Pesquisa mostra como os micróbios intestinais e os hormônios influenciam o apetite por doces

O consumo excessivo de açúcar é um dos principais responsáveis pelo aumento de doenças metabólicas ao redor do mundo, como obesidade e diabetes tipo 2. Mas, você sabia que o desejo por doces pode estar relacionado a fatores biológicos que vão além do simples prazer de saborear algo doce?

Um estudo recente realizado na China identificou uma ligação interessante entre os micróbios intestinais, hormônios e o consumo de açúcar, oferecendo novas possibilidades para o controle da ingestão de açúcar e estratégias de saúde metabólica.

Pesquisadores descobriram que a interação entre o receptor Ffar4, presente no intestino, e a microbiota intestinal pode influenciar a preferência por doces, revelando um mecanismo mais profundo por trás do nosso apetite por alimentos ricos em açúcar.

Com isso, novas abordagens para tratar distúrbios metabólicos e controlar o consumo de açúcar podem estar ao nosso alcance.

O que é o receptor Ffar4 e como ele influencia a preferência por açúcar

O receptor Ffar4, presente no intestino, desempenha um papel importante na regulação da ingestão de alimentos, especialmente no que diz respeito ao açúcar.

Esse receptor, que é ativado por ácidos graxos, tem a função de diferenciar os tipos de açúcar, distinguindo entre açúcares naturais e adoçantes artificiais, como o aspartame e a sacarina.

Estudos recentes com camundongos mostraram que, quando esse receptor não está funcionando corretamente, há uma tendência maior para a ingestão de alimentos ricos em açúcar.

Essa descoberta sugere que a preferência por doces pode estar diretamente ligada a essa falha no receptor, o que pode contribuir para o aumento do consumo excessivo de açúcar, um fator chave para o desenvolvimento de doenças como obesidade e diabetes tipo 2.

Além disso, a microbiota intestinal, composta por trilhões de micróbios, tem se mostrado um regulador importante de nossas preferências alimentares. Esses micróbios influenciam a metabolização dos alimentos e interagem com o sistema hormonal do corpo, gerando sinais que afetam nossas escolhas alimentares.

Em particular, a produção de metabólitos pela microbiota intestinal, como o pantotenato, tem sido associada à regulação da ingestão de açúcar.

Com isso, há um crescente interesse em entender como os micróbios intestinais podem modular a nossa relação com o açúcar e, assim, ajudar a desenvolver formas mais eficazes de controlar o apetite por doces.

A conexão entre microbiota intestinal, pantotenato e hormônios do intestino

O estudo realizado na China focou na interação entre o receptor Ffar4, a microbiota intestinal e os hormônios produzidos pelo intestino. Uma descoberta importante foi o papel do pantotenato, um metabolito gerado pelos micróbios intestinais, na modulação da preferência por açúcar.

Esse composto não só influencia o desejo por doces, como também tem a capacidade de reduzir os níveis de glicose no sangue em jejum, o que o torna uma possível ferramenta terapêutica no tratamento do diabetes e distúrbios metabólicos.

A pesquisa revelou que, ao analisar a composição da microbiota intestinal, em especial a presença de uma bactéria chamada Bacteroides vulgatus, foi possível observar alterações nos padrões de preferência por açúcar.

A suplementação com pantotenato levou a uma modulação significativa da secreção de GLP-1, um hormônio intestinal que regula o metabolismo da glicose e a saciedade.

Essa descoberta oferece novas perspectivas sobre como as terapias baseadas na modulação da microbiota intestinal podem ajudar no controle do apetite por açúcar e, assim, melhorar o manejo de doenças metabólicas como o diabetes.

O impacto do GLP-1 e da FGF21 no controle do consumo de açúcar

Outro achado crucial do estudo foi o papel do GLP-1 (peptídeo semelhante ao glucagon 1), um hormônio intestinal que tem uma função reguladora importante no metabolismo da glicose.

O GLP-1 não apenas aumenta a secreção de insulina, como também contribui para a sensação de saciedade. O estudo mostrou que a interação entre o pantotenato e o GLP-1 resultou em uma maior produção de FGF21 (fator de crescimento fibroblástico 21) no fígado, um hormônio que também influencia a preferência por açúcar.

O FGF21 foi identificado como um importante regulador do receptor Ffar4, ajudando a controlar a ingestão de alimentos doces.

Além disso, ao criar modelos experimentais em camundongos com a falta de FGF21, os pesquisadores observaram um aumento significativo no desejo por açúcar.

Isso confirma a importância desse hormônio na regulação do apetite por doces e oferece uma nova direção para o desenvolvimento de tratamentos para controlar o consumo excessivo de açúcar, com base na modulação hormonal e microbiota intestinal.

Os resultados dessa pesquisa oferecem novas perspectivas sobre como a microbiota intestinal e os hormônios intestinais interagem para regular a preferência por alimentos ricos em açúcar.

Ao entender melhor os mecanismos por trás do desejo por doces, será possível desenvolver estratégias mais eficazes para controlar o consumo de açúcar e tratar distúrbios metabólicos.

A modulação da microbiota intestinal, através de compostos como o pantotenato, e o uso de hormônios como o GLP-1 e o FGF21, podem se tornar ferramentas valiosas no combate ao consumo excessivo de açúcar e no tratamento de condições como obesidade e diabetes tipo 2.

No futuro, terapias baseadas nesses mecanismos podem revolucionar a forma como lidamos com o consumo de açúcar e as doenças metabólicas associadas.

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Fonte: News Medical

Estudo: Zhang, T., Wang, W., Li, J., Ye, X., Wang, Z., Cui, S., Shen, S., Liang, X., Chen, Y. Q., & Zhu, S. (2025). Free fatty acid receptor 4 modulates dietary sugar preference via the gut microbiota. Nature Microbiology. DOI:10.1038/s41564024019028, https://www.nature.com/articles/s41564-024-01902-8

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Redação SaúdeLab
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