Alimentos ultraprocessados e doença cardiovascular: pesquisa aponta mitos e verdades

Os alimentos ultraprocessados ocupam uma parcela significativa da dieta moderna, especialmente em países como os Estados Unidos, onde representam entre 60% e 70% da alimentação diária.

Essa realidade tem levantado preocupações sobre os impactos desses alimentos na saúde, especialmente em relação ao risco de doenças cardiovasculares.

Recentemente, uma publicação do periódico The Lancet Regional Health trouxe luz ao tema, analisando dados de mais de 1,2 milhão de participantes em estudos internacionais e constatando associações alarmantes entre o consumo de ultraprocessados e problemas cardíacos.

O estudo revelou que uma alta ingestão de alimentos ultraprocessados pode aumentar o risco de doenças como infarto, acidente vascular cerebral (AVC) e outras condições cardiovasculares.

Hoje, aqui no SaúdeLAB, vamos entender o que são esses alimentos, por que eles preocupam especialistas e quais os principais achados sobre sua relação com a saúde do coração.

O que são alimentos ultraprocessados e por que eles são importantes?

Os alimentos ultraprocessados são produtos industrializados que passam por diversas etapas de processamento e incluem aditivos químicos para garantir maior durabilidade, melhorar o sabor e otimizar a textura.

Exemplos incluem biscoitos recheados, refrigerantes, salgadinhos, macarrão instantâneo e refeições congeladas. Esses alimentos costumam conter níveis elevados de açúcares, gorduras saturadas, sódio e calorias, além de conservantes, emulsificantes e intensificadores de sabor.

O impacto deles na saúde é preocupante, pois grande parte da população global depende desses produtos para compor suas refeições diárias.

Estudos mostram que o consumo frequente de alimentos ultraprocessados está associado ao aumento de peso, alterações no microbioma intestinal e desenvolvimento de doenças metabólicas, como o diabetes tipo 2.

Além disso, a exposição a componentes presentes nas embalagens, como bisfenóis, também é relacionada a problemas de saúde, ampliando os riscos para os consumidores.

A relevância do tema se torna ainda mais evidente ao considerar que, em muitos países, o acesso a alimentos naturais é limitado, forçando a população a recorrer a opções ultraprocessadas como principal fonte alimentar.

Os efeitos dos alimentos ultraprocessados na saúde cardiovascular

O estudo publicado no The Lancet Regional Health analisou dados de três coortes de profissionais de saúde nos Estados Unidos, além de uma metanálise que incluiu 22 coortes internacionais, somando mais de 1,2 milhão de participantes.

Os resultados foram alarmantes: pessoas que consomem alimentos ultraprocessados em grande quantidade têm um risco 23% maior de desenvolver doença cardíaca coronária, 17% maior de doenças cardiovasculares em geral e 9% maior de sofrer AVC.

Esses resultados destacam a relação direta entre o consumo de alimentos ultraprocessados e o aumento de fatores de risco cardiovascular, como obesidade, dislipidemia (níveis elevados de colesterol e triglicerídeos), resistência à insulina e inflamação crônica.

Além disso, o impacto negativo no microbioma intestinal, causado por aditivos químicos, contribui para uma resposta inflamatória generalizada, prejudicando ainda mais a saúde do coração.

Quando analisados por tipo de alimento, foi constatado que alguns produtos têm maior impacto sobre o risco cardiovascular, indicando que o consumo de ultraprocessados deve ser avaliado com cautela.

Quais são as lacunas no conhecimento sobre alimentos ultraprocessados?

Embora as evidências sejam robustas, ainda existem áreas que necessitam de maior investigação. Uma das principais lacunas é a identificação exata de quais componentes nos alimentos ultraprocessados contribuem mais significativamente para os efeitos adversos à saúde.

A presença de aditivos, como emulsificantes e conservantes, e os impactos dos resíduos químicos das embalagens ainda não foram completamente desvendados.

Além disso, as interações entre os ultraprocessados e fatores genéticos ou comportamentais também merecem atenção. Por exemplo, indivíduos com predisposição genética para doenças cardiovasculares podem ser mais vulneráveis aos efeitos desses alimentos.

Estudos futuros devem focar em estratégias para mitigar os riscos, promovendo reformulações industriais e incentivando escolhas alimentares mais saudáveis.

Apesar dessas lacunas, os dados já disponíveis são suficientes para justificar mudanças no padrão alimentar global e uma maior regulamentação da indústria alimentícia.

Como reduzir o consumo de alimentos ultraprocessados no dia a dia?

Substituir alimentos ultraprocessados por opções naturais é um passo essencial para proteger a saúde do coração. Isso pode ser feito adotando hábitos simples, como:

  • Priorizar alimentos frescos: frutas, legumes, grãos integrais e proteínas magras devem ser a base da dieta.
  • Preparar refeições em casa: evitar refeições prontas e dar preferência a pratos caseiros reduz significativamente o consumo de aditivos químicos.
  • Ler rótulos com atenção: identificar produtos com menos ingredientes artificiais pode ajudar a fazer escolhas mais saudáveis.
  • Evitar bebidas açucaradas: trocar refrigerantes por água ou sucos naturais é uma mudança simples, mas com grande impacto positivo.

Políticas públicas e campanhas de conscientização também são fundamentais para educar a população sobre os riscos dos ultraprocessados e incentivar práticas alimentares mais equilibradas.

Os alimentos ultraprocessados representam um desafio significativo para a saúde pública. Estudos recentes confirmam que o consumo elevado desses produtos está associado a um aumento considerável do risco de doenças cardiovasculares e metabólicas, além de outros desfechos de saúde preocupantes.

Embora seja impossível eliminar completamente os ultraprocessados do cotidiano, reduzir seu consumo e optar por alimentos naturais são medidas eficazes para minimizar os riscos.

Por fim, cabe aos governos, indústrias e profissionais de saúde trabalharem juntos para criar um ambiente alimentar mais saudável, acessível e sustentável.

Fonte: Medscape

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Redação SaúdeLab
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