A relação entre o intestino e o cérebro em pessoas com autismo: O que a ciência diz

A conexão entre o intestino e o cérebro, também chamada de “eixo intestino-cérebro”, tem sido amplamente discutida na ciência, especialmente no contexto de pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA).

Embora essa relação tenha sido tratada em muitos mitos e informações erradas, pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e do Institut Pasteur de São Paulo (IPSP) vêm tentando esclarecer de forma científica esse vínculo.

A pesquisa, liderada pela cientista Anita Brito, revelou diferenças no padrão gastrointestinal de indivíduos com e sem TEA, apontando que a genética desempenha um papel crucial, mas que fatores ambientais, como a amamentação e o uso de antibióticos durante a gestação, também podem influenciar o quadro.

Neste artigo, do SaúdeLAB, vamos explicar essas descobertas e como elas podem ajudar a entender melhor as questões digestivas enfrentadas por pessoas com autismo, além de desmistificar algumas das ideias erradas que circulam sobre o tema.

Entendendo a relação intestino-cérebro em pessoas com autismo

Pesquisas recentes indicam que pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) têm padrões gastrointestinais diferentes daqueles sem o diagnóstico. Isso significa que questões como cólicas intestinais, refluxo, constipação e diarreia são mais prevalentes entre indivíduos no espectro autista.

Segundo Anita Brito, pesquisadora do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, essa diferença não é apenas um detalhe, mas uma parte importante para entender melhor as condições de saúde desses indivíduos.

O estudo realizado por Anita, em parceria com o doutorando Fernando Ribeiro Tocantins, focou em investigar como o ambiente e fatores genéticos podem afetar a saúde intestinal de pessoas com e sem autismo.

Eles notaram que, apesar dos problemas gastrointestinais serem comuns em ambos os grupos, o padrão e a intensidade dos sintomas eram mais marcantes nas pessoas com TEA.

Além disso, a pesquisa revelou que fatores ambientais, como o uso de antibióticos durante a gestação ou a falta de amamentação, podem influenciar esses problemas intestinais.

A amamentação, por exemplo, mostrou ser um fator protetor, mas apenas para os indivíduos sem autismo. Para os com TEA, a genética parece ter mais influência, o que sugere que, nesses casos, fatores hereditários podem ser mais significativos do que os ambientais.

A importância da amamentação e o uso de antibióticos

Uma parte importante da pesquisa foi avaliar como a amamentação poderia impactar os problemas gastrointestinais em crianças com autismo. No estudo, os pesquisadores dividiram os participantes em dois grupos: o grupo teste, composto por pessoas com TEA, e o grupo controle, composto por pessoas sem o transtorno.

A pesquisa mostrou que a amamentação teve um efeito protetor contra problemas intestinais no grupo controle, mas não foi suficiente para prevenir esses sintomas no grupo com TEA.

Anita Brito explica que esse resultado sugere que, embora a amamentação seja benéfica para a saúde intestinal das crianças sem TEA, ela não tem o mesmo efeito nas crianças com autismo, o que reforça a ideia de que fatores genéticos desempenham um papel crucial nos problemas gastrointestinais desses indivíduos.

Além disso, a pesquisa revelou que o uso de antibióticos durante a gestação pode alterar esse quadro, agravando os sintomas em crianças com TEA que não foram amamentadas.

Isso leva a uma importante conclusão: enquanto a amamentação é sempre um fator positivo para a saúde, especialmente para o sistema imunológico, sua influência na saúde intestinal de pessoas com autismo não é tão evidente quanto em pessoas sem o transtorno.

Outros fatores, como a genética, parecem ser determinantes para a gravidade dos sintomas gastrointestinais.

O papel da genética no transtorno do espectro autista

Uma das descobertas mais importantes dessa pesquisa foi o papel fundamental da genética na prevalência e intensidade dos problemas intestinais em pessoas com TEA.

Embora fatores ambientais como a amamentação e o uso de antibióticos possam influenciar esses sintomas, a pesquisa sugere que a genética tem um impacto mais significativo.

Fernando Ribeiro Tocantins, doutorando em neurociência computacional e coautor do estudo, destaca que os fatores genéticos influenciam diretamente o comportamento e o funcionamento do sistema nervoso e gastrointestinal em pessoas com autismo.

Segundo ele, isso pode explicar por que muitos indivíduos com TEA experimentam dificuldades gastrointestinais recorrentes, independentemente de fatores como a dieta ou a amamentação.

Além disso, a pesquisa levantou a hipótese de que certos genes podem predispor os indivíduos a distúrbios intestinais, criando uma interação complexa entre os sistemas nervoso e digestivo. Esses achados abrem novas possibilidades para tratamentos mais eficazes, que levem em conta a individualidade genética de cada paciente.

Possíveis implicações para o tratamento de problemas gastrointestinais

Os resultados do estudo podem ter um impacto significativo no tratamento de problemas gastrointestinais em pessoas com autismo. Atualmente, muitos tratamentos focam apenas na gestão dos sintomas, sem considerar profundamente a interação entre os fatores genéticos e ambientais.

A descoberta de que a genética desempenha um papel tão importante pode levar os médicos a adotarem abordagens mais personalizadas no tratamento de problemas digestivos em pessoas com TEA.

Isso inclui considerar a história genética do paciente e ajustar tratamentos para tratar não apenas os sintomas, mas também as causas subjacentes dos distúrbios intestinais.

Além disso, a pesquisa também sugere que a intervenção precoce e a compreensão mais profunda do papel da genética podem ajudar a prevenir ou minimizar os problemas gastrointestinais em crianças com autismo, melhorando a qualidade de vida delas.

A pesquisa realizada pelos cientistas da USP e do Institut Pasteur de São Paulo traz novas evidências que ajudam a entender melhor a relação intestino-cérebro em pessoas com autismo.

Ao desmistificar algumas das ideias erradas sobre o impacto de fatores ambientais como a amamentação e o uso de antibióticos, o estudo reforça a importância da genética na prevalência de problemas gastrointestinais em indivíduos com TEA.

Embora os fatores ambientais também possam ter influência, como a amamentação e o uso de antibióticos, é claro que a genética desempenha um papel fundamental.

Esses achados podem trazer novas abordagens para o tratamento de problemas gastrointestinais em pessoas com autismo, favorecendo um cuidado mais individualizado.

Além disso, eles abrem portas para mais pesquisas sobre como a genética pode ser utilizada para melhorar a saúde intestinal e a qualidade de vida de quem vive com o transtorno do espectro autista.

Leia também: Estudo comprova a importância das proteínas vegetais na saúde do coração

Fonte: Jornal da USP

Compartilhe seu amor
Redação SaúdeLab
Redação SaúdeLab

SaúdeLAB é um site de notícias e conteúdo sobre saúde e bem-estar que conta com profissionais de saúde que revisam todos os conteúdos.

Artigos: 140
plugins premium WordPress