Jejum é eficaz para todo mundo? Estudo revela a verdade

O jejum ganhou espaço como uma das estratégias mais populares para emagrecer e melhorar a saúde. De influenciadores digitais a médicos, muitos defendem seus benefícios, especialmente na queima de gordura e no controle da inflamação.

Mas será que o jejum age da mesma forma em todos os corpos?

Um novo estudo publicado na revista iScience indica que não é bem assim. Os pesquisadores descobriram que pessoas com obesidade podem ter uma resposta metabólica e imunológica diferente ao jejum em comparação com indivíduos magros.

A descoberta ajuda a explicar por que algumas pessoas veem resultados rápidos, enquanto outras enfrentam mais dificuldades.

O estudo em detalhe

O trabalho foi conduzido pela University of British Columbia Okanagan, no Canadá, e incluiu 32 voluntários: metade com obesidade e metade com índice de massa corporal (IMC) considerado magro. Todos passaram por um protocolo de 48 horas de jejum.

Durante esse período, os cientistas monitoraram diversos parâmetros:

  • Metabolismo energético (queima de gordura e glicose);
  • Produção de corpos cetônicos (moléculas ligadas à queima de gordura);
  • Hormônios como insulina e leptina;
  • Função das células T, um tipo de célula de defesa ligada à inflamação.

Resultados principais

O que mais chamou atenção foi a diferença na adaptação do corpo ao jejum entre os grupos:

  • Menos cetose em pessoas com obesidade: embora todos tenham aumentado a queima de gordura, o crescimento dos corpos cetônicos (β-hidroxibutirato) foi muito menor no grupo com obesidade. Esse grupo também apresentou menor ativação de mecanismos celulares relacionados ao uso de gordura como combustível.
  • Inflamação persistente: indivíduos magros mostraram sinais de redução da inflamação após o jejum. Já em pessoas com obesidade, células T ligadas à inflamação (como as do tipo Th17) continuaram ativas, liberando substâncias inflamatórias.
  • Hormônios alterados: a insulina caiu em ambos os grupos, mas permaneceu mais alta em quem tinha obesidade. A leptina, hormônio relacionado à fome e ao metabolismo, também era mais elevada neste grupo desde o início.
  • Resposta imune menos flexível: enquanto células T de indivíduos magros se adaptaram para usar mais gordura como energia, as de pessoas com obesidade mantiveram preferência por glicose, o que pode contribuir para manter um estado inflamatório.

O que isso significa na prática

Esses resultados sugerem que o jejum não tem efeito universal.

Em pessoas magras, ele pode induzir um estado metabólico e imunológico mais favorável, com maior uso de gordura e menor inflamação.

Mas em pessoas com obesidade, a resposta parece menos eficiente, possivelmente devido à resistência à insulina e ao ambiente inflamatório já presente.

Isso não quer dizer que o jejum “não funcione” para quem tem obesidade.

O estudo aponta que o corpo pode precisar de mais tempo, estratégias combinadas e acompanhamento profissional para que os benefícios apareçam.

O que a ciência já sabia

O estudo reforça evidências anteriores de que a obesidade altera o funcionamento do sistema imunológico.

Pessoas com excesso de peso costumam ter mais células pró-inflamatórias e níveis mais altos de marcadores de inflamação no sangue, mesmo sem infecção.

Esse estado inflamatório está associado a maior risco de doenças como diabetes tipo 2, hipertensão e problemas cardiovasculares.

O jejum, ao estimular a produção de corpos cetônicos, poderia ajudar a regular essa inflamação. No entanto, a nova pesquisa mostra que esse efeito é atenuado pela obesidade.

Jejum e emagrecimento: o que considerar

Muitas pessoas buscam o jejum para perder peso, mas esse não é o único fator em jogo. A ciência mostra que:

  • A perda de peso depende do déficit calórico — o jejum pode ajudar algumas pessoas a comer menos, mas não garante emagrecimento se houver compensação exagerada nas horas de alimentação.
  • A qualidade da dieta importa — reduzir ultraprocessados, priorizar proteínas magras, fibras e boas gorduras é essencial para resultados duradouros.
  • Sono e estresse influenciam — noites mal dormidas e níveis altos de cortisol podem atrapalhar o equilíbrio metabólico, mesmo durante o jejum.
  • Atividade física potencializa — exercícios de força e aeróbicos aumentam a sensibilidade à insulina e ajudam a reduzir a inflamação.

Limitações do estudo

Embora inovador, o trabalho tem limitações importantes:

  • Incluiu apenas 32 participantes, um número pequeno para generalizações;
  • Avaliou um jejum único de 48 horas, que não representa protocolos mais comuns, como o intermitente (16:8 ou 5:2);
  • Os voluntários eram relativamente jovens e sem doenças metabólicas graves, o que pode não refletir toda a população com obesidade.

O jejum segue sendo uma estratégia estudada e promissora, mas não é uma solução mágica. Pessoas com obesidade podem ter respostas diferentes (e menos intensas) do que pessoas magras, tanto no metabolismo quanto no sistema imunológico.

A boa notícia é que, ao entender melhor essas diferenças, a ciência avança no caminho de criar abordagens personalizadas para emagrecimento e saúde metabólica.

Para quem pensa em adotar o jejum, o recado é claro: não faça sozinho. Procure orientação de um médico ou nutricionista, especialmente se você tem obesidade, diabetes ou faz uso de medicamentos.

O jejum pode ser útil, mas precisa estar inserido em um plano completo de cuidado com o corpo.

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Michele Azevedo
Michele Azevedo

Formada em Letras - Português/ Inglês, pós-graduada em Arte na Educação e Psicopedagogia Escolar, idealizadora do site Escritora de Sucesso, empresária, redatora e revisora dos conteúdos do SaúdeLab.

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