Infarto e AVC: o que a colchicina tem a ver com isso?

Pouca gente sabe, mas um remédio antigo, barato e tradicionalmente usado no tratamento da gota voltou ao centro das discussões cardiológicas. Estamos falando da colchicina na prevenção cardiovascular, tema de uma revisão publicada no último dia 13 de novembro pela Cochrane — um grupo internacional reconhecido pela produção de revisões sistemáticas rigorosas e independentes.

A análise reuniu dados de quase 23 mil pessoas para entender se esse anti-inflamatório pode realmente ajudar quem já enfrentou um infarto, um AVC (derrame) ou vive com doença cardiovascular crônica.

Logo de início, o estudo reforça uma ideia que vem ganhando espaço na cardiologia. Além do colesterol, a inflamação silenciosa no organismo também influencia o risco de novos eventos.

E é justamente nesse ponto que a colchicina, um medicamento antigo e acessível, entra na conversa.

O que os pesquisadores descobriram sobre a colchicina e o coração

A revisão mostra que o uso contínuo de baixas doses de colchicina (normalmente 0,5 mg por dia) por pelo menos seis meses reduz o risco de dois eventos muito importantes: infarto e AVC.

Ou seja, para pessoas que já tiveram um desses problemas, o remédio pode oferecer uma proteção adicional.

A lógica por trás disso é simples.

Mesmo após tratar a obstrução das artérias e controlar bem o colesterol, muitas pessoas continuam com uma inflamação persistente no corpo.

Essa inflamação pode deixar as placas nas artérias mais instáveis, aumentando o risco de ruptura e, consequentemente, de um novo infarto ou derrame.

A colchicina, por ser um anti-inflamatório, atua justamente na redução desse processo.

Mas é importante deixar claro que ela não substitui outros medicamentos essenciais, como estatinas, aspirina ou anticoagulantes.

A colchicina funciona como um complemento, não como base do tratamento.

A colchicina ajuda a prevenir mortes por doenças cardiovasculares?

Segundo a revisão, provavelmente não.

O medicamento não reduziu de forma significativa o risco de morte, nem por qualquer causa, nem especificamente por causas cardíacas.

Em outras palavras, o maior benefício está em evitar novos eventos graves, mas não necessariamente em prolongar a vida.

E os efeitos colaterais?

Aqui, os pesquisadores também foram bastante objetivos:

  • A colchicina não aumenta o risco de efeitos colaterais graves.
  • Por outro lado, ela aumenta a ocorrência de desconfortos gastrointestinais, como diarreia, náuseas e dores abdominais.

No entanto, esses efeitos costumam ser leves e passageiros.

Por ser um medicamento que age no sistema imunológico e pode exigir ajustes de dose em casos específicos (como pacientes com doença renal), seu uso deve sempre ser acompanhado por um médico.

O que isso significa para quem já teve infarto ou AVC

Para pessoas que já passaram por um desses eventos, a revisão traz uma mensagem ao mesmo tempo positiva e cautelosa.

A colchicina na prevenção cardiovascular pode ser uma aliada para reduzir o risco de novos episódios, especialmente quando as terapias tradicionais não são suficientes para controlar a inflamação residual.

Mas ainda existem lacunas importantes:

  • Os estudos não avaliaram qualidade de vida.
  • Não há clareza sobre quem são os pacientes que mais se beneficiam.
  • Também não se sabe qual é a duração ideal do tratamento.
  • E a colchicina não reduziu a necessidade de revascularização (como angioplastia ou ponte de safena).

Por isso, os próprios autores reforçam que se trata de uma opção promissora, mas não de uma solução milagrosa.

Colchicina na prevenção cardiovascular

A evidência atual mostra que a colchicina na prevenção cardiovascular pode reduzir o risco de infarto e AVC em pessoas que já enfrentaram esses problemas, sem aumentar efeitos colaterais graves.

No entanto, o medicamento não diminui o risco de morte e não substitui os tratamentos tradicionais.

Assim, seu uso pode ser considerado (sempre com orientação médica) como parte de uma estratégia mais ampla para controlar a inflamação e reduzir o risco de novos eventos.

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Michele Azevedo
Michele Azevedo

Formada em Letras - Português/ Inglês, pós-graduada em Arte na Educação e Psicopedagogia Escolar, idealizadora do site Escritora de Sucesso, empresária, redatora e revisora dos conteúdos do SaúdeLab.

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