Book Appointment Now

Alimentação e autismo: o que a ciência descobriu agora
A relação entre alimentação e autismo vem ganhando cada vez mais atenção, especialmente quando o assunto é a influência do intestino no comportamento.
Mas um estudo publicado neste mês de novembro na revista Nutrients, que analisou a dieta, a microbiota intestinal e o comportamento de crianças com e sem autismo, trouxe uma perspectiva diferente daquela que se consolidou nos últimos anos.
Alimentação e autismo: o que o novo estudo investigou
Pesquisadores da Case Western Reserve University (EUA) e da instituição italiana Il Cireneo avaliaram crianças com diagnóstico de autismo, seus irmãos sem autismo e seus pais.
Ao todo, o estudo contou com um grupo pequeno: 17 crianças autistas, 9 irmãos e 27 pais.
O objetivo era entender se os desafios comportamentais no autismo estariam mais ligados ao intestino ou aos hábitos alimentares.
A surpresa veio justamente do que não foi encontrado.
Segundo os autores, não houve diferenças relevantes na microbiota intestinal entre crianças autistas e seus irmãos.
Isso vale tanto para bactérias quanto para fungos, ambos analisados no estudo.
Quando a alimentação fala mais alto
Se o intestino não apresentou diferenças marcantes, outro aspecto chamou atenção: o padrão alimentar.
As crianças com autismo, em geral:
- consumiam mais doces, balas, biscoitos e alimentos ricos em açúcar;
- tinham menor variedade no prato, especialmente de verduras e legumes.
Ou seja, a alimentação era mais restrita e repetitiva, algo muito comum em casos de seletividade alimentar no autismo.
Esse comportamento alimentar pode afetar não só a nutrição, mas também o bem-estar, a energia e o humor no dia a dia.
Leia também: Sono leve e humor instável? Seu intestino pode ter culpa
Alimentação e autismo: e se o caminho for o contrário do que se pensava?
Nos últimos anos, se tornou comum ouvir que o intestino teria grande influência sobre o comportamento no autismo, especialmente por causa da microbiota intestinal.
Este estudo, porém, levanta uma possibilidade mais simples. A sequência pode ser oposta à que se imaginava.
De forma clara:
- Primeiro vêm os padrões de comportamento alimentar (como seletividade, recusa de novos alimentos e preferência por comidas específicas);
- Esses comportamentos moldam a alimentação do dia a dia (resultando em uma dieta repetitiva, com mais açúcar e pouca variedade);
- E essa alimentação é que depois influencia a microbiota intestinal (já que o que comemos altera os microrganismos do intestino).
Ou seja, talvez o ponto de partida não esteja no intestino, mas sim nos hábitos alimentares que se instalam primeiro e, só então, podem repercutir no intestino.
O que isso muda para famílias e profissionais?
Os pesquisadores reforçam que investir na alimentação faz diferença e deve fazer parte do cuidado integral no autismo.
Estratégias nutricionais personalizadas podem:
- ampliar a diversidade alimentar;
- reduzir o excesso de açúcar e ultraprocessados;
- melhorar ingestão de nutrientes importantes.
Para muitas famílias, cada pequena vitória, como aceitar um alimento novo ou experimentar um vegetal, já é um grande passo.
Alimentação e autismo: um estudo promissor, mas inicial
É importante ressaltar que se trata de um estudo piloto, com número reduzido de participantes e realizado em uma única instituição.
Além disso, quando os pesquisadores aplicaram modelos estatísticos mais rigorosos (que levam em conta as diferenças entre famílias), as associações não se mantiveram.
O que é algo esperado em estudos pequenos.
Por essa razão, as conclusões ainda não são definitivas e precisam ser confirmadas por pesquisas maiores e mais completas.
Ainda assim, o estudo reforça algo que muitos pais já percebiam na prática.
No autismo, o comportamento alimentar merece tanta atenção quanto o intestino.
E, muitas vezes, o primeiro cuidado não está no laboratório, está na mesa.
Leitura Recomendada: Três doses por dia bastam para mudar seu cérebro (e não é para melhor)



