Não basta cortar carboidratos: por que a qualidade dos alimentos na dieta low carb faz toda a diferença

Dietas com baixo teor de carboidratos têm sido adotadas por milhões de pessoas no mundo inteiro em busca de emagrecimento e melhor saúde metabólica.

No entanto, uma nova pesquisa de longo prazo traz um alerta importante: não basta reduzir a quantidade de carboidratos, é fundamental prestar atenção à qualidade dos alimentos escolhidos.

A substituição de carboidratos refinados por fontes mais nutritivas pode ter um impacto direto na redução da inflamação crônica — um dos principais fatores de risco para doenças como diabetes tipo 2, obesidade, doenças cardiovasculares e até alguns tipos de câncer.

O estudo, publicado recentemente na revista científica Current Developments in Nutrition, analisou dados de mais de dois mil participantes e reforça uma ideia cada vez mais clara na nutrição moderna: o que você escolhe para colocar no prato importa tanto quanto o que você tira dele.

Dietas low carb: uma abordagem nem sempre uniforme

As dietas low carb, ou com baixo teor de carboidratos, são amplamente conhecidas e utilizadas por promoverem a perda de peso e o controle glicêmico.

Contudo, muitas pessoas que seguem esse tipo de alimentação acabam focando exclusivamente na quantidade de carboidratos ingeridos, ignorando a procedência e a qualidade desses alimentos.

Carboidratos de baixa qualidade — como pães brancos, refrigerantes, biscoitos recheados e outros produtos ultraprocessados — são pobres em fibras, perdem nutrientes no processo de refino e tendem a gerar picos de glicose no sangue.

Além disso, estão associados à formação de compostos inflamatórios que podem acelerar o desenvolvimento de doenças crônicas.

Por outro lado, carboidratos de alta qualidade — como frutas frescas, vegetais, grãos integrais, leguminosas e oleaginosas — são fontes ricas de fibras, antioxidantes e compostos anti-inflamatórios. Mesmo dentro de uma dieta com restrição de carboidratos, essas opções podem e devem ser priorizadas.

O que mostrou o novo estudo

A pesquisa utilizou dados do Framingham Heart Study, uma das coortes mais reconhecidas na área de saúde cardiovascular, e acompanhou cerca de 2.225 pessoas ao longo de quase sete anos.

O objetivo foi avaliar como diferentes padrões de dieta low carb, levando em conta a qualidade dos carboidratos consumidos, impactam marcadores de estresse oxidativo e inflamação no organismo.

Para isso, os pesquisadores criaram dois escores distintos:

  • HQ-LCDS (High-Quality Low-Carbohydrate Diet Score): representava uma alimentação com baixo teor de carboidratos refinados e maior presença de alimentos integrais e naturais.
  • LQ-LCDS (Low-Quality Low-Carbohydrate Diet Score): indicava dietas com menor consumo total de carboidratos, mas com maior presença de alimentos de baixa qualidade, como bebidas açucaradas e produtos refinados.

Também foi avaliado um escore total de dieta low carb (T-LCDS), que não diferenciava a qualidade dos alimentos, apenas a redução geral de carboidratos.

Os participantes foram submetidos a exames periódicos, onde foram analisados diversos biomarcadores inflamatórios, incluindo proteína C-reativa, interleucina-6, MCP-1, ICAM-1, entre outros. O objetivo era identificar como esses marcadores se alteravam ao longo dos anos, de acordo com os padrões alimentares adotados.

Resultados consistentes: menos inflamação com melhores escolhas

Os dados foram claros: pessoas que seguiram dietas low carb com ênfase em carboidratos de melhor qualidade apresentaram redução significativa nos níveis de inflamação ao longo do tempo.

O grupo com maior adesão ao HQ-LCDS teve uma diminuição de 0,31 pontos no escore inflamatório total, o que, segundo os autores, pode representar uma melhora clínica relevante na saúde metabólica.

Em contrapartida, os participantes que consumiam menos carboidratos, mas priorizavam opções refinadas ou ultraprocessadas (maior adesão ao LQ-LCDS), não tiveram benefícios na redução da inflamação.

Em alguns casos, houve até mesmo aumento de marcadores inflamatórios específicos, como o MCP-1 e o LPL-A2.

Esses achados reforçam a necessidade de considerar a qualidade dos alimentos ao montar uma dieta com restrição de carboidratos. Não se trata apenas de cortar pães ou massas, mas de substituir os alimentos certos, privilegiando fontes naturais, ricas em nutrientes e fibras.

