Estudo revela relação entre maus-tratos na infância e maior risco de TDAH em adolescentes

Recentemente, um estudo conduzido pela Faculdade de Medicina da USP e por Universidades Federais do Brasil revelou uma ligação preocupante entre maus-tratos na infância e o desenvolvimento de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) ao final da adolescência.

A pesquisa foi realizada no âmbito da Coorte de Nascimentos de 2004 de Pelotas, um dos maiores estudos longitudinais do país. Segundo os pesquisadores, as crianças que sofrem maus-tratos, sejam eles físicos ou psicológicos, apresentam maior risco de manifestar sintomas de TDAH na adolescência.

Além disso, foi observado que crianças geneticamente mais propensas ao TDAH podem também estar em maior risco de sofrer maus-tratos.

A Coorte de Pelotas e a pesquisa de longo prazo sobre o desenvolvimento do TDAH

O estudo analisou dados de mais de quatro mil pessoas nascidas em Pelotas, no Rio Grande do Sul, desde 2004. Esse acompanhamento permitiu aos pesquisadores observarem o desenvolvimento físico e psicológico dos participantes desde a infância até o início da vida adulta.

Os sintomas de TDAH foram relatados tanto pelos responsáveis durante a infância quanto pelos próprios adolescentes ao completarem 18 anos, permitindo uma análise abrangente do impacto dos maus-tratos ao longo do tempo.

A professora Luciana Tovo-Rodrigues, da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e uma das autoras do estudo, explicou que os resultados indicam um “mecanismo evocativo”.

Em outras palavras, a genética que predispõe ao TDAH pode fazer com que as crianças manifestem comportamentos, como agitação e desatenção, que, por sua vez, geram reações negativas e maus-tratos dos responsáveis.

Maus-tratos e sua influência no desenvolvimento dos sintomas de TDAH

Os pesquisadores ressaltam que os maus-tratos durante a infância podem ser tanto físicos quanto emocionais, e ambos parecem agravar os sintomas do TDAH.

A professora Alicia Matijasevich, da USP, uma das autoras do estudo, destaca que qualquer tipo de maus-tratos aumenta o risco de desenvolvimento de sintomas de TDAH. Esse dado reforça a importância de um ambiente acolhedor e seguro para o desenvolvimento das crianças, pois o estresse e o trauma na infância podem ter consequências a longo prazo.

Além disso, dados do Ministério da Saúde indicam que cerca de 7,6% das crianças brasileiras apresentam sintomas de TDAH, com sinais como desatenção, impulsividade e hiperatividade, normalmente identificados na infância.

Esses sintomas podem interferir significativamente no desempenho escolar e na convivência social, impactando o desenvolvimento geral e a qualidade de vida da criança.

A influência da genética no desenvolvimento do TDAH

Outro ponto relevante abordado no estudo é o papel da genética no TDAH. Foram feitas análises genéticas a partir de amostras de saliva dos participantes ainda durante a infância.

Os pesquisadores identificaram variantes genéticas específicas que já foram associadas ao TDAH em estudos internacionais. Esses dados indicam que fatores genéticos desempenham um papel significativo na predisposição ao transtorno.

Esse é um dos primeiros estudos desse tipo realizado no Brasil e se destaca por ter sido conduzido em um país de renda média, o que traz um panorama único e diverso em comparação com a maioria dos estudos anteriores, realizados principalmente em países de alta renda.

A importância de um ambiente seguro e de apoio para as crianças

O estudo da USP e das Universidades Federais do Rio Grande do Sul e de Pelotas oferece evidências robustas de que a presença de maus-tratos durante a infância pode agravar os sintomas de TDAH.

Além disso, indica que o transtorno pode estar relacionado a uma complexa interação entre fatores genéticos e ambientais, sugerindo que crianças com predisposição genética para o TDAH podem enfrentar ainda mais dificuldades se expostas a um ambiente desfavorável.

Diante desses achados, é essencial que pais, responsáveis e educadores estejam atentos aos sinais de maus-tratos e busquem criar um ambiente seguro e estimulante para as crianças.

Afinal, o apoio emocional e o cuidado na infância podem fazer uma diferença significativa no desenvolvimento psicológico e na saúde mental de um indivíduo a longo prazo.

Fonte: Jornal da USP

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Redação SaúdeLab
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