Nem tudo é gordura: o que você pode estar perdendo ao emagrecer com Ozempic

O Ozempic (semaglutida), medicamento originalmente desenvolvido para o tratamento do diabetes tipo 2, tem ganhado destaque nos últimos anos por sua eficácia na perda de peso.

Embora seu uso para fins de emagrecimento venha crescendo, principalmente entre pessoas com sobrepeso ou obesidade, especialistas alertam para possíveis efeitos colaterais menos discutidos, como a perda de massa magra e alterações na força muscular.

Mas afinal, perder peso com Ozempic compromete a musculatura? A resposta é mais complexa do que parece e uma nova pesquisa pré-clínica levanta questões importantes que precisam ser respondidas por estudos em humanos.

O que é o Ozempic e por que ele promove perda de peso?

O princípio ativo do Ozempic é a semaglutida, um análogo do GLP-1 (peptídeo semelhante ao glucagon tipo 1), hormônio que atua no controle da glicose e no apetite.

Ao estimular a saciedade e retardar o esvaziamento gástrico, o medicamento reduz significativamente a ingestão calórica, promovendo a perda de peso.

Por sua eficácia, a semaglutida passou a ser prescrita também fora do escopo do diabetes, principalmente em pacientes com obesidade ou excesso de peso que enfrentam dificuldades para emagrecer com dieta e exercício.

No entanto, à medida que o uso se populariza, cresce a necessidade de compreender todos os seus efeitos fisiológicos, inclusive na composição corporal.

Perder peso com Ozempic reduz só gordura?

Em teoria, um emagrecimento saudável deve priorizar a redução de gordura corporal, com preservação da massa muscular.

No entanto, estudos recentes indicam que essa equação pode não ser tão simples quando se trata do uso de medicamentos como o Ozempic.

Uma nova pesquisa realizada em modelo animal (camundongos), publicada na revista científica Cell Metabolism, investigou os impactos da semaglutida sobre a massa magra e a força muscular.

Embora os resultados não possam ser automaticamente extrapolados para humanos, os achados levantam um sinal de alerta importante.

Segundo os pesquisadores, a perda de peso induzida pelo Ozempic levou a uma redução de aproximadamente 10% na massa magra total dos animais, embora a maior parte dessa perda tenha ocorrido em órgãos como o fígado que encolheu quase pela metade.

A massa muscular esquelética diminuiu cerca de 6% em média, com variações entre diferentes grupos musculares.

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Tamanho não é tudo: força muscular também pode ser afetada

Um dos pontos mais relevantes do estudo foi a constatação de que, em alguns músculos, a força gerada caiu mesmo quando o tamanho muscular se manteve estável.

Em outras palavras, a musculatura parecia intacta visualmente, mas estava funcionalmente mais fraca.

Esse dado sugere que a qualidade da musculatura pode ser comprometida, o que pode ter impactos reais na mobilidade e na qualidade de vida, especialmente em pessoas com mais de 60 anos, que já apresentam risco aumentado para perda muscular (sarcopenia) e limitação funcional.

Segundo o pesquisador Katsu Funai, PhD em fisiologia e autor sênior do estudo, é fundamental diferenciar perda de massa muscular de perda de força. “A perda de função física é um preditor importante não apenas de qualidade de vida, mas também de longevidade”, afirmou.

É motivo de preocupação para quem usa Ozempic?

Embora os dados sejam iniciais e provenientes de modelos animais, eles reforçam a necessidade de investigações clínicas em humanos.

A composição corporal humana responde de maneira diferente à perda de peso, e fatores como idade, sexo, alimentação e prática de atividade física interferem significativamente na manutenção da massa muscular.

Ainda assim, os especialistas defendem que futuros ensaios clínicos sobre Ozempic e outros medicamentos para emagrecimento devem incluir avaliações funcionais e não apenas medidas de peso ou percentual de gordura.

Além disso, é importante considerar que parte da redução muscular pode representar apenas um retorno ao equilíbrio natural.

Quando uma pessoa ganha peso, também costuma ganhar massa muscular adicional para sustentar o novo peso corporal.

Assim, ao emagrecer, parte dessa massa extra pode ser perdida sem prejuízo real à função muscular, desde que acompanhada de uma alimentação adequada e prática regular de exercícios, especialmente os de força.

Como preservar músculos durante o uso do Ozempic?

Para quem está em tratamento com Ozempic com foco na perda de peso, alguns cuidados são fundamentais para proteger a saúde muscular:

• Acompanhar com nutricionista: A ingestão adequada de proteínas é essencial para a preservação da massa magra.
• Praticar exercícios de resistência: Treinos com pesos, elásticos ou o próprio peso corporal ajudam a manter e até ganhar massa muscular.
• Monitorar a composição corporal: Sempre que possível, avalie não apenas o peso total, mas a proporção entre gordura e massa magra.
• Evitar dietas restritivas extremas: Mesmo com o uso de medicamentos, a qualidade da alimentação continua sendo determinante.

Perder peso com Ozempic é eficaz, mas como qualquer tratamento, envolve riscos e benefícios que precisam ser cuidadosamente avaliados.

A possível perda de força muscular, mesmo com manutenção do volume aparente dos músculos, é um aspecto que merece atenção da comunidade científica e dos profissionais de saúde.

Até que estudos em humanos tragam respostas mais definitivas, a orientação é que o uso de Ozempic seja sempre acompanhado por uma equipe multidisciplinar com endocrinologista, nutricionista e educador físico para garantir uma perda de peso saudável, funcional e sustentável.

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