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Biomarcadores que ajudam a entender a inflamação silenciosa

O estudo avaliou uma variedade de biomarcadores inflamatórios, que são substâncias presentes no sangue e que indicam processos inflamatórios no organismo, mesmo quando não há sintomas visíveis. Entre os principais marcadores analisados estavam:

  • Proteína C-reativa (PCR): um dos indicadores mais conhecidos de inflamação sistêmica. Níveis elevados estão associados a risco aumentado de doenças cardiovasculares e metabólicas.
  • Interleucina-6 (IL-6): citocina pró-inflamatória ligada a resistência à insulina e obesidade.
  • MCP-1 (proteína quimioatraente de monócitos-1): envolvida na ativação do sistema imunológico e recrutamento de células de defesa, podendo contribuir para a formação de placas de gordura nas artérias.
  • ICAM-1 (molécula de adesão intercelular-1): associada a processos inflamatórios crônicos e lesões vasculares.
  • LPL-A2 (lipoproteína fosfolipase A2): considerada um marcador emergente de risco cardiovascular.

De forma geral, os participantes com maior adesão à dieta low carb de alta qualidade (HQ-LCDS) tiveram reduções significativas nesses marcadores, enquanto os que seguiram dietas low carb com alimentos de baixa qualidade não apresentaram melhora — e, em alguns casos, até mostraram piora nos níveis inflamatórios.

O que está por trás da resposta inflamatória

A explicação para esses resultados está nos mecanismos biológicos que regulam a inflamação crônica.

Alimentos ultraprocessados, ricos em açúcares simples e pobres em fibras, favorecem a liberação contínua de glicose no sangue, aumentando a produção de insulina e promovendo o acúmulo de gordura visceral — um dos maiores gatilhos para a inflamação silenciosa.

Além disso, esses alimentos estimulam a formação de produtos finais de glicação avançada (AGEs), compostos que danificam células e tecidos e ativam o sistema imunológico de forma contínua. A longo prazo, esse processo inflamatório pode levar ao desenvolvimento de diversas doenças.

Por outro lado, alimentos ricos em fibras, compostos fenólicos, antioxidantes e ácidos graxos insaturados — como os encontrados em frutas, vegetais, leguminosas e nozes — possuem efeito anti-inflamatório e ajudam a modular positivamente a microbiota intestinal, outro fator essencial para a regulação do sistema imunológico.

Prática importa mais do que teoria: o que isso significa no dia a dia

Esse estudo reforça um ponto crucial para profissionais de saúde e para quem está em busca de uma alimentação mais equilibrada: não basta restringir os carboidratos, é preciso escolher melhor os alimentos que entram no lugar.

A seguir, veja exemplos de trocas que fazem a diferença:

🚫 Evite✅ Prefira
Pães brancos, bolos e biscoitosPão integral 100%, aveia, batata-doce
Refrigerantes e sucos industrializadosÁgua com limão, chá natural sem açúcar
Arroz branco polidoArroz integral, quinoa, lentilhas
Barras de cereais com açúcarCastanhas, amêndoas, frutas secas sem adição de açúcar
Embutidos e carnes processadasOvos, frango, peixes, tofu

 

Ou seja, uma dieta low carb não deve ser sinônimo de excesso de carnes gordurosas ou produtos industrializados “sem açúcar”, mas sim uma alimentação equilibrada, com fontes naturais de gordura boa, proteínas magras e carboidratos nutritivos em menor quantidade.

Impacto na saúde pública e no aconselhamento nutricional

Para os profissionais de saúde, essa pesquisa traz implicações práticas importantes. Muitas vezes, ao orientar pacientes sobre dietas com baixo teor de carboidratos, o foco recai apenas na contagem de gramas ou na exclusão de determinados alimentos.

Contudo, estudos como esse mostram que a educação nutricional precisa ir além da matemática alimentar e incluir conceitos de qualidade, densidade nutricional e impacto inflamatório dos alimentos.

Isso se aplica especialmente no acompanhamento de pacientes com doenças crônicas, resistência à insulina, síndrome metabólica e obesidade, onde a inflamação de baixo grau tem papel central.

Qualidade é a chave

A principal mensagem que o novo estudo traz é clara: a qualidade dos alimentos importa — e muito. Dietas com baixo teor de carboidratos podem ser benéficas, mas apenas quando construídas com base em alimentos integrais, naturais e nutritivos.

Reduzir o consumo de carboidratos refinados é um passo importante, mas precisa vir acompanhado de escolhas alimentares mais conscientes.

Para quem busca emagrecer com saúde, controlar o diabetes, reduzir o colesterol ou simplesmente melhorar a qualidade de vida, o segredo está menos em seguir rótulos alimentares e mais em adotar uma alimentação real, simples e baseada em comida de verdade.

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Elizandra Civalsci Costa
Elizandra Civalsci Costa

Farmacêutica (CRF MT n° 3490) pela Universidade Estadual de Londrina e Especialista em Farmácia Hospitalar e Oncologia pelo Hospital Erasto Gaertner. - Curitiba PR. Possui curso em Revisão de Conteúdo para Web pela Rock Content University e Fact Checker pela poynter.org. Contato (65) 99813-4203

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