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Você pode estar alimentando o risco de câncer de fígado sem saber, alerta estudo
O câncer de fígado está crescendo em silêncio, e deve atingir cerca de 1,5 milhão de pessoas até 2050. O mais alarmante: boa parte desses casos poderia ser evitada com medidas simples de prevenção.
A combinação de maus hábitos, diagnóstico tardio e baixa cobertura vacinal cria um cenário preocupante, segundo um estudo publicado nesta semana na revista científica The Lancet.
Atualmente, essa é a terceira principal causa de morte por câncer no mundo. Mas o número de casos ainda pode aumentar drasticamente se ações de prevenção não forem colocadas em prática com urgência.
E é justamente esse o alerta feito por uma comissão internacional de especialistas da China, França, Japão e Estados Unidos, que assina o relatório.
Estilo de vida tem peso direto no surgimento da doença
Embora existam diversos tipos de câncer, o de fígado está entre os mais influenciados pelos nossos hábitos.
Ou seja, na maioria dos casos, ele poderia ser evitado com algumas mudanças no estilo de vida e com mais atenção à saúde do fígado.
A maior parte dos diagnósticos está relacionada a comportamentos ou condições que podem ser prevenidas ou controladas. Entre os fatores mais comuns, destacam-se:
- Consumo excessivo de álcool, que agride diretamente as células do fígado e pode levar à cirrose e ao surgimento de tumores;
- Infecções crônicas por hepatites B e C, muitas vezes silenciosas, mas que podem ser evitadas com vacina (no caso da hepatite B), prevenção de contato com sangue contaminado, sexo com preservativo e testagem regular;
- Obesidade, que aumenta o risco de inflamações e pode levar ao acúmulo de gordura no fígado, conhecido como esteatose hepática ou “fígado gorduroso”;
- Esteatose hepática, que, quando evolui sem tratamento, pode causar inflamações crônicas e aumentar muito o risco de câncer.
Além desses fatores mais comuns, também podem contribuir para o surgimento do câncer de fígado:
- Doenças genéticas raras que afetam o fígado;
- Exposição a substâncias tóxicas, como solventes industriais ou certos fungos em alimentos mal armazenados;
- Histórico de cirrose hepática, independentemente da causa.
Mesmo com tantas possibilidades, o mais importante é reforçar que a maioria dos casos tem origem em causas evitáveis.
Por isso, falar sobre o assunto, ampliar o acesso à informação e estimular hábitos mais saudáveis pode fazer uma grande diferença.
Sintomas costumam aparecer tarde demais
O grande desafio do câncer de fígado é que ele costuma evoluir sem alarde.
Nas fases iniciais, os sintomas podem ser quase inexistentes.
A pessoa sente apenas um mal-estar vago, um cansaço sem explicação, talvez uma dorzinha discreta na parte superior da barriga e segue a vida normalmente.
Quando os sinais mais evidentes aparecem, o quadro geralmente já está em estágio avançado. São eles:
- Icterícia (pele e olhos amarelados);
- Perda de peso repentina;
- Náuseas e vômitos;
- Dor intensa no lado direito do abdômen;
- Inchaço abdominal;
- Fezes esbranquiçadas;
- Fraqueza e falta de apetite.
Por isso, é fundamental prestar atenção a qualquer sintoma persistente, principalmente em pessoas com fatores de risco conhecidos.
Exames preventivos ainda são pouco acessíveis
Apesar dos avanços da medicina, o rastreamento do câncer de fígado ainda é restrito a grupos específicos.
Exames como ultrassom, tomografia e análise de marcadores no sangue costumam ser indicados apenas para pessoas com histórico de hepatite crônica, cirrose ou outras doenças hepáticas conhecidas.
Isso significa que muitas pessoas com a doença não são diagnosticadas a tempo.
Quando o tumor é descoberto, em muitos casos, já não é possível realizar cirurgia ou tratamentos mais eficazes.
O foco, então, passa a ser o controle dos sintomas e o aumento da sobrevida do paciente.
Prevenir é mais fácil (e mais barato) que tratar
Como temos visto até aqui, o câncer de fígado pode ser prevenido. E as medidas são mais simples do que muita gente imagina.
Começam, por exemplo, com algo básico: a vacinação contra a hepatite B, oferecida gratuitamente pelo SUS. Essa é uma das formas mais eficazes de evitar uma das principais causas da doença.
Além disso, o teste para detectar a hepatite C também está disponível na rede pública. Os tratamentos atuais são altamente eficazes, com taxa de cura que chega a 90%.
Outros hábitos que ajudam a proteger o fígado incluem:
- Evitar ou reduzir o consumo de bebidas alcoólicas;
- Manter uma alimentação equilibrada e natural;
- Praticar atividades físicas regularmente;
- Controlar doenças como obesidade e diabetes;
- Consultar o médico com frequência e fazer exames de rotina.
Essas ações, segundo o estudo da Lancet, poderiam evitar até 17 milhões de novos diagnósticos e 15 milhões de mortes nas próximas décadas.
Tratamentos avançaram, mas o diagnóstico precoce ainda é essencial
Nos casos em que o câncer de fígado é detectado cedo, as opções de tratamento aumentam, e também as chances de cura. Entre as abordagens mais comuns estão:
- Cirurgia para retirada do tumor;
- Transplante de fígado (em casos selecionados);
- Tratamentos localizados, como ablação e radioembolização;
- Imunoterapia e terapias-alvo (que atacam diretamente as células do câncer).
A quimioterapia convencional ainda é usada em alguns casos, mas vem sendo substituída por métodos mais modernos, com menos efeitos colaterais e melhores resultados.
A escolha do tratamento depende de vários fatores, como o tipo e tamanho do tumor, a saúde do fígado e o estado geral do paciente. Por isso, o acompanhamento médico desde o início é fundamental.
Combater o câncer de fígado exige ação conjunta
O estudo divulgado na The Lancet reforça a necessidade de um esforço coletivo.
Governos e instituições de saúde precisam investir em vacinação, campanhas educativas, triagem de hepatites e combate ao consumo excessivo de álcool.
Medidas como impostos sobre bebidas alcoólicas, rótulos de advertência e restrição de publicidade são estratégias defendidas pelos pesquisadores.
Mas a mudança também depende das escolhas individuais.
O cuidado com o fígado passa por decisões do dia a dia; o que comemos, o que bebemos, o quanto nos exercitamos e o quanto buscamos nos informar.
O câncer de fígado não é apenas um problema médico. É uma questão de saúde pública. E quanto antes começarmos a agir, mais chances de evitar essa tragédia anunciada.
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