Transtorno de personalidade borderline no cotidiano: 12 sintomas para reconhecer

Transtorno de personalidade borderline é uma condição de saúde mental que afeta a forma como a pessoa sente, pensa e se relaciona com os outros.

Pessoas com esse transtorno podem apresentar emoções intensas, flutuações de humor rápidas e dificuldades em manter relacionamentos estáveis.

Estima‑se uma prevalência na população geral em torno de 1% a 2%, embora números variem entre estudos.

Compreender o transtorno de personalidade borderline é o primeiro passo para oferecer apoio e buscar tratamento adequado.

Neste texto explicamos, sem estigmatizar, o que é, quais são os sinais mais comuns e como buscar ajuda.

O que é o transtorno de personalidade borderline?

Trata-se de um transtorno de personalidade caracterizado por um padrão persistente de instabilidade na regulação emocional, nos relacionamentos interpessoais e na autoimagem.

Clinicamente, o diagnóstico costuma ser feito quando a pessoa apresenta pelo menos cinco dos nove critérios descritos no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM-5, e quando essas alterações geram prejuízo significativo no funcionamento social, ocupacional ou em outras áreas da vida.

Pessoas com transtorno de personalidade borderline costumam apresentar:

  • Dificuldade em regular emoções, com reações intensas desproporcionais ao evento.
  • Relacionamentos instáveis, muitas vezes alternando entre idealização e desvalorização.
  • Problemas persistentes com identidade e autoestima, incluindo sensação de vazio.

Embora qualquer pessoa possa experimentar instabilidade emocional em momentos da vida, no transtorno de personalidade borderline esses padrões são frequentes, duradouros e interferem no dia a dia.

Possíveis causas e fatores de risco

O transtorno não tem uma causa única.

A formação do quadro costuma resultar da interação entre fatores biológicos, psicológicos e ambientais, tais como:

  • Predisposição genética e histórico familiar de transtornos psiquiátricos.
  • Experiências adversas na infância (abuso, negligência, separação precoce).
  • Diferenças neurobiológicas relacionadas à regulação emocional e à impulsividade.
  • Ambiente familiar e social marcado por instabilidade ou pouca disponibilidade afetiva.

Nem todas as pessoas com traumas ou vulnerabilidade genética desenvolvem o transtorno; trata‑se de um risco aumentado, não de determinismo.

Sintomas do transtorno de personalidade borderline

Embora o diagnóstico clínico seja baseado em critérios específicos (DSM-5), é possível identificar alguns sintomas mais comuns no cotidiano das pessoas com transtorno de personalidade borderline.

Esses sinais ajudam a reconhecer a condição e a buscar avaliação profissional.

Entre sintomas mais frequentes estão:

  • Medo intenso de abandono: preocupação constante de que amigos, familiares ou parceiros possam deixar a pessoa, mesmo em situações normais.
  • Mudanças rápidas de humor: oscilações emocionais que podem ocorrer em horas ou dias.
  • Relacionamentos instáveis: alternância entre idealizar e desvalorizar pessoas próximas.
  • Autoimagem negativa ou instável: sentimentos frequentes de inadequação, vergonha ou confusão sobre a própria identidade.
  • Impulsividade: comportamentos que podem trazer risco à saúde ou segurança, como gastos excessivos, uso de drogas, direção imprudente ou sexualidade impulsiva.
  • Crises de raiva: explosões emocionais intensas e dificuldade em controlar a irritação.
  • Sensação de vazio: sentimento persistente de que falta algo internamente, mesmo em momentos aparentemente positivos.
  • Autocrítica excessiva e culpa: tendência a se culpar de forma intensa por pequenas falhas.
  • Comportamentos autolesivos: cortes ou outros ferimentos intencionais para lidar com a dor emocional.
  • Pensamentos suicidas: ideação ou tentativas que exigem atenção e intervenção profissional imediata.
  • Dificuldade em confiar nas pessoas: medo constante de que outros possam ferir ou abandonar.
  • Confusão sobre identidade: incerteza contínua sobre objetivos, valores e quem se é.

Esses sintomas podem aparecer isoladamente ou em combinação, e sua intensidade varia ao longo do tempo.

