Os benefícios da dieta cetogênica para o cérebro: descobertas sobre enxaqueca e depressão

Os benefícios da dieta cetogênica vão muito além da perda de peso, objetivo pelo qual ela ficou popular nos últimos anos.

Duas novas pesquisas científicas sugerem que esse padrão alimentar pode ter efeitos importantes no cérebro, ajudando a reduzir crises de enxaqueca e potencialmente melhorar sintomas de depressão, embora os especialistas reforcem que ainda é cedo para fazer recomendações definitivas.

O que é a dieta cetogênica

Antes de entender melhor os resultados, é importante explicar o que é a dieta cetogênica.

Trata-se de um plano alimentar com baixo consumo de carboidratos (menos de 50 gramas por dia, em versões mais flexíveis) e maior ingestão de gorduras saudáveis, com quantidade moderada de proteínas.

Esse formato “força” o corpo a buscar energia em outra fonte além da glicose, levando à produção de corpos cetônicos pelo fígado, um estado chamado de cetose nutricional.

Existem diferentes versões da dieta cetogênica:

  • A clássica, usada originalmente em contextos clínicos, em que cerca de 90% das calorias vêm de gorduras;
  • E variações mais moderadas, que podem ser mais fáceis de seguir no dia a dia.

Apesar dos possíveis benefícios, a dieta cetogênica deve ser feita com orientação profissional, já que cortar muitos carboidratos pode levar a desequilíbrios nutricionais ou até interferir em algumas doenças e medicamentos.

Enxaqueca: quando o cérebro entra em crise energética

Pesquisadores australianos publicaram na revista Brain and Behavior uma revisão mostrando que a enxaqueca crônica pode estar ligada a falhas no metabolismo do cérebro.

Em outras palavras, o cérebro de quem sofre desse problema tem dificuldade de produzir e usar energia corretamente.

Alguns fatores que contribuem para isso são:

  • mau funcionamento das mitocôndrias (as “usinas de energia” das células);
  • resistência à insulina, que dificulta a entrada da glicose nas células;
  • alterações no microbioma intestinal, que afetam a saúde como um todo;
  • inflamação e estresse oxidativo, que sobrecarregam os neurônios.

Com esse desequilíbrio, o cérebro passa a gastar mais energia do que consegue gerar, o que aumenta o risco de crises de enxaqueca.

A dieta cetogênica aparece como uma possível solução porque oferece ao cérebro outra fonte de energia: os corpos cetônicos, produzidos quando o corpo queima gordura.

Em alguns casos, eles podem suprir até 75% da necessidade energética cerebral, ajudando a:

  • reduzir a frequência das crises;
  • diminuir a intensidade das dores;
  • reduzir a necessidade de medicamentos em alguns pacientes.

Os estudos clínicos feitos até agora ainda são pequenos e variados, mas já apontam resultados animadores, como a redução do número de dias de dor por mês em pessoas com enxaqueca crônica.

Mesmo assim, os autores lembram que são necessários ensaios clínicos maiores e mais longos para confirmar esses efeitos.

Depressão: dieta cetogênica como aliada (ainda em estudo)

Outro estudo piloto, publicado na revista Translational Psychiatry, acompanhou estudantes universitários diagnosticados com depressão.

Além do tratamento tradicional com psicoterapia e/ou medicamentos, seguiram por 10 a 12 semanas uma versão bem estruturada da dieta cetogênica.
Os resultados chamaram a atenção:

  • os sintomas de depressão diminuíram em cerca de 60% a 70%;
  • houve aumento significativo da sensação de bem-estar;
  • os estudantes tiveram melhora em memória e velocidade de raciocínio;
  • houve perda de peso e redução da gordura corporal, favorecendo a saúde metabólica;
  • os exames de sangue mostraram aumento do BDNF, proteína que protege e fortalece os neurônios;
  • também foi observada queda da leptina, hormônio associado à inflamação e ao excesso de gordura.

Apesar dos achados positivos, os próprios autores alertam para algumas limitações:

  • o estudo não teve grupo de comparação (foi um “braço único”);
  • todos os participantes receberam acompanhamento nutricional e psicológico, o que pode ter influenciado os resultados;
  • não ficou claro se a melhora estava diretamente ligada ao nível de cetonas no sangue.

Por isso, ainda são necessários ensaios clínicos maiores e controlados para confirmar o papel da dieta cetogênica como coadjuvante no tratamento da depressão.

Um campo promissor, mas que exige cautela

Os estudos mostram que os benefícios da dieta cetogênica podem ser relevantes em casos de enxaqueca e depressão, mas ainda não é possível indicá-la como tratamento padrão.

Até agora, as pesquisas são iniciais, feitas com poucas pessoas e por períodos curtos de acompanhamento.

Além disso, a dieta não serve para todo mundo. Ela pode ser arriscada em situações como:

  • doenças renais ou hepáticas, que exigem controle rigoroso da alimentação;
  • transtornos alimentares, já que a dieta é muito restritiva;
  • uso de certos medicamentos, que podem interagir de forma indesejada com mudanças no metabolismo.

Mesmo em pessoas saudáveis, seguir esse padrão alimentar sem supervisão pode gerar problemas, como falta de nutrientes e efeitos colaterais.

O mais comum é o chamado “keto flu”, um mal-estar no início da dieta que pode causar cansaço, dor de cabeça e fraqueza.

Há também suplementos à base de cetonas (como óleos MCT e cetonas exógenas), mas os estudos com eles trouxeram resultados variados e, em muitos casos, efeitos gastrointestinais desconfortáveis.

Isso mostra que eles não substituem a dieta cetogênica completa.

Por tudo isso, especialistas reforçam: quem quiser tentar esse estilo alimentar deve fazê-lo com acompanhamento médico e nutricional, para que os riscos sejam minimizados e os resultados avaliados de forma segura.

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Michele Azevedo
Michele Azevedo

Formada em Letras - Português/ Inglês, pós-graduada em Arte na Educação e Psicopedagogia Escolar, idealizadora do site Escritora de Sucesso, empresária, redatora e revisora dos conteúdos do SaúdeLab.

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