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Por que os remédios para TDAH não funcionam do mesmo jeito para todos
Durante anos, acreditou-se que os remédios para TDAH funcionavam simplesmente para melhorar a atenção.
No entanto, um novo estudo científico, publicado na revista Cell, mostra que a forma como os remédios para TDAH funcionam é mais complexa e que os efeitos podem variar bastante entre quem tem o transtorno e quem não tem.
O que a ciência investigou
Pesquisadores analisaram exames cerebrais de quase 12 mil crianças e também acompanharam adultos saudáveis em testes controlados.
O objetivo era entender com mais precisão o efeito de medicamentos estimulantes, como o metilfenidato (Ritalina), sobre o funcionamento do cérebro.
A análise focou nas chamadas redes neurais da atenção, mas também em sistemas ligados ao estado de alerta, à motivação e à recompensa.
O principal achado do estudo
O estudo mostrou que os remédios para TDAH não atuam diretamente nas áreas do cérebro responsáveis pela atenção, como se pensava até agora.
O efeito principal acontece em outros dois sistemas: o estado de alerta e os circuitos ligados à motivação e à recompensa.
Na prática, isso significa que o cérebro não fica necessariamente mais focado, mas mais acordado, menos cansado e mais disposto a continuar em uma tarefa.
É um efeito semelhante ao de estar bem descansado após uma boa noite de sono, o que ajuda a explicar por que muitas pessoas conseguem render mais depois de usar o medicamento.
Atenção também depende de energia mental
Atenção não é apenas foco. Ela depende de energia, vigilância e disposição mental.
Quando o cérebro está cansado ou sonolento, mesmo tarefas simples se tornam difíceis.
O estudo mostra que os estimulantes elevam esse nível de alerta.
Com isso, a pessoa consegue sustentar o desempenho por mais tempo, cometer menos erros por cansaço e reagir com mais rapidez.
O papel da motivação e da recompensa
Outro achado importante envolve as áreas do cérebro ligadas à recompensa.
Com o uso dos medicamentos, tarefas rotineiras, como estudar ou fazer dever de casa, passam a parecer menos entediantes.
Isso não significa que o conteúdo fique mais interessante, mas que o cérebro passa a atribuir mais valor à tarefa, o que favorece a persistência.
Sono e uso do medicamento
O sono teve papel central nos resultados.
Crianças que dormiam pouco apresentavam padrões cerebrais associados a pior desempenho cognitivo.
Quando usavam o medicamento, esses padrões se aproximavam dos observados em crianças bem descansadas.
No entanto, os autores fazem um alerta de que o remédio não substitui o sono, que continua sendo fundamental para a saúde física e mental.
E quem usa esses remédios sem ter TDAH?
Os remédios para TDAH também são usados por pessoas sem o transtorno, especialmente estudantes e adultos que buscam melhorar o rendimento ou lidar com cansaço e excesso de tarefas.
O estudo ajuda a esclarecer esse ponto.
Em pessoas sem TDAH e bem descansadas, o uso do medicamento não trouxe melhora significativa no desempenho cognitivo ou escolar.
Ou seja, os estimulantes não tornam alguém mais inteligente nem criam uma atenção acima do normal.
O que pode ocorrer é uma sensação subjetiva de melhora.
Ao aumentar o estado de alerta e reduzir o cansaço, o remédio facilita a permanência em uma tarefa por mais tempo, o que pode dar a impressão de maior produtividade, sem representar ganho real de capacidade cognitiva.
Os autores reforçam que os efeitos mais consistentes aparecem quando há uma dificuldade prévia, como o TDAH ou a privação de sono, e que o uso do medicamento deve sempre ocorrer com orientação médica.
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