E se remédios de Alzheimer ajudassem no autismo? A ciência investiga

Uma nova revisão científica reacendeu o debate sobre o que, no futuro, pode ser considerado medicação para autismo. A análise, publicada em 17 de novembro na revista Translational Psychiatry, avaliou 12 estudos que investigaram medicamentos originalmente desenvolvidos para Alzheimer em crianças e adolescentes com TEA e QI abaixo da média.

Os trabalhos apontam sinais de melhora em linguagem, atenção e memória, áreas que costumam trazer grandes desafios às famílias.

A questão central é inevitável, até que ponto medicamentos criados para outra condição neurológica podem, um dia, integrar o arsenal terapêutico do autismo? A resposta ainda não existe, mas a ciência começa a explorar esse caminho com mais profundidade.

Por que estudar remédios de Alzheimer em crianças com TEA?

A ideia pode parecer inesperada, mas tem fundamento biológico.

Tanto o Alzheimer quanto o transtorno do espectro autista envolvem alterações em circuitos cerebrais ligados à comunicação, ao processamento de informações e ao aprendizado.

Em alguns casos, essas condições compartilham vias neurológicas associadas à memória e à plasticidade neural.

Isso significa que medicamentos testados há décadas em idosos podem, teoricamente, ajudar crianças cujo desenvolvimento cognitivo é afetado por mecanismos semelhantes.

Atualmente, não existe medicamento aprovado para melhorar habilidades cognitivas no autismo.

As opções disponíveis tratam apenas sintomas como irritabilidade.

Por isso, estudos que investigam efeitos em linguagem, atenção e memória chamam tanta atenção.

O que o estudo investigou

A revisão reuniu 353 crianças e adolescentes com TEA e QI abaixo de 85. Os pesquisadores analisaram duas classes de medicamentos:

  • Inibidores de colinesterase, como donepezila e rivastigmina;
  • Antagonistas do receptor NMDA, como a memantina.

Ambas atuam em sistemas cerebrais ligados ao aprendizado e ao processamento de informações; áreas essenciais para o desenvolvimento infantil.

O que os pesquisadores encontraram

Os estudos avaliados são pequenos e variados, o que impede conclusões definitivas.

Ainda assim, o conjunto das evidências aponta sinais de benefício em alguns domínios importantes:

  • Linguagem: cerca de 60% dos estudos registraram avanços em vocabulário ou compreensão.
  • Atenção e funções executivas: redução de hiperatividade e melhor organização de tarefas.
  • Aprendizado e memória: melhora observada em todos os estudos que analisaram esse domínio, especialmente com memantina.
  • Habilidades visuoespaciais e motoras: evolução em testes de percepção e coordenação.
  • QI verbal: alguns trabalhos registraram aumento significativo.

Os pesquisadores ainda encontraram algo que chamou a atenção.

Eles observaram que as crianças mais novas costumam ter resultados melhores do que os adolescentes.

Isso acontece porque, nas primeiras fases da vida, o cérebro é mais “maleável” e aprende com mais facilidade, o que aumenta as chances de resposta quando o tratamento é iniciado cedo.

O que esses resultados significam

Apesar das perspectivas animadoras, os autores alertam que se trata de uma área em construção.

As amostras são pequenas, as metodologias variam e nenhum desses medicamentos é aprovado como medicação para autismo.

Isso significa que o uso clínico deve ser cauteloso e sempre acompanhado por profissionais especializados.

Ainda assim, a revisão cumpre um papel importante, abrindo novas linhas de investigação e mostrando que há espaço para desenvolver, no futuro, terapias capazes de apoiar habilidades cognitivas que hoje têm poucas opções de tratamento.

Para famílias e profissionais, o estudo oferece um retrato do que há de mais atual na pesquisa sobre autismo.

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Michele Azevedo
Michele Azevedo

Formada em Letras - Português/ Inglês, pós-graduada em Arte na Educação e Psicopedagogia Escolar, idealizadora do site Escritora de Sucesso, empresária, redatora e revisora dos conteúdos do SaúdeLab.

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