Embora não correspondam literalmente a cada critério do DSM-5, eles refletem como o transtorno se manifesta na vida diária.

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Diferença para outros transtornos

O transtorno de personalidade borderline pode ser confundido com depressão, transtornos de ansiedade ou transtorno bipolar, pois compartilha sintomas como variações de humor e sentimentos de vazio.

A distinção clínica está no padrão persistente de instabilidade interpessoal e de identidade, bem como na impulsividade e nos comportamentos autolesivos, que caracterizam o transtorno de personalidade.

Diagnóstico e tratamento

O diagnóstico deve ser realizado por profissionais de saúde mental (psiquiatras, psicólogos) por meio de avaliação clínica detalhada, histórico de desenvolvimento e entrevistas padronizadas quando necessário.

O tratamento é multimodal e baseado em evidências:

  • Psicoterapia: terapias específicas para transtorno de personalidade borderline, com maior base de evidência, incluem a Terapia Comportamental Dialética (DBT), Terapia Focada em Transferência (TFP), Terapia Baseada em Mentalização (MBT) e Terapia do Esquema. A DBT possui vasta evidência para reduzir comportamento suicida e autolesivo e é frequentemente considerada terapia de primeira linha.
  • Medicação: não existe medicamento aprovado que cure o transtorno como um todo; fármacos podem ser usados para tratar sintomas específicos (p. ex., antidepressivos para depressão comórbida, estabilizadores para impulsividade, antipsicóticos atípicos em curto prazo). A prescrição deve ser individualizada e acompanhada por médico psiquiatra.
  • Apoio familiar e suporte: intervenções que envolvem educação familiar e suporte social melhoram o prognóstico.
  • Gestão de risco: devido ao risco aumentado de suicídio e autolesão, planos de segurança e acompanhamento próximo são fundamentais.

Com tratamento adequado e acompanhamento prolongado, muitas pessoas apresentam redução importante dos sintomas e melhoras na qualidade de vida.

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Apoio e estratégias para o dia a dia

Além do tratamento profissional, algumas estratégias podem ajudar no manejo cotidiano:

  • Registrar emoções (como em um diário) para aumentar a consciência e facilitar a regulação emocional.
  • Praticar técnicas de respiração e tolerância ao estresse, como as ensinadas na Terapia Comportamental Dialética (DBT): exercícios de atenção plena (mindfulness), estratégias de enfrentamento em momentos de crise (ex.: usar gelo nas mãos, respiração diafragmática, distrações saudáveis), além de técnicas para aceitar emoções difíceis sem agir impulsivamente.
  • Manter rotina regular (sono, alimentação, atividades) para favorecer a estabilidade emocional.
  • Participar de grupos de apoio ou psicoeducação, reduzindo o isolamento e promovendo trocas de experiência.

É fundamental combater o estigma: o transtorno de personalidade borderline não é culpa da pessoa. Trata‑se de uma condição tratável que exige cuidado, compreensão e suporte.

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Referências

  • American Psychiatric Association. Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders. 5th ed., text rev. (DSM-5-TR). Arlington: APA; 2022. Disponível em: https://psychiatry.org/psychiatrists/practice/dsm
  • World Health Organization. International Classification of Diseases 11th Revision (ICD-11). Geneva: WHO; 2019. Disponível em: https://icd.who.int/
  • Leichsenring F, Leibing E, Kruse J, New AS, Leweke F. Borderline personality disorder. Lancet. 2011;377(9759):74-84. doi:10.1016/S0140-6736(10)61422-5
  • Stoffers-Winterling JM, Völlm BA, Rücker G, Timmer A, Huband N, Lieb K.
  • Psychological therapies for people with borderline personality disorder. Cochrane Database Syst Rev. 2022;5(5):CD005652. doi:10.1002/14651858.CD005652.pub3
  • Ministério da Saúde (Brasil). Quando procurar ajuda? — Saúde Mental. Brasília: Ministério da Saúde; 2021. https://www.gov.br/saude/pt-br/composicao/saes/dgh/noticias/2021/quando-procurar-ajuda
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Kethlyn Bukner
Kethlyn Bukner

Graduanda de Biomedicina pela Unicesumar no Paraná, também possui quatro anos de experiência na área de Farmácia, através do curso técnico.

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