Cogumelos mágicos: a ciência por trás dos efeitos da psilocibina no cérebro

Os chamados “cogumelos mágicos” – conhecidos por seus efeitos alucinógenos – têm despertado não apenas o interesse cultural, mas também o olhar atento da ciência.

O principal composto responsável por suas propriedades psicodélicas, a psilocibina, está no centro de pesquisas que investigam seu potencial terapêutico, especialmente no tratamento de transtornos mentais como a depressão.

Um estudo recente conduzido por pesquisadores da Universidade Cornell trouxe novas revelações sobre como essa substância age no cérebro, apontando mecanismos neuronais específicos por trás de seus efeitos duradouros.

O que são cogumelos mágicos e como a psilocibina age?

Os cogumelos do gênero Psilocybe contêm psilocibina, uma substância que, ao ser metabolizada no organismo, se converte em psilocina – o composto psicoativo responsável pelas alterações de percepção, humor e cognição.

Ao contrário de drogas como o álcool ou estimulantes, que atuam principalmente em sistemas de recompensa, a psilocibina interage fortemente com receptores de serotonina no cérebro, especialmente o subtipo 5-HT2A.

Esse receptor está amplamente distribuído em regiões cerebrais associadas à regulação emocional, cognição e processamento sensorial. Quando a psilocibina se liga a ele, desencadeia uma cascata de efeitos que incluem desde alterações visuais e sinestesia até mudanças profundas na forma como o indivíduo processa memórias e emoções.

Separando os efeitos terapêuticos das alucinações

O estudo liderado por Alex Kwan, professor associado de engenharia biomédica na Universidade Cornell, publicado na revista Nature, trouxe uma descoberta crucial: os efeitos antidepressivos da psilocibina podem estar dissociados de suas propriedades alucinógenas.

A pesquisa focou em um tipo específico de neurônio – as células piramidais do trato cortical – e seu papel na mediação dos efeitos da substância.

Utilizando técnicas avançadas de neuroimagem e manipulação genética, os cientistas observaram que, ao silenciar esses neurônios em certas áreas do córtex frontal medial, os benefícios terapêuticos da psilocibina permaneciam, enquanto os efeitos perceptivos (as alucinações) eram reduzidos.

Isso sugere que a região frontal do cérebro é fundamental para os efeitos antidepressivos, enquanto as alucinações provavelmente dependem de outras vias, como as relacionadas ao processamento visual.

Essa distinção é importante porque abre caminho para o desenvolvimento de fármacos que possam oferecer os benefícios da psilocibina sem os efeitos psicodélicos intensos – um dos principais obstáculos para sua adoção em tratamentos convencionais.

Como preservar os benefícios sem a “viagem”?

Atualmente, grandes empresas farmacêuticas buscam compostos que mantenham a eficácia antidepressiva da psilocibina, mas eliminem ou reduzam as alucinações. No entanto, como o estudo de Cornell demonstrou, ambos os efeitos estão ligados ao mesmo receptor (5-HT2A), o que complica essa separação.

Uma possibilidade seria administrar a droga de forma direcionada, apenas em áreas cerebrais específicas, em vez de afetar todo o cérebro. Essa abordagem, ainda em fase experimental, poderia ser viabilizada por meio de novas tecnologias de liberação controlada de medicamentos ou até mesmo por estimulação cerebral não invasiva.

O potencial terapêutico e os riscos

Além da depressão, a psilocibina tem sido estudada no tratamento de ansiedade, transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) e até mesmo dependência química.

Pesquisas clínicas mostram que, em ambientes controlados e com acompanhamento profissional, doses moderadas podem induzir estados de maior plasticidade cerebral, facilitando a reestruturação de padrões de pensamento negativos.

No entanto, seu uso recreativo sem supervisão traz riscos significativos. Experiências adversas – como crises de ansiedade, paranoia e até desencadeamento de transtornos psicóticos em indivíduos predispostos – são possíveis.

Além disso, a legalidade dos cogumelos mágicos varia amplamente pelo mundo, sendo proibidos na maioria dos países.

O futuro da pesquisa em psicodélicos

Os achados de Cornell reforçam a ideia de que a psilocibina e outros psicodélicos clássicos podem revolucionar a psiquiatria, mas ainda há muitos desafios pela frente. Compreender exatamente como modular seus efeitos no cérebro será essencial para transformá-los em terapias seguras e acessíveis.

Enquanto isso, a ciência segue explorando não apenas os mecanismos farmacológicos, mas também o papel do contexto (o “set and setting”) na experiência psicodélica. Afinal, como mostram décadas de pesquisa, o ambiente e o estado mental do indivíduo são tão cruciais quanto a própria substância.

O caminho para a regulamentação de tratamentos à base de psilocibina ainda é longo, mas cada nova descoberta – como a de Cornell – nos aproxima de um futuro onde compostos antes estigmatizados possam se tornar ferramentas valiosas no combate ao sofrimento mental.

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Michele Azevedo
Michele Azevedo

Formada em Letras - Português/ Inglês, pós-graduada em Arte na Educação e Psicopedagogia Escolar, idealizadora do site Escritora de Sucesso, empresária, redatora e revisora dos conteúdos do SaúdeLab.

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