O que está por trás da sua ansiedade? A falta deste sal pode ser a razão

Durante muito tempo, acreditou-se que a baixa concentração de sódio no sangue — condição chamada de hiponatremia — era um problema silencioso e sem sintomas significativos, especialmente nos casos crônicos.

No entanto, um estudo recente conduzido por pesquisadores da Universidade de Saúde Fujita, no Japão, revelou uma ligação surpreendente e preocupante entre a hiponatremia crônica e o surgimento de sintomas de ansiedade.

A descoberta pode mudar a forma como encaramos essa alteração eletrolítica, apontando que ela não afeta apenas o corpo, mas também a mente.

O que é hiponatremia crônica?

A hiponatremia ocorre quando a concentração de sódio no sangue fica abaixo dos níveis considerados normais. O sódio é um mineral essencial para diversas funções do organismo, incluindo o equilíbrio dos líquidos corporais, a condução de impulsos nervosos e a contração muscular.

Nos casos crônicos, o quadro de hiponatremia se desenvolve de forma lenta e contínua, geralmente como consequência de doenças como insuficiência cardíaca, cirrose hepática ou síndrome da secreção inapropriada de hormônio antidiurético (SIADH).

Nessas condições, o corpo retém água em excesso, diluindo os níveis de sódio na corrente sanguínea.

Embora a hiponatremia aguda (de início rápido) possa causar sintomas graves como confusão, convulsões e coma, a forma crônica era considerada menos perigosa — até agora.

A pesquisa que ligou a falta de sódio à ansiedade

O estudo japonês, publicado em maio de 2025 na revista científica Molecular Neurobiology, foi conduzido por um time de especialistas liderado pelo professor Yoshihisa Sugimura.

O objetivo era investigar se a hiponatremia crônica (CHN) poderia estar associada a alterações neurológicas e comportamentais, com foco especial nos sintomas de ansiedade.

Para isso, os cientistas desenvolveram um modelo experimental com camundongos que reproduziam a condição humana.

Os animais receberam uma infusão contínua de desmopressina, um medicamento análogo à vasopressina — hormônio que regula a retenção de água — e foram alimentados com uma dieta líquida, simulando a SIADH.

Como resultado, os níveis de sódio no sangue dos animais caíram de forma controlada e persistente.

Os testes comportamentais demonstraram que os camundongos com hiponatremia apresentaram aumento significativo de comportamentos ansiosos, como relutância em explorar ambientes iluminados e maior imobilidade em espaços abertos — sinais clássicos de ansiedade em modelos animais.

Desequilíbrio químico no cérebro

Mais do que os comportamentos observados, o estudo identificou alterações marcantes na química cerebral dos camundongos.

Em especial, houve uma redução nos níveis de serotonina e dopamina na amígdala — região do cérebro ligada ao processamento das emoções, incluindo o medo e a ansiedade.

Além disso, os cientistas notaram uma queda na atividade de uma proteína chamada ERK (quinase regulada por sinal extracelular), que tem papel fundamental na regulação das emoções.

Essas alterações indicam que o baixo nível de sódio provoca um verdadeiro desequilíbrio no sistema de neurotransmissores relacionados ao humor.

Segundo os autores da pesquisa, esse desequilíbrio está ligado a um processo adaptativo do cérebro, conhecido como redução regulatória de volume (VRD). Quando há pouca concentração de sódio, o cérebro tenta se proteger ajustando o volume celular.

Contudo, essa adaptação leva à perda de substâncias que também são precursoras de neurotransmissores — prejudicando a produção e liberação de compostos como serotonina e dopamina.

Sintomas são reversíveis com a correção do sódio

Uma das descobertas mais animadoras do estudo foi a reversibilidade dos sintomas. Ao suspender o uso da desmopressina e restabelecer uma alimentação sólida, os níveis de sódio no sangue voltaram ao normal nos camundongos.

Junto com isso, os comportamentos ansiosos diminuíram e os marcadores bioquímicos no cérebro retornaram aos níveis esperados.

Esse achado reforça que o impacto da hiponatremia sobre o equilíbrio emocional não é permanente, desde que haja diagnóstico e tratamento adequados.

O que isso significa para os humanos?

Embora a pesquisa tenha sido realizada em camundongos, os pesquisadores afirmam que os resultados têm forte potencial de aplicação em humanos.

Isso porque a hiponatremia crônica é relativamente comum, especialmente entre pessoas idosas e pacientes com doenças crônicas, como insuficiência renal, cirrose hepática e insuficiência cardíaca.

Muitos desses pacientes convivem com a hiponatremia por longos períodos sem apresentar sinais físicos evidentes.

