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Quando o medo fala mais alto que a fome: o que a ciência descobriu sobre a anorexia nervosa
Sentir medo ou apreensão é uma reação natural do corpo. Mas o que acontece quando a ansiedade é tão intensa que até o ato de comer parece uma ameaça?
Uma pesquisa publicada na revista Nature Neuroscience trouxe novas pistas sobre como o cérebro lida com esse dilema, e o resultado pode mudar o modo como entendemos a relação entre ansiedade e alimentação.
O estudo ajuda a explicar por que, em transtornos como a anorexia nervosa, o medo de comer pode se sobrepor à fome. Mostra, ainda, como certas áreas do cérebro tentam equilibrar essas duas forças (o instinto de se proteger e a necessidade de se alimentar).
Quando a ansiedade “trava” o apetite
Em momentos de medo, o cérebro aciona um modo de alerta.
Ele concentra energia na sobrevivência e “pausa” tudo o que não parece essencial, inclusive comer. É por isso que muitas pessoas perdem o apetite em situações de estresse.
Os cientistas observaram que, quando a ansiedade está muito alta, o cérebro passa a reagir como se tudo fosse uma ameaça.
Isso faz com que os circuitos responsáveis por controlar a fome e o medo entrem em conflito.
Nos experimentos, camundongos colocados em ambientes que provocavam medo (como áreas abertas e muito iluminadas) deixavam de explorar e de se alimentar.
Mas quando os pesquisadores ativaram artificialmente os neurônios sensíveis à leptina (um hormônio ligado à saciedade), os animais voltaram a comer, mesmo em situações que normalmente gerariam ansiedade.
Em outras palavras, esses neurônios ajudaram o cérebro a “superar o medo” e a manter o comportamento alimentar, um mecanismo essencial para garantir a sobrevivência, mesmo sob estresse.
Ansiedade e anorexia nervosa: quando o medo e a alimentação se misturam
Os pesquisadores também testaram esse mesmo circuito em um modelo animal de anorexia nervosa, um transtorno marcado pela restrição alimentar e pelo medo intenso de engordar.
Eles descobriram que ativar os neurônios sensíveis à leptina reduzia o medo e permitia que os animais voltassem a comer, mesmo em situações estressantes.
Esses achados reforçam a ideia de que ansiedade e alimentação estão profundamente conectadas.
Em pessoas com anorexia nervosa, é possível que alterações semelhantes no cérebro dificultem a distinção entre perigo real e o simples ato de se alimentar, mantendo o ciclo de restrição e ansiedade.
Ansiedade e alimentação: um novo olhar sobre o cérebro, a fome e o medo
O estudo abre caminho para novas abordagens terapêuticas que considerem não apenas o aspecto emocional, mas também os circuitos cerebrais que ligam a leptina, o hipotálamo e as áreas do cérebro associadas à ansiedade.
Compreender melhor essas conexões pode ajudar a desenvolver tratamentos mais eficazes para distúrbios como a anorexia nervosa, em que comer se torna um ato cercado de medo.
No fim das contas, o equilíbrio entre ansiedade e alimentação é mais do que uma questão emocional, é uma negociação constante dentro do cérebro.
Comer bem, no sentido físico e emocional, depende de um sistema nervoso capaz de harmonizar os instintos de proteção com a necessidade de nutrir o corpo.
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