.
A persistência da neuroinflamação, observada mesmo após a interrupção da exposição, é um sinal de alerta que não pode ser ignorado.
Os pesquisadores enfatizam que mais estudos são necessários para compreender completamente as consequências dessa exposição e para definir os limites de segurança que protejam a saúde humana, sobretudo no que se refere à saúde cerebral.
O debate sobre a segurança do glifosato continua, e esse estudo reforça a urgência de se reconsiderar as diretrizes de exposição e os regulamentos para garantir que os riscos para a saúde pública sejam minimizados.
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Fonte: Medscape