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Fora da faixa do SUS: dados revelam avanço do câncer de mama em mulheres jovens
Câncer de mama é uma das doenças que mais atingem as mulheres no Brasil; e, ao contrário do que muitos pensam, ela não é exclusividade de quem já passou dos 50 anos.
Um levantamento revela que uma em cada três mulheres diagnosticadas com a doença tem menos de 50 anos, chamando a atenção para a urgência de ampliar o acesso à mamografia para faixas etárias que hoje estão fora da recomendação oficial.
Entre 2018 e 2023, mais de 108 mil brasileiras com menos de 50 anos descobriram que estavam com câncer de mama, segundo dados do Painel Oncologia Brasil, analisados pelo Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR).
Esse número representa cerca de 33% de todos os diagnósticos do país nesse período.
Uma proporção alarmante que levanta um debate importante: por que essas mulheres não estão incluídas nas diretrizes nacionais de rastreamento preventivo?
Câncer de mama: faixa etária recomendada está desatualizada, apontam especialistas
Atualmente, o Sistema Único de Saúde (SUS), seguindo orientações do Ministério da Saúde e do Instituto Nacional de Câncer (Inca), recomenda que mulheres entre 50 e 69 anos façam a mamografia a cada dois anos, mesmo que não apresentem sintomas.
Mas os dados mostram que essa política pode estar deixando de fora uma parte significativa da população feminina que enfrenta a doença:
- Mais de 71 mil diagnósticos confirmados de câncer de mama foram registrados entre mulheres de 40 a 49 anos, nos últimos cinco anos.
- Outras 19 mil mulheres tinham entre 35 e 39 anos no momento do diagnóstico.
- Entre as mulheres com mais de 70 anos, foram registrados mais de 53 mil casos de câncer de mama.
Esses números indicam que a doença também é uma realidade para quem está abaixo dos 50 anos ou acima dos 70, e que o rastreamento precisa ser ampliado para esses públicos.
Segundo o Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR), a exclusão dessas faixas etárias resulta em diagnósticos mais tardios, atrasos no início do tratamento e menor chance de cura.
Diagnóstico precoce pode salvar vidas
A mamografia é um dos exames mais eficazes para detectar o câncer de mama ainda em estágio inicial. E isso faz toda a diferença.
De acordo com especialistas, o rastreamento precoce pode reduzir em até 30% a mortalidade pela doença.
“O exame é uma ferramenta poderosa. Quanto mais cedo identificamos um tumor, maiores são as chances de tratamento e cura”, afirma Rubens Chojniak, presidente do Colégio Brasileiro de Radiologia.
Para ele, é essencial garantir que todas as mulheres, independentemente da idade, tenham acesso ao exame de forma regular.
Números que reforçam a urgência da mudança
Entre 2018 e 2023, o Brasil registrou 319 mil diagnósticos de câncer de mama. Desses, 157 mil foram em mulheres dentro da faixa recomendada (de 50 a 69 anos).
Ou seja, mais da metade dos casos ocorreu em mulheres fora da política de rastreamento atual.
Tal coisa, segundo o CBR, reforça a necessidade de rever os critérios adotados.
Além disso, o número total de diagnósticos aumentou 59% em apenas seis anos, passando de 40 mil casos em 2018 para mais de 65 mil em 2023.
Especialistas acreditam que esse crescimento está ligado, entre outros fatores, à falta de acesso ao diagnóstico precoce e à subnotificação em várias regiões do país.
Desigualdade regional dificulta acesso ao exame
Um dos pontos levantados pela coordenadora da Comissão Nacional de Mamografia, Ivie Braga, é a desigualdade no acesso à mamografia entre os estados.
Enquanto São Paulo lidera os diagnósticos com mais de 22 mil casos entre mulheres abaixo dos 50 anos, estados menores como Acre e Amapá têm números muito baixos.
Em outras palavras, isso pode indicar subnotificação, e não necessariamente uma incidência menor.
Essa diferença de acesso pode impactar diretamente o tempo de diagnóstico.
Em regiões onde o exame não está disponível com facilidade, as mulheres acabam descobrindo a doença em estágios mais avançados, quando o tratamento é mais difícil e menos eficaz.
Mulheres acima de 70 anos também precisam de atenção
O levantamento também chama a atenção para outro grupo negligenciado pelas diretrizes atuais: o das mulheres com mais de 70 anos.
Foram mais de 56 mil mortes por câncer de mama nessa faixa etária entre 2014 e 2023.
Muitas dessas mulheres continuam ativas, trabalham, cuidam da casa ou dos netos e levam uma vida saudável.
Ainda assim, enfrentam dificuldades para realizar exames preventivos.
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Mortalidade em alta: a pandemia agravou o cenário
O levantamento do CBR também analisou a mortalidade por câncer de mama nos últimos dez anos.
Entre 2014 e 2023, foram registradas mais de 173 mil mortes pela doença no Brasil.
O número de óbitos subiu de 14.622, em 2014, para 20.165, em 2023; um aumento de 38% na década.
A pandemia de covid-19 agravou ainda mais o problema.
Em 2020 e 2021, muitas mulheres deixaram de fazer seus exames de rotina, o que atrasou o diagnóstico e prejudicou o início do tratamento.
Em 2022 e 2023, os óbitos voltaram a subir, refletindo esse impacto acumulado.
Chama atenção o número de mulheres jovens que morreram nesse período.
Foram quase 39 mil óbitos em mulheres com menos de 50 anos, representando 22% de todas as mortes por câncer de mama na última década.
Estudos internacionais comprovam os benefícios do rastreamento mais cedo
De acordo com o CBR, outros países já adotaram políticas mais amplas de rastreamento e têm colhido bons resultados.
No Reino Unido, por exemplo, o estudo “Age Trial” mostrou que mulheres que começaram a fazer mamografia entre 40 e 49 anos tiveram 25% menos risco de morrer por câncer de mama.
A explicação é simples: quanto mais jovem a mulher, maior a tendência de a doença se desenvolver de forma agressiva e rápida.
Por isso, identificar o tumor logo no começo é essencial para salvar vidas e evitar tratamentos mais intensos e desgastantes.
Um chamado por mudanças na saúde pública
O Colégio Brasileiro de Radiologia e outros especialistas reforçam que a ampliação do rastreamento do câncer de mama para mulheres com menos de 50 anos e acima dos 70 é uma medida urgente.
Os dados são claros: milhares de mulheres estão sendo diagnosticadas tardiamente simplesmente porque não têm acesso ao exame preventivo.
É necessário repensar as políticas públicas de rastreamento, levando em consideração a realidade brasileira, os dados regionais e o aumento dos casos em faixas etárias não contempladas.
Ampliar o acesso à mamografia pode salvar milhares de vidas e deve ser tratado como prioridade no SUS.
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