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Sequelas de AVC nos olhos podem melhorar? Este estudo diz que sim
Quando falamos em sequelas de AVC nos olhos, muita gente imagina que o problema está diretamente no globo ocular. Mas, na realidade, a maior parte dessas alterações visuais acontece porque o AVC danifica áreas do cérebro responsáveis por interpretar o que os olhos captam.
O resultado? Perdas no campo visual que dificultam tarefas simples, como ler, atravessar a rua ou perceber movimentos ao lado do corpo.
No entanto, um estudo publicado em 17 de novembro na revista Brain traz uma notícia animadora.
É que pesquisadores de instituições suíças, francesas e americanas testaram uma técnica inovadora de estimulação cerebral e observaram ganhos reais na visão de pessoas que perderam parte do campo visual após um AVC.
Uma esperança para quem convive com “apagões” na visão após o AVC
Entre as sequelas de AVC nos olhos mais comuns está a hemianopia, que é quando metade do campo visual de ambos os olhos deixa de enxergar.
O impacto na vida diária é profundo.
Dirigir se torna impossível, e até caminhar em ambientes movimentados vira um desafio.
O novo estudo indica que isso pode mudar.
Os cientistas combinaram um treino visual, baseado em identificar movimentos de pontos na tela, com uma tecnologia chamada estimulação cerebral de frequência cruzada.
Essa técnica aplica correntes elétricas muito fracas em duas áreas do cérebro que trabalham juntas na interpretação do movimento.
O objetivo é ajudar essas regiões a “conversarem melhor”.
No AVC, essa comunicação costuma ficar prejudicada.
A técnica, por sua vez, funcionaria como um “ritmo guiado”, sincronizando os sinais cerebrais e facilitando o reaprendizado visual.
Sequelas de AVC nos olhos: como foi o experimento e o que os pacientes sentiram
Foram recrutadas 16 pessoas com perda significativa do campo visual após um AVC.
Quinze completaram a fase principal do protocolo.
Durante 10 dias consecutivos, os voluntários realizaram o treino visual enquanto recebiam a versão da estimulação que favorece a comunicação entre as áreas visuais.
Em outro período, passaram pelo mesmo treino, mas com um tipo de estímulo que não reforça essa comunicação, servindo como condição de comparação.
O resultado foi consistente.
Quando a estimulação correta era aplicada, os pacientes aprendiam mais rápido a identificar movimentos e apresentavam expansão real da área visual perdida.
Em alguns casos, os primeiros sinais de melhora apareciam por volta da primeira semana; ritmo mais rápido do que o normalmente observado apenas com treino intensivo.
Um dos participantes relatou que voltou a enxergar o braço da esposa enquanto estava no banco do passageiro. Um detalhe simples, mas extremamente significativo na prática.
Por que essa técnica funciona tão bem
Quando o AVC afeta a região occipital, responsável pelo processamento visual, parte das conexões cerebrais é perdida. Porém, muitos neurônios sobrevivem, só que passam a funcionar de maneira descoordenada.
A estimulação aplicada no estudo ajuda a sincronizar a atividade dessas células, criando condições mais favoráveis para o cérebro reaprender habilidades visuais.
Dessa forma, o treino ganha mais eficácia e os resultados aparecem mais rapidamente.
O que este avanço significa para quem tem perda visual pós-AVC
Embora os resultados sejam promissores, trata-se de um estudo pequeno, e ainda não se sabe quanto tempo as melhorias duram.
Assim, são necessários estudos maiores e com acompanhamento prolongado antes que a técnica possa ser oferecida em hospitais e clínicas.
Mesmo assim, o achado é animador. Pela primeira vez, uma intervenção não invasiva mostrou potencial para acelerar a recuperação de áreas do campo visual perdidas há meses ou até anos.
Para quem convive com sequelas de AVC nos olhos, esse avanço abre uma nova perspectiva, a de que a visão pode, sim, melhorar com estímulos certos.
E a ciência está cada vez mais próxima de transformar isso em realidade clínica.
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