O que o “xixi das cobras” pode ensinar sobre gota e pedras nos rins

Quem diria que o “xixi das cobras” poderia ensinar tanto sobre o corpo humano? Um estudo publicado no último dia 22 de outubro no Journal of the American Chemical Society mostra que esses répteis desenvolveram um sistema incrivelmente eficiente para eliminar o excesso de ácido úrico e amônia.

O interessante é que, em nós, seres humanos, o acúmulo dessas mesmas substâncias é justamente a causa de doenças dolorosas, como a gota e as pedras nos rins.

Um mecanismo natural engenhoso

Pesquisadores da Universidade de Georgetown, nos Estados Unidos, analisaram as excreções de mais de 20 espécies de répteis (incluindo pítons e jiboias).

Eles descobriram algo interessante.

O ácido úrico, que em humanos costuma se acumular nas articulações ou nos rins, forma nanocristais altamente organizados nas cobras.

Esses minúsculos cristais, chamados de urato monoidratado, funcionam como uma espécie de “esponja química”, capaz de capturar e imobilizar a amônia, uma substância tóxica que o corpo precisa eliminar.

Em vez de liberar resíduos líquidos, como fazemos na urina, as cobras expulsam o ácido úrico e os sais em forma sólida, economizando água e evitando que compostos tóxicos circulem em excesso no organismo.

Esse processo, que parece simples, é na verdade uma engenhosa adaptação evolutiva para sobreviver em ambientes quentes e áridos.

O que isso tem a ver com humanos

Embora o estudo tenha sido feito com répteis, ele ajuda a entender como o nosso corpo também lida com o ácido úrico e a amônia, duas substâncias que precisam ser eliminadas para evitar danos ao organismo.

A grande diferença é que as cobras têm um sistema que transforma essas substâncias em compostos sólidos e inofensivos, enquanto nós não temos essa mesma eficiência.

Isso acontece porque, há milhões de anos, os seres humanos perderam uma enzima chamada uricase, responsável por quebrar o ácido úrico.

Sem ela, o ácido úrico tende a se acumular no sangue e pode formar cristais nas articulações ou nos rins, dando origem à gota e às pedras renais.

Mesmo assim, o ácido úrico não é só vilão.

Os cientistas acreditam que, em pequenas quantidades, ele pode ajudar a eliminar amônia, funcionando como uma barreira de proteção natural contra o excesso dessa substância tóxica.

O problema é que, quando há desequilíbrio (por exemplo, por má alimentação, sedentarismo ou predisposição genética) o corpo passa a produzir mais ácido úrico do que consegue eliminar, e o mecanismo “trava”.

É nesse momento que os cristais se acumulam e causam inflamações e dor.

Da cobra ao laboratório

A descoberta dos nanocristais de ácido úrico nas cobras abre caminho para novas ideias na medicina.

Entender como esses animais conseguem transformar resíduos tóxicos em compostos estáveis e seguros pode inspirar tratamentos inovadores para equilibrar o ácido úrico e a amônia em humanos, e, quem sabe, prevenir doenças metabólicas no futuro.

Enquanto isso, o estudo deixa um lembrete poderoso de que a natureza é um laboratório cheio de soluções inteligentes.

Até o “xixi de cobra” pode esconder pistas valiosas sobre o funcionamento do nosso corpo.

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Michele Azevedo
Michele Azevedo

Formada em Letras - Português/ Inglês, pós-graduada em Arte na Educação e Psicopedagogia Escolar, idealizadora do site Escritora de Sucesso, empresária, redatora e revisora dos conteúdos do SaúdeLab.

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