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Misocinesia: o fenômeno psicológico que afeta 1 em cada 3 pessoas
Você já se sentiu incomodado ao ver alguém balançando os pés ou mexendo os dedos de forma repetitiva? Se a resposta for sim, você pode estar lidando com um fenômeno chamado misocinesia, que afeta uma em cada três pessoas.
Este desconforto visual, que pode causar irritação, ansiedade e até frustração, é mais comum do que se imagina e está começando a ser mais estudado.
No SaúdeLab, vamos aprofundar esse tema, trazendo informações com base nas descobertas científicas.
Vamos explicar os fatores que a desencadeiam e como ela pode afetar o nosso dia a dia.
Além disso, vamos esclarecer se a misocinesia tem alguma relação com a misofonia, uma condição bastante conhecida em que os sons repetitivos causam irritação.
Será que essas duas condições são a mesma coisa? Acompanhe.
O que é a misocinesia?
Em 2021, pesquisadores liderados pelo psicólogo Sumeet Jaswal, da Universidade da Colúmbia Britânica (UBC), realizaram um estudo aprofundado para tentar entender melhor esse fenômeno.
O objetivo era investigar o que causa essa sensação de irritação e por que ela afeta tantas pessoas.
O termo misocinesia vem do grego e significa literalmente “ódio aos movimentos”.
De forma simples, é uma reação emocional negativa causada pela visão de movimentos pequenos e repetitivos de outras pessoas.
Imagine alguém mexendo a perna de forma contínua durante uma reunião ou alguém balançando os pés sem parar.
Para pessoas com misocinesia, essas atitudes podem se tornar extremamente incômodas e, em casos mais graves, até insuportáveis.
Pesquisa revela que 1 em cada 3 pessoas sofre com a misocinesia
Em uma série de experimentos realizados com mais de 4.100 participantes, Jaswal e seus colegas descobriram que aproximadamente 33% das pessoas experimentam algum grau de sensibilidade à misocinesia.
Esses resultados sugerem que, longe de ser um problema raro ou restrito a determinados grupos, a condição é algo que afeta uma parcela significativa da população mundial.
Os pesquisadores analisaram a reação das pessoas ao verem comportamentos repetitivos e inquietos de outras pessoas, como balançar os pés, mexer nas mãos ou até mesmo movimentos mais sutis.
Para muitos, esses movimentos causam um desconforto emocional imediato, como irritação, frustração ou até raiva.
Essa resposta emocional negativa pode afetar a qualidade de vida das pessoas, diminuindo o prazer em situações sociais e até no ambiente de trabalho ou de aprendizado.
Pode levar até ao isolamento
Os efeitos da misocinesia vão além do desconforto físico de ser distraído por movimentos involuntários.
O impacto emocional também pode ser significativo.
Muitas pessoas que sofrem com essa condição relatam sentimentos de raiva, frustração e até ansiedade quando expostas a esses comportamentos repetitivos.
Em alguns casos, esse estresse emocional é tão intenso que pode afetar a vida social e profissional da pessoa.
Algumas chegam a evitar situações nas quais sabem que estarão perto de pessoas que costumam se mexer repetidamente, o que pode levar ao isolamento social, tudo para escapar desses gatilhos visuais.
Misocinesia é Misofonia?
A misofonia é um distúrbio psicológico no qual uma pessoa desenvolve uma reação de irritação ou até raiva ao ouvir certos sons repetitivos, como o barulho de respiração, de mastigação ou de alguém batendo os dedos.
Para quem sofre desse transtorno, esses sons podem se tornar insuportáveis, provocando grande desconforto emocional, como ansiedade ou frustração.
O som, que para muitas pessoas pode ser apenas uma parte do ambiente, se transforma em um gatilho para uma forte resposta negativa.
Agora, quando comparamos misofonia e misocinesia, podemos perceber algumas semelhanças, pois ambos os fenômenos envolvem reações adversas a estímulos repetitivos.
No entanto, a principal diferença está no tipo de estímulo que desencadeia a irritação.
Enquanto a misofonia é provocada por sons repetitivos, a misocinesia é desencadeada por movimentos visuais repetitivos e involuntários de outras pessoas, como o balançar de pernas ou o mexer incessante dos dedos, como já mencionamos.
Em alguns casos, as duas condições podem coexistir.
Ou seja, uma pessoa com misofonia pode ser mais propensa a desenvolver misocinesia, já que ambas envolvem uma sensibilidade aumentada a estímulos repetitivos.
No entanto, o estudo revelou que nem todas as pessoas que sofrem de misofonia têm misocinesia, e vice-versa.
O que causa a misocinesia?
Ainda não se sabe exatamente o que causa a misocinesia, mas alguns pesquisadores acreditam que o fenômeno pode estar relacionado ao funcionamento do cérebro e ao modo como ele processa estímulos visuais e atencionais.
Uma hipótese é que essas pessoas têm uma sensibilidade aumentada para movimentos pequenos e repetitivos, o que as torna incapazes de “bloquear” esses estímulos quando eles ocorrem na sua periferia visual.
Além disso, os pesquisadores sugerem que os chamados “neurônios-espelho” podem estar envolvidos nessa condição.
Esses neurônios são ativados não só quando uma pessoa realiza um movimento, mas também quando observa outra pessoa realizando o mesmo movimento.
Portanto, pode ser que quem sofre de misocinesia esteja, de certa forma, “imitando” esses movimentos repetitivos e sentindo o desconforto ou a ansiedade que os outros estão experienciando.
Outra teoria é que, quando vemos alguém se mexer repetidamente, nosso cérebro pode associar esse movimento à ansiedade ou nervosismo, já que muitas vezes essas ações ocorrem quando a pessoa está nervosa ou estressada.
Assim, o espectador pode acabar se sentindo ansioso também, criando uma sensação de desconforto e estresse.
O que fazer se você sofre de misocinesia?
Embora a misocinesia ainda não tenha um tratamento específico, é importante que aqueles que sofrem desse fenômeno saibam que não estão sozinhos.
O estudo revelou que muitas pessoas compartilham dessa condição, o que pode trazer um certo alívio para quem a vivencia.
Para aqueles que são mais afetados, procurar ajuda psicológica pode ser um passo importante.
Técnicas de controle de estresse, como meditação e terapia cognitivo-comportamental, podem ser úteis para lidar com a ansiedade e o desconforto causados pela visão de movimentos repetitivos.
Além disso, aumentar a conscientização sobre essa condição pode ajudar a reduzir o estigma associado a ela, fazendo com que as pessoas se sintam mais confortáveis para compartilhar seus sentimentos e procurar o apoio que precisam.
Se você se reconheceu nos sintomas descritos, talvez seja hora de explorar mais sobre a misocinesia e entender melhor como ela pode impactar sua vida.
E lembre-se: esse fenômeno não é tão raro quanto parece, e a ciência está apenas começando a entender o que acontece no cérebro das pessoas afetadas por ele.
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