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Vacinação por fio dental pode revolucionar a imunização sem uso de agulhas
Pesquisadores descobriram uma nova forma de aplicar vacinas utilizando o fio dental como método de entrega. A técnica, testada com sucesso em modelos animais, estimula defesas imunológicas diretamente nas mucosas do corpo (principal porta de entrada de vírus como gripe e COVID-19).
Vacinação por fio dental pode parecer algo improvável, mas uma pesquisa recente aponta essa técnica como uma nova e promissora via de imunização.
Aplicando a vacina diretamente no sulco gengival (o espaço entre os dentes e a gengiva) cientistas observaram uma resposta imune eficaz nas mucosas, locais estratégicos para bloquear a entrada de vírus como influenza e COVID-19.
A inovação promete facilitar o acesso às vacinas, eliminar o uso de agulhas e estimular a proteção onde ela é mais necessária: nas portas de entrada do organismo. Entenda como funciona aqui, no SaúdeLAB.
Um novo caminho para imunizar sem agulhas
A ideia de receber uma vacina sem agulha pode parecer futurista, mas está mais próxima da realidade do que se imagina.
Um grupo de pesquisadores norte-americanos propôs um método inovador de vacinação por fio dental, no qual a substância vacinal é aplicada diretamente no sulco gengival (espaço entre a gengiva e o dente).
A novidade foi publicada na Nature Biomedical Engineering e despertou atenção por combinar facilidade de aplicação, segurança e uma resposta imune robusta tanto no sangue quanto nas mucosas.
Essa abordagem tem potencial para transformar a forma como enfrentamos doenças infecciosas de transmissão respiratória.
Por que vacinar pelas mucosas?
Grande parte dos vírus que causam doenças respiratórias entra no corpo por meio das mucosas, como as do nariz, boca e pulmões.
Ainda assim, a maioria das vacinas é administrada por via intramuscular, o que gera anticorpos no sangue, mas nem sempre ativa uma resposta efetiva nas superfícies mucosas.
“O diferencial desse novo método é que ele consegue estimular a produção de anticorpos diretamente nessas regiões de entrada dos vírus, criando uma barreira de defesa local antes que o patógeno chegue à corrente sanguínea”, explica o Dr. Harvinder Singh Gill, professor de nanomedicina e um dos autores do estudo.
O papel estratégico do sulco gengival
O alvo da técnica é o chamado epitélio juncional, tecido que reveste a base do sulco gengival (aquela pequena depressão entre o dente e a gengiva).
Diferentemente de outras mucosas do corpo, essa região é mais permeável e permite a passagem de células imunes, funcionando como um ponto de vigilância contra microrganismos.
Essa característica a torna um local promissor para a introdução de antígenos vacinais. Ao aplicar a vacina com fio dental nessa área, os pesquisadores observaram uma resposta imune eficaz, com produção de anticorpos tanto no sangue quanto nas mucosas.
Como funciona a vacinação por fio dental?
Nos experimentos com camundongos, os cientistas aplicaram diferentes tipos de vacinas em fio dental não encerado, que foi então passado entre os dentes dos animais, exatamente onde se localiza o epitélio juncional.
O resultado foi comparado a outras formas de aplicação mucosal, como a sublingual e a intranasal.
A vacinação por fio dental gerou uma resposta de anticorpos superior à sublingual e equivalente à nasal, que hoje é considerada o padrão-ouro para imunização por mucosa.
Além disso, o método se mostrou eficaz para diferentes tipos de vacina: de peptídeos, proteínas, vírus inativados e até mRNA — como as utilizadas contra a COVID-19.
Uma alternativa mais segura que a via nasal
Embora a aplicação nasal também estimule anticorpos nas mucosas, ela apresenta riscos em casos específicos. Algumas formulações podem migrar para o cérebro, levantando preocupações de segurança.
O novo método evita esse risco por completo, já que o epitélio juncional é uma mucosa de fácil acesso e sem conexão direta com o sistema nervoso central.
Outro ponto positivo é a tolerância: nos testes com animais, mesmo após a ingestão de alimentos ou água logo após a aplicação, a resposta imunológica não foi prejudicada.
Testes em humanos mostram viabilidade
Para avaliar se a técnica poderia funcionar fora do laboratório, os pesquisadores convidaram 27 voluntários para simular a aplicação usando floss picks (pequenos suportes com fio dental esticado entre duas hastes).
Ao cobrir o fio com um corante fluorescente e observar a aplicação, eles constataram que cerca de 60% do corante era depositado corretamente no sulco gengival.
O dado é promissor e sugere que o método tem potencial de adaptação para uso em humanos com dispositivos simples e acessíveis.
Possíveis aplicações e desafios
A vacinação por fio dental pode ser especialmente útil em campanhas públicas ou em regiões onde o acesso à saúde é limitado.
Como não exige profissionais de saúde nem equipamentos especializados, ela pode ser autoadministrada e reduzir custos logísticos.
Além disso, é uma solução atraente para pessoas que têm fobia de agulhas, o que pode aumentar a adesão à imunização.
No entanto, há limitações. Bebês e crianças pequenas, que ainda não têm dentição completa, não seriam beneficiados por esse método. Também é preciso entender melhor a resposta imune em pessoas com doenças gengivais ou inflamações bucais crônicas.
Embora os resultados sejam preliminares, especialistas em imunologia e saúde bucal consideram a descoberta promissora.
E agora? Próximos passos
Com o sucesso das etapas iniciais, a equipe se prepara para avançar em novos testes clínicos, avaliar a formulação ideal para uso humano e desenvolver dispositivos práticos de aplicação. Um pedido de patente já foi registrado pelos inventores.
A depender dos resultados, a vacinação por fio dental poderá representar uma alternativa revolucionária à imunização tradicional.
Mais do que uma inovação tecnológica, é uma proposta que leva em conta acessibilidade, praticidade e eficácia, pilares cada vez mais importantes na saúde pública.
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