O risco invisível na alimentação infantil que poucos países acompanham

A contaminação em alimentos infantis voltou a ganhar força no debate científico, impulsionada por novos dados globais que expõem a dimensão do problema.

Uma revisão publicada na revista Nutrition Reviews analisou 75 estudos de diversos países, envolvendo 580 papinhas e 251 fórmulas infantis, e encontrou um cenário que exige atenção.

A presença de metais pesados como chumbo, arsênio, cádmio e mercúrio é muito mais comum do que se imaginava.

Esses achados preocupam porque bebês constituem um grupo extremamente vulnerável. Eles têm órgãos ainda imaturos, metabolismo acelerado e consomem mais alimento por quilo de peso do que um adulto.

Isso significa que mesmo pequenas quantidades de metais pesados podem representar riscos proporcionais maiores.

Contaminação em alimentos: quando o prato do bebê se torna uma fonte de exposição

A revisão revelou que mais de 60% das papinhas e fórmulas avaliadas apresentavam chumbo, arsênio ou cádmio, enquanto o mercúrio apareceu em cerca de um terço das papinhas e em mais de 40% das fórmulas.

Os produtos mais afetados foram justamente aqueles consumidos cedo na introdução alimentar:

  • Papinhas de arroz e misturas com arroz → destaque para a presença de arsênio e chumbo
  • Misturas com peixe → maiores índices de arsênio e mercúrio
  • Cereais infantis → principais fontes de cádmio

O estudo também constatou que diversos itens ultrapassaram os limites internacionais recomendados, especialmente para chumbo, arsênio e cádmio.

Em alguns grupos, como papinhas com peixe, até 89% das amostras excederam o limite de arsênio.

Por que isso acontece?

Há vários caminhos possíveis de contaminação:

  • Solo e água podem conter metais pesados; o arroz, por exemplo, absorve arsênio com facilidade.
  • Ambientes aquáticos contaminados explicam a presença de mercúrio e arsênio em produtos à base de peixe.
  • Processos industriais, equipamentos e até embalagens (plástico, metal, vidro) também podem contribuir, embora não sejam a principal fonte.

O estudo lembra que não existe um nível seguro de chumbo, e que arsênio inorgânico (comum em produtos de arroz) é especialmente preocupante.

O alerta sobre fórmulas de primeiros estágios

Um dos achados mais sensíveis é que fórmulas infantis de estágio 1 e 2, destinadas a bebês com até 12 meses, foram justamente as que mais ultrapassaram limites para arsênio, chumbo e cádmio.

Ou seja, a exposição pode começar antes mesmo da introdução de papinhas e sólidos, apenas com o uso de fórmulas.

O estudo reforça ainda que fórmulas com composição não especificada e algumas versões especiais (como as baseadas em soja) apresentaram porcentagens altas de detecção de chumbo, arsênio e cádmio.

O que os pais podem fazer?

A revisão não tem o propósito de gerar alarme, mas reforça que informação de qualidade empodera escolhas.

Entre as orientações possíveis:

  • Diversificar o cardápio do bebê, evitando depender sempre dos mesmos alimentos.
  • Priorizar alimentos frescos, preparados em casa com água filtrada.
  • Preferir marcas com transparência sobre testes de metais pesados.

O estudo aponta também um problema global.

Poucos países publicam relatórios nacionais regulares sobre contaminação em alimentos infantis, o que mantém parte do risco invisível e dificulta ações de vigilância.

Enquanto legislações não avançam, pais e cuidadores devem seguir buscando opções mais seguras, e, para isso, o acesso a boas informações é essencial.

Leitura Recomendada: Monitoramento, alimentação e riscos: o que há de novo no manual da OMS para diabetes na gravidez

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Michele Azevedo
Michele Azevedo

Formada em Letras - Português/ Inglês, pós-graduada em Arte na Educação e Psicopedagogia Escolar, idealizadora do site Escritora de Sucesso, empresária, redatora e revisora dos conteúdos do SaúdeLab.

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