Antibióticos para gripe funcionam? O que a ciência mais recente mostra

É só o tempo virar que as farmácias passam a receber muita gente pedindo “um antibiótico para gripe”. A cena é conhecida: nariz entupido, febre baixa, tosse, catarro amarelado, e a sensação de que só um remédio “mais forte” vai dar conta do recado.

A ciência, porém, diz outra coisa há décadas. E agora ganhou mais um reforço importante.

Uma nova revisão da Cochrane Database of Systematic Reviews, uma das fontes mais respeitadas do mundo em evidência médica, analisou 11 estudos com mais de mil participantes.

Esses trabalhos compararam pessoas que tomaram antibióticos com outras que receberam placebo para tratar resfriado comum e rinite purulenta (o nariz escorrendo com secreção amarelada ou esverdeada).

O recado é que antibióticos não aceleram a melhora e ainda aumentam o risco de efeitos colaterais, especialmente em adultos.

A confusão entre gripe, resfriado e catarro colorido (amarelado ou esverdeado)

Antes de entender por que antibióticos para gripe não funcionam, é importante lembrar que gripe e resfriado são infecções virais.

A gripe costuma derrubar mais, com febre alta e mal-estar intenso; o resfriado, por sua vez, é mais leve. Mas em ambos os casos o causador é um vírus (e antibióticos só agem contra bactérias).

Mesmo assim, muita gente acredita que catarro amarelo ou esverdeado é sinal de infecção bacteriana.

A revisão da Cochrane mostra que essa ideia não se sustenta.

O muco colorido aparece pela inflamação do próprio organismo, não necessariamente por causa de bactérias. Por isso, tomar antibiótico durante um resfriado não faz o nariz “desentupir” mais rápido.

O que os estudos encontraram na prática

A revisão avaliou adultos e crianças com sintomas de resfriado ou rinite purulenta por menos de 10 dias, período em que a causa costuma ser viral e tende a melhorar sozinha.

Os resultados foram os seguintes:

  • Quem tomou antibiótico não melhorou mais rápido do que quem recebeu placebo.
  • A persistência dos sintomas foi praticamente igual entre os grupos.
  • Os efeitos colaterais foram mais frequentes em adultos, incluindo diarreia e desconforto gastrointestinal.

Na rinite purulenta (justamente onde mais se prescreve antibiótico de forma equivocada) o cenário também não mudou.

A duração da secreção nasal foi muito semelhante entre quem tomou o medicamento e quem não tomou.

Houve até uma pequena tendência de melhora, mas não significativa, segundo a revisão.

Quando o antibiótico faz sentido

O estudo aponta que nos primeiros dias de sintomas, antibiótico não vale a pena.

Existe, porém, uma exceção.

Quando o quadro persiste por mais de 10 dias, o médico pode suspeitar de sinusite bacteriana.

Nesse caso, sim, o antibiótico pode ser necessário, e a decisão deve ser feita por um profissional de saúde.

Fora isso, insistir em antibióticos para gripe ou resfriado só aumenta o risco de efeitos colaterais e ainda contribui para um problema mundial, que é a resistência bacteriana, quando micro-organismos se tornam cada vez mais difíceis de tratar.

O que o leitor pode levar dessa história

É importante saber que a maioria dos resfriados melhora em poucos dias com descanso, hidratação e medidas simples para aliviar os sintomas.O antibiótico é uma ferramenta valiosa da medicina, e justamente por isso precisa ser usado no momento certo.

Se o nariz entupiu, a garganta arranhou ou o catarro mudou de cor, isso não significa que um antibiótico vá antecipar a sua recuperação.

E agora, com a nova revisão da Cochrane, essa mensagem fica ainda mais forte.

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Michele Azevedo
Michele Azevedo

Formada em Letras - Português/ Inglês, pós-graduada em Arte na Educação e Psicopedagogia Escolar, idealizadora do site Escritora de Sucesso, empresária, redatora e revisora dos conteúdos do SaúdeLab.

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