Por que “não se sentir sozinho” pode não proteger o cérebro na velhice

Isolamento social e declínio cognitivo costumam ser vistos como consequências naturais do envelhecimento, quase inevitáveis com o passar dos anos. Mas um estudo recente publicado no periódico científico The Journals of Gerontology: Series B mostra que essa relação é mais direta (e preocupante) do que se pensava.

A pesquisa indica que o isolamento social pode contribuir para uma piora progressiva da memória e de outras funções do cérebro ao longo do tempo, mesmo quando a pessoa não se sente sozinha.

Ou seja, não basta “estar bem consigo mesmo” para proteger a saúde cognitiva.

O estudo analisou dados de mais de 30 mil adultos com 50 anos ou mais nos Estados Unidos, acompanhados por cerca de 14 anos.

O objetivo foi entender como o isolamento social e o declínio cognitivo se relacionam ao longo do envelhecimento e até que ponto a solidão explicaria essa conexão.

Isolamento não é a mesma coisa que solidão

Antes de tudo, os pesquisadores fazem uma distinção importante.

Isolamento social é algo objetivo. Poucos contatos sociais, pouco convívio com amigos e familiares, ausência de participação em atividades comunitárias ou sociais. Morar sozinho pode ser um fator, mas não é o único.

Já a solidão é subjetiva.

É o sentimento de estar só, mesmo quando se está rodeado de pessoas. E o estudo mostra que essas duas condições nem sempre caminham juntas.

Há idosos isolados que não se sentem solitários, assim como há pessoas socialmente ativas que se sentem sozinhas.

O impacto direto do isolamento no cérebro

Os resultados indicam que o isolamento social e o declínio cognitivo estão ligados de forma direta.

Apenas cerca de 6% desse efeito passa pela solidão.

O restante parece estar associado a outros fatores, como menor estímulo mental, menos trocas sociais e menos desafios no dia a dia; elementos fundamentais para manter o cérebro ativo ao longo da vida.

Na prática, isso significa que não se sentir sozinho não é garantia de proteção cognitiva.

Uma pessoa pode preferir uma rotina mais reservada e ainda assim estar mais vulnerável à perda de memória, atenção e raciocínio com o tempo.

Um problema que afeta diferentes grupos

Embora o impacto médio observado seja considerado modesto, os pesquisadores destacam que ele se acumula ao longo dos anos.

Entre os 50 e os 90 anos, o declínio cognitivo já é esperado, e qualquer fator que contribua para esse processo merece atenção.

O efeito do isolamento social na terceira idade foi observado em praticamente todos os grupos analisados, independentemente de sexo, escolaridade ou raça.

Isso reforça a ideia de que se trata de um problema de saúde pública, e não apenas de uma questão individual.

Quem mora sozinho merece atenção especial

O estudo também simulou um cenário em que políticas públicas priorizam idosos que vivem sozinhos.

Os resultados indicam que essa estratégia poderia concentrar quase metade do efeito positivo observado na redução do isolamento social em toda a população idosa.

Isso reforça que iniciativas como programas comunitários, espaços de convivência acessíveis, transporte adequado e estímulo à participação social vão além do bem-estar emocional.

Elas funcionam como medidas concretas de proteção à saúde do cérebro.

Mais do que apenas combater a solidão, o recado do estudo é o de que manter vínculos e participar da vida social é um fator importante para preservar a função cognitiva ao longo do envelhecimento.

Leitura Recomendada: O que o seu relacionamento tem a ver com a saúde do coração

Compartilhe este conteúdo
Michele Azevedo
Michele Azevedo

Formada em Letras - Português/ Inglês, pós-graduada em Arte na Educação e Psicopedagogia Escolar, idealizadora do site Escritora de Sucesso, empresária, redatora e revisora dos conteúdos do SaúdeLab.

VIRE A CHAVE PARA EMAGRECER

INSCRIÇÕES GRATUITAS E VAGAS LIMITADAS