Voz pode revelar depressão? Estudo com IA tenta identificar os sinais

A depressão é uma condição séria que afeta milhões de pessoas em todo o mundo, mas muitas vezes passa despercebida. Isso acontece porque seus sintomas podem ser sutis no início e, por diversos motivos, muitas pessoas não procuram ajuda. Mas e se fosse possível detectar sinais de depressão apenas pela voz?

Um estudo recente publicado no The Annals of Family Medicine investigou o uso de inteligência artificial (IA) para analisar padrões de fala e identificar sinais dessa condição.

Os resultados mostraram que a tecnologia pode ser uma grande aliada na triagem da saúde mental, embora ainda esteja em fase de análise.

Neste texto, vamos explicar o que a pesquisa descobriu, como essa tecnologia pode facilitar o diagnóstico precoce da doença e como identificar a depressão a partir de seus sintomas.

A importância de reconhecer a depressão cedo

A depressão é um transtorno mental que pode afetar qualquer pessoa, independentemente da idade, sexo ou classe social.

No Brasil, o número de casos é alto: segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o país tem a maior taxa de depressão da América Latina.

Um estudo recente do Ministério da Saúde aponta que, nos próximos anos, até 15,5% da população brasileira pode vir a sofrer de depressão pelo menos uma vez ao longo da vida.

Apesar disso, muita gente não recebe o diagnóstico adequado.

Muitos pacientes não falam sobre seus sintomas por medo do preconceito ou simplesmente porque não reconhecem que precisam de ajuda.

Com isso, surge a questão: como identificar depressão?

Os especialistas buscam maneiras de tornar esse diagnóstico mais acessível e preciso, e a tecnologia pode ser uma das respostas.

O que diz o estudo sobre a detecção da depressão pela voz?

Pesquisadores dos Estados Unidos e do Canadá realizaram um estudo para entender se a inteligência artificial (IA) pode ajudar a detectar a depressão por meio da voz.

A ideia é que pessoas com depressão apresentam padrões de fala distintos, como pausas mais longas, hesitação ao falar, gagueira e um tom mais arrastado ou monótono.

Para testar essa hipótese, os pesquisadores coletaram gravações de fala de quase 15 mil adultos, que foram recrutados por meio de redes sociais.

Os participantes gravaram áudios de pelo menos 25 segundos, usando celulares ou computadores.

Além disso, responderam a um questionário padrão sobre sintomas depressivos.

As gravações foram analisadas por um modelo de aprendizado de máquina (um tipo de IA), que buscou identificar marcadores vocais associados à depressão.

Os participantes foram divididos em três grupos:

  • Provável depressão: padrões vocais que indicavam fortemente a presença da condição;
  • Sem sinais claros de depressão: nenhum marcador vocal significativo foi identificado;
  • Necessidade de avaliação adicional: casos em que os resultados não foram conclusivos.

O estudo mostrou que a IA conseguiu detectar corretamente sinais vocais de depressão em mais de 70% das amostras, o que demonstra um grande potencial para esse tipo de tecnologia.

O que os resultados revelaram?

Os pesquisadores analisaram quase 15 mil gravações e os resultados foram promissores: a IA teve uma taxa de acerto de 71,3% ao identificar casos de depressão e 73,5% ao descartar a condição em indivíduos sem sintomas.

Mas houve algumas diferenças nos resultados dependendo do perfil dos participantes.

Veja alguns achados importantes:

  • A precisão variou de acordo com o grupo étnico: a IA teve um desempenho melhor na identificação da depressão entre hispânicos/latinos (80,3%) e negros/afro-americanos (72,4%). Já na hora de descartar a condição, os grupos asiáticos e afro-americanos tiveram maior precisão (77,5% e 75,9%, respectivamente).
  • Diferenças entre homens e mulheres: a IA detectou mais casos em mulheres (74%), mas teve mais dificuldade em homens (59,3%). No entanto, ao descartar falsos diagnósticos, foi mais precisa no grupo masculino (83,9%) do que no feminino (68,9%).
  • Idade influenciou os resultados: o modelo funcionou melhor para adultos mais jovens (menos de 60 anos). Entre os mais velhos, a IA teve mais dificuldade em identificar corretamente os casos de depressão, possivelmente por mudanças naturais na voz com o envelhecimento.

Esses achados indicam que, embora a tecnologia seja promissora, ainda há desafios a serem superados antes de sua aplicação em larga escala.

A tecnologia pode substituir o diagnóstico clínico?

A resposta curta é: não. O uso da inteligência artificial para identificar sinais de depressão pela voz ainda está em fase de pesquisa.

Embora tenha se mostrado eficiente, a tecnologia não substitui a avaliação feita por um profissional de saúde mental.

Os pesquisadores destacam que essa ferramenta pode ser útil como um primeiro passo na triagem da depressão, ajudando profissionais especialistas a identificar pacientes que precisam de uma avaliação mais aprofundada.

Ou seja, seria uma forma de agilizar o processo, mas não de fechar um diagnóstico definitivo.

Além disso, é necessário continuar aprimorando o modelo, garantindo que ele funcione bem para diferentes grupos de pessoas, independentemente da idade, sexo ou etnia.

Como identificar depressão? Sintomas que merecem atenção

Se a inteligência artificial ainda está em fase de estudo, o que se sabe até agora sobre como identificar depressão?

De acordo com o Ministério da Saúde, a depressão apresenta sintomas que afetam tanto o emocional quanto o físico.

Alguns sinais incluem:

  • Humor deprimido: tristeza intensa, sentimento de culpa, sensação de vazio e perda da capacidade de sentir prazer;
  • Pensamentos negativos: autoestima baixa, pessimismo e, em casos mais graves, pensamentos suicidas;
  • Alterações no sono: insônia (dificuldade para dormir ou despertar durante a noite) ou excesso de sono;
  • Cansaço constante: falta de energia, lentidão no pensamento e dificuldades de concentração;
  • Mudança no apetite: perda de apetite ou, em alguns casos, aumento da vontade de comer (principalmente doces e carboidratos);
  • Desinteresse por atividades diárias: inclusive pela vida social e pela sexualidade;
  • Dores e sintomas físicos: mal-estar, dor no peito, palpitações, problemas digestivos, entre outros.

Se você ou alguém próximo apresentar esses sintomas de forma persistente, é fundamental buscar ajuda médica.

A depressão é uma doença tratável, e quanto mais cedo for identificada, melhores são as chances de recuperação.

O que esperar do futuro?

A pesquisa sobre o uso da voz na triagem da depressão abre caminho para novas possibilidades na área da saúde mental.

Ferramentas como essa podem facilitar o acesso ao diagnóstico, principalmente para pessoas que não costumam procurar ajuda médica.

No entanto, ainda há um longo caminho a percorrer.

Os especialistas precisarão continuar refinando os modelos para garantir maior precisão e evitar erros que possam levar a diagnósticos equivocados.

Enquanto isso, a melhor forma de identificar depressão continua sendo a observação dos sintomas e a busca por um profissional qualificado.

Se você sente que algo não está bem, não hesite em pedir ajuda. Afinal, cuidar da saúde mental é tão importante quanto cuidar do corpo.

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Redação SaúdeLab
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