Você deixaria colocar muco de lesma na sua boca? A inovação que está revolucionando o tratamento de feridas orais

Você teria coragem de usar muco de lesma para tratar feridas na boca? Pode parecer estranho à primeira vista, mas acredite: essa inusitada inspiração da natureza está prestes a revolucionar os tratamentos odontológicos.

Cientistas da Universidade de Harvard desenvolveram um hidrogel adesivo inspirado no muco pegajoso das lesmas, com propriedades únicas capazes de curar rapidamente lesões bucais e selar feridas causadas por procedimentos cirúrgicos.

Ao unir a sabedoria da natureza com a inovação científica, esse novo biomaterial promete oferecer uma solução eficiente e menos invasiva para quem sofre com feridas orais.

Quer saber como essa descoberta pode mudar o tratamento de feridas na boca? Continue lendo, aqui no SaúdeLAB!

O Bioadesivo inspirado na Lesma: O Segredo da Natureza

A ideia para o desenvolvimento deste hidrogel adesivo inovador surgiu quando cientistas da Harvard buscaram inspiração na natureza. Em suas pesquisas, observaram o comportamento das lesmas, que, quando ameaçadas, secretam um muco pegajoso para se proteger de predadores.

Esse muco tem propriedades extraordinárias: ele é capaz de aderir a superfícies molhadas e se esticar de 10 a 15 vezes seu comprimento original, oferecendo proteção e resistência. Essas características notáveis do muco das lesmas tornaram-se a base para o desenvolvimento de um biomaterial que poderia ser útil no tratamento de feridas orais.

Ao analisar as propriedades mecânicas do muco das lesmas, os pesquisadores descobriram que, quando combinado com um polímero natural derivado de algas e amplamente utilizado em materiais de impressão dentária, o hidrogel poderia ser produzido.

Esse biomaterial composto por 90% de água mostrou-se eficaz em superfícies molhadas e foi aprovado por não ser tóxico para os seres humanos.

Após extensos testes em laboratório com tecidos animais, a equipe de pesquisadores comprovou que o adesivo tem a capacidade de selar feridas com sucesso, o que abriu portas para novas possibilidades de tratamento, incluindo em áreas delicadas como a saúde bucal.

Essa descoberta, publicada na renomada revista Science em 2017, representa um avanço significativo no uso de biomateriais para a medicina.

Aplicações na Saúde Bucal: O Futuro dos Tratamentos Odontológicos

As possibilidades de aplicação do hidrogel adesivo vão além dos tratamentos tradicionais de feridas. Um dos maiores avanços é o uso do material para selar feridas bucais, como aquelas causadas por procedimentos odontológicos, como extrações dentárias e enxertos gengivais.

Esse adesivo inovador pode ser comparado a um “Band-Aid intraoral”, oferecendo uma maneira prática de proteger as feridas em ambientes úmidos, como a boca. O hidrogel tem a capacidade de se adaptar às superfícies dinâmicas da cavidade oral, proporcionando uma adesão duradoura e eficaz.

David Tiansui Wu, instrutor de medicina oral na Harvard School of Dental Medicine, foi um dos principais responsáveis pelo desenvolvimento desse produto, especialmente para sua aplicação em odontologia.

Wu, que esteve envolvido na pesquisa desde seus primeiros dias na universidade, trabalhou com o Dr. David Mooney, um dos principais especialistas em biomateriais. Durante seu doutorado, Wu teve a oportunidade de colaborar com Benjamin Freedman, que estava trabalhando na adaptação do adesivo para diversas áreas da medicina.

Com isso, Wu percebeu o potencial do hidrogel para tratar feridas bucais e decidiram concentrar seus esforços no desenvolvimento de um produto para a saúde oral. Essa colaboração foi fundamental para trazer o produto do laboratório para a prática clínica.

O hidrogel adesivo pode ser utilizado para selar locais cirúrgicos bucais, como alvéolos após extração dentária ou enxertos gengivais. Isso não só acelera o processo de cicatrização, mas também proporciona alívio significativo para o paciente, ajudando a reduzir o risco de infecção.

Além disso, a aplicação do adesivo permite que o paciente tenha mais conforto durante o processo de recuperação, evitando complicações associadas ao uso de curativos tradicionais ou à exposição das feridas à saliva e bactérias presentes na boca.

O Impacto Futuro no Tratamento de Lesões Orais

O potencial dessa tecnologia não se limita apenas a tratamentos pós-cirúrgicos, mas também pode beneficiar pacientes com condições inflamatórias crônicas que causam feridas na cavidade oral.

Doenças como a estomatite e úlceras orais podem ser aliviadas com o uso do adesivo, que pode ajudar a proteger as lesões da contaminação bacteriana e da irritação contínua pela saliva.

Além disso, o uso de hidrogel pode ser uma solução para quem sofre com feridas que não cicatrizam facilmente, proporcionando uma camada protetora que facilita a regeneração celular.

A pesquisa sobre o uso de biomateriais em tratamentos odontológicos está apenas começando, mas os resultados iniciais são promissores. Os cientistas esperam que, no futuro, o hidrogel adesivo inspirado na lesma possa ser amplamente utilizado por dentistas para tratar uma variedade de problemas bucais.

O desenvolvimento contínuo dessa tecnologia pode transformar os tratamentos odontológicos, oferecendo uma alternativa mais segura, eficaz e confortável para os pacientes.

A inovação trazida pela natureza pode ser a chave para melhorar o tratamento de feridas orais. O desenvolvimento de um hidrogel adesivo inspirado no muco das lesmas abre novas possibilidades para a odontologia, proporcionando um método mais eficaz e menos invasivo para selar feridas bucais.

Esse avanço científico, resultado da colaboração entre especialistas de diversas áreas, oferece esperança para pacientes que sofrem com lesões orais dolorosas ou que estão se recuperando de procedimentos cirúrgicos.

Com o potencial de melhorar a cicatrização, reduzir infecções e aumentar o conforto dos pacientes, esse biomaterial promete transformar o cuidado odontológico no futuro próximo.

Leia também: Infecção intestinal crônica pode desempenhar papel na progressão da doença de Alzheimer: aponta estudo

Fonte: Harvard Gazette