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Troca de pratos no cardápio testada em estudo surpreende com impacto na saúde e no planeta
A simples troca de pratos no cardápio semanal de refeitórios e cantinas pode trazer benefícios significativos para a saúde das pessoas e para o planeta; e o mais surpreendente: sem que ninguém perceba mudanças drásticas no que é servido.
Estudo realizado em um refeitório universitário no Reino Unido, mostrou que pequenas alterações na ordem em que as refeições são oferecidas reduziram em até 30,7% a pegada de carbono e em 6,3% o consumo de gorduras saturadas.
A pesquisa revela que não é preciso reformular receitas nem criar pratos totalmente novos para causar impacto positivo.
Basta reorganizar o menu de forma estratégica para influenciar, de maneira sutil, as escolhas alimentares.
Como a troca de pratos no cardápio funciona
A ideia por trás da troca de pratos no cardápio é simples: alterar a combinação e a ordem em que as opções aparecem ao longo da semana para modificar o “ambiente de decisão” do consumidor.
Em refeitórios, geralmente há um número fixo de opções por dia, e cada pessoa escolhe apenas um prato.
Isso significa que, se uma refeição mais saudável ou com menor impacto ambiental aparece no mesmo dia que um prato muito popular e mais “pesado”, ela terá menos chances de ser escolhida.
Mas, se for colocada em outro dia, competindo com opções menos atrativas, a probabilidade de ser escolhida aumenta.
No estudo, o cardápio semanal tinha 15 pratos diferentes, divididos em cinco dias, com três opções por dia (carne/peixe, vegetariana e vegana).
Os pesquisadores testaram mais de 100 mil formas diferentes de organizar esses pratos, mantendo sempre ao menos uma opção vegana por dia.
Por exemplo: imagine que na segunda-feira o prato de carne mais popular é uma lasanha com alto teor de gordura, e a opção vegana é um escondidinho de legumes. Poucos escolheriam o escondidinho se ele estivesse ao lado da lasanha. Mas, se for oferecido em outro dia, junto de pratos menos concorridos, ele passa a ser pedido com mais frequência. Esse simples reposicionamento muda o resultado final sem tirar nenhum prato do cardápio.
No experimento real, os cientistas usaram um cálculo matemático para escolher a sequência de pratos que geraria a menor emissão de gases de efeito estufa e o menor consumo de gorduras saturadas; e tudo isso sem alterar nenhuma receita.
Resultados surpreendentes com mudanças sutis
Ao longo de um período total de quatro semanas de coleta de dados, cerca de 300 estudantes participaram do experimento.
O cardápio otimizado foi aplicado em duas semanas específicas (uma para cada conjunto de pratos testado).
Nessas semanas, a redução nas emissões de carbono foi de 30,7% e a ingestão de gorduras saturadas caiu 6,3%.
Para se ter uma ideia, essa redução na pegada de carbono representou quase 40% do caminho necessário para que as refeições servissem como exemplo dentro das diretrizes internacionais para uma alimentação saudável e sustentável, como as propostas pela comissão EAT–Lancet.
E o mais interessante: os pratos preferidos pelos estudantes continuaram disponíveis, e o nível de satisfação praticamente não mudou.
Ou seja, a mudança foi quase invisível para quem comia, mas significativa para o meio ambiente e para a saúde.
Por que isso é importante para a saúde
A redução no consumo de gorduras saturadas é um ponto crucial.
Esse tipo de gordura, encontrado principalmente em carnes gordas, laticínios integrais e frituras, está associado ao aumento do colesterol e ao risco de doenças cardiovasculares.
Ao reorganizar o menu, os pesquisadores conseguiram fazer com que os alunos, sem perceber, optassem com mais frequência por pratos mais leves, ricos em fibras e com menos gordura saturada.
Esse é um exemplo de como a troca de pratos no cardápio pode ser uma ferramenta de saúde pública.
Impactos ambientais positivos
Além da saúde, o impacto ambiental também merece destaque.
As escolhas alimentares estão diretamente ligadas à emissão de gases de efeito estufa, ao uso de água, à ocupação de terras e à poluição dos ecossistemas.
No estudo, a simples reordenação das refeições também indicou potencial para reduções expressivas em outros indicadores nas simulações feitas pelos pesquisadores, como menor uso de água e de terras, além de menos poluição causada por nutrientes em excesso (eutrofização).
Nessas análises simuladas, em alguns casos também houve aumento na ingestão de fibras e redução do consumo de sal e açúcar.
Onde a estratégia pode ser aplicada
A técnica de troca de pratos no cardápio é fácil de aplicar e pode ser adotada em diversos ambientes: escolas, universidades, hospitais, empresas, restaurantes e até mesmo em casa.
Em instituições que servem refeições para muitas pessoas, como redes de ensino e hospitais, a mudança pode ter um efeito ainda mais expressivo, já que pequenas variações no comportamento alimentar, quando multiplicadas por milhares de refeições, resultam em grandes impactos.
Não é sobre proibir, e sim reorganizar
Um dos pontos mais interessantes do método é que ele não impõe restrições nem obriga ninguém a mudar de hábito de forma brusca.
Os pratos menos saudáveis ou mais poluentes continuam no cardápio, mas são oferecidos em dias e combinações que diminuem as chances de serem escolhidos com frequência.
Isso torna a aceitação maior, pois as pessoas não sentem que estão perdendo opções, apenas passam a escolher de forma diferente, mesmo que de maneira inconsciente.
A troca de pratos no cardápio mostra que, com planejamento e inteligência na organização das opções, é possível transformar o impacto de milhares de refeições sem alterar o sabor ou a satisfação de quem consome.
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