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O erro silencioso por trás da dieta para lipedema
Falar em dieta para lipedema vai muito além de contar calorias.
Para mulheres que convivem com essa condição crônica (marcada pelo acúmulo doloroso de gordura, principalmente nas pernas e nos braços) a relação com a comida costuma ser atravessada por dor, frustração e tentativas repetidas de emagrecimento que nem sempre funcionam.
Um novo estudo publicado na revista científica Frontiers in Nutrition lança nova luz sobre essa discussão ao investigar como diferentes estratégias alimentares influenciam a fome emocional, o apetite e o comportamento alimentar em mulheres com lipedema e obesidade.
Os achados ajudam a explicar por que, para muitas delas, “comer menos” não é uma solução simples.
Quando a vontade de comer não vem do estômago
Os pesquisadores analisaram um fenômeno conhecido como fome hedônica — aquela vontade de comer que surge não por necessidade fisiológica, mas pela presença, pelo cheiro ou pela ideia de um alimento prazeroso.
É o impulso que aparece mesmo quando o corpo não precisa de energia.
Esse tipo de fome tem menos a ver com o estômago e mais com o prazer, o conforto emocional e o ambiente ao redor.
Ela acaba interferindo na relação com a comida, sobretudo em quem convive com dor crônica ou já passou por muitas frustrações com o próprio corpo.
Dieta para lipedema: duas estratégias, mesmas calorias
Durante oito semanas, mulheres com lipedema participaram de um ensaio clínico que comparou duas abordagens alimentares com a mesma quantidade de calorias:
- uma dieta com menor quantidade de carboidratos;
- e outra com baixo teor de gordura.
O objetivo não era testar uma “dieta ideal”, mas observar como cada estratégia afetava a fome emocional e diferentes aspectos do comportamento alimentar.
Menos carboidratos, menos “poder” da comida
Os resultados chamam atenção.
As participantes que seguiram a dieta com menos carboidratos relataram redução do desejo por comida ao ver ou pensar em alimentos apetitosos.
Em termos práticos, a comida pareceu exercer menos controle sobre o dia a dia dessas mulheres.
Esse grupo também apresentou melhora em um tipo específico de alimentação emocional; aquela ligada a sentimentos difusos, como tédio, inquietação ou ansiedade leve — padrões comuns de quem usa a comida como forma de aliviar desconfortos emocionais.
Já entre as mulheres que seguiram a dieta com pouca gordura, o principal achado foi outro.
Elas tiveram um aumento da sensação de restrição alimentar.
Muitas relataram precisar se controlar mais constantemente para manter a dieta, algo que costuma dificultar a adesão no médio e longo prazo.
O que isso significa para quem busca uma dieta para lipedema
Os autores do estudo destacam que esses resultados ajudam a entender por que algumas estratégias alimentares parecem mais “difíceis” do que outras, mesmo quando o consumo calórico é semelhante.
Dietas com menos carboidratos podem influenciar hormônios ligados à fome e à saciedade, além de atuar em mecanismos cerebrais relacionados ao prazer e à recompensa.
Isso pode facilitar a leitura dos sinais de saciedade e reduzir o impulso de comer por razões emocionais, sem que isso dependa apenas de força de vontade.
Ainda assim, os próprios pesquisadores são cautelosos.
Para eles, não existe uma única dieta que funcione para todas as mulheres com lipedema, e o estudo teve duração limitada.
Os achados indicam tendências, não regras absolutas.
Um avanço importante no olhar sobre lipedema e alimentação
Durante anos, mulheres com lipedema ouviram que bastava “fechar a boca” ou se exercitar mais.
A ciência começa a mostrar que essa visão é simplista e, muitas vezes, injusta.
O corpo de quem tem lipedema responde de forma diferente à perda de peso, e entender a relação entre lipedema e alimentação é fundamental para reduzir culpa, frustração e sofrimento emocional.
Mais do que impor restrições rígidas, o estudo reforça a importância de estratégias alimentares que considerem o comportamento alimentar, a fome emocional e a possibilidade real de adesão.
É um passo importante para tratar o lipedema com mais ciência e mais humanidade.
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