No entanto, podem relatar sintomas de ordem psicológica, como angústia, insegurança, irritabilidade e quadros de ansiedade que, até então, não eram associados à queda nos níveis de sódio.

Esse novo entendimento reforça a importância de avaliar as causas orgânicas por trás de transtornos emocionais, sobretudo em pacientes que já possuem outras condições clínicas e utilizam medicações que interferem no balanço hídrico do organismo.

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Entendendo a SIADH: quando o corpo retém água em excesso

Um dos principais mecanismos envolvidos na hiponatremia crônica é a chamada síndrome da secreção inapropriada de hormônio antidiurético (SIADH).

Nessa condição, o organismo libera quantidades excessivas do hormônio antidiurético (ADH), responsável por reter água nos rins. Esse excesso de água dilui o sódio no sangue, levando à hiponatremia.

Essa síndrome pode ser provocada por doenças pulmonares, tumores, infecções do sistema nervoso central ou pelo uso de determinados medicamentos — como antidepressivos, anticonvulsivantes, diuréticos e até alguns analgésicos de uso contínuo.

Por isso, a SIADH deve ser considerada sempre que houver hiponatremia sem causa aparente, especialmente em pessoas idosas.

No estudo, os pesquisadores simularam a SIADH nos camundongos utilizando a desmopressina, um medicamento análogo ao ADH, que é usado em casos clínicos específicos, como diabetes insipidus e enurese noturna.

Embora útil, o uso inadequado ou prolongado da desmopressina pode levar à retenção hídrica e consequente queda nos níveis de sódio — um risco que precisa ser monitorado com atenção.

Um alerta para a saúde mental invisível

A ansiedade é um transtorno multifatorial. Ela pode ter origem genética, ser desencadeada por situações de estresse, traumas ou alterações hormonais.

No entanto, esse novo estudo traz à tona um fator que costuma passar despercebido: a influência da bioquímica corporal sobre o funcionamento do cérebro.

A baixa concentração de sódio altera o equilíbrio interno das células cerebrais e impacta diretamente a produção de neurotransmissores responsáveis pela regulação do humor e das emoções.

Isso significa que, em alguns casos, a ansiedade pode não ser apenas uma questão psicológica, mas também um reflexo de uma condição médica tratável.

Para profissionais da saúde, essa descoberta é um convite à reflexão: diante de pacientes que apresentam ansiedade de início recente ou que não respondem bem a tratamentos convencionais, é importante investigar possíveis causas metabólicas.

Diagnóstico e tratamento da hiponatremia

O diagnóstico da hiponatremia é relativamente simples e feito por meio de exames laboratoriais de sangue, que avaliam a concentração de sódio.

O desafio, no entanto, está em reconhecer quando a hiponatremia é crônica e assintomática, especialmente nos pacientes que não apresentam sintomas físicos evidentes.

O tratamento depende da causa da hiponatremia. Em casos leves ou moderados, pode envolver apenas a restrição de líquidos e o ajuste do uso de medicamentos.

Em situações mais complexas, pode ser necessário administrar soluções salinas ou tratar a doença de base, como insuficiência cardíaca ou SIADH.

O mais importante é evitar a correção rápida demais, que pode levar a complicações neurológicas graves.

Por isso, todo tratamento deve ser conduzido por profissionais de saúde capacitados, com acompanhamento clínico regular e individualizado.

O corpo e a mente estão mais conectados do que pensamos

A descoberta de que a hiponatremia crônica pode desencadear sintomas de ansiedade por alterar diretamente a química cerebral representa um avanço significativo no entendimento da interação entre corpo e mente.

A mensagem central do estudo é clara: o sódio não é apenas um eletrólito essencial para a função física do organismo, mas também uma peça-chave no equilíbrio emocional. Ignorar essa conexão pode levar ao subdiagnóstico de quadros reversíveis e tratáveis.

Em um contexto onde o número de pessoas com sintomas de ansiedade cresce a cada ano, considerar causas orgânicas como a hiponatremia pode ser fundamental para proporcionar um cuidado mais completo e eficaz.

A saúde mental começa também pelo cuidado com a saúde física.

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Elizandra Civalsci Costa
Elizandra Civalsci Costa

Farmacêutica (CRF MT n° 3490) pela Universidade Estadual de Londrina e Especialista em Farmácia Hospitalar e Oncologia pelo Hospital Erasto Gaertner. - Curitiba PR. Possui curso em Revisão de Conteúdo para Web pela Rock Content University e Fact Checker pela poynter.org. Contato (65) 99813-4203

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