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Caneta emagrecedora no SUS: médicos pedem fim da elitização no tratamento da obesidade
O debate sobre obesidade ganhou um novo capítulo no Brasil. Médicos e especialistas de diversas sociedades científicas lançaram a campanha “Tratamento da Obesidade: Acesso Já”, que defende a inclusão da caneta emagrecedora no SUS e o acesso a todos os medicamentos aprovados para o tratamento da obesidade.
A iniciativa busca ampliar a disponibilidade de terapias modernas que ajudam no controle do peso e na prevenção de doenças graves associadas à obesidade, garantindo tratamento igualitário para toda a população, independentemente da condição financeira.
O que está em jogo na campanha
A iniciativa envolve mobilização digital, produção de vídeos educativos, articulação política e até uma petição pública.
O objetivo é pressionar o Ministério da Saúde a reconsiderar a decisão que rejeitou a entrada desses medicamentos no sistema público.
Os médicos destacam que, atualmente, seis remédios para obesidade são aprovados pela Anvisa, mas nenhum está disponível pelo SUS.
Assim, apenas quem tem condições financeiras consegue pagar pelo tratamento, o que aprofunda as desigualdades.
Por que a caneta emagrecedora no SUS divide opiniões
As canetas emagrecedoras têm como princípios ativos substâncias como a liraglutida e a semaglutida, também usadas no tratamento do diabetes tipo 2.
Elas atuam diretamente no controle do apetite e podem levar a uma perda de peso de até 20% em alguns casos.
Apesar da eficácia, o principal obstáculo está no custo.
Hoje, uma caixa do Wegovy, versão da semaglutida destinada à obesidade, pode custar cerca de R$ 1.699,00 por mês.
A farmacêutica chegou a propor ao governo um valor mais baixo, mas mesmo assim o impacto no orçamento do SUS seria bilionário.
Segundo estimativas da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec), apenas com a semaglutida os gastos poderiam chegar a R$ 7 bilhões em cinco anos.
Por isso, a comissão avaliou que o custo não seria viável e emitiu parecer contrário à incorporação no SUS.
O argumento dos médicos a favor da medida
Especialistas alertam que avaliar apenas o gasto imediato com medicamentos ou tratamentos para obesidade é uma visão limitada.
A obesidade é reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma doença crônica, e não apenas um problema estético, estando associada a mais de 200 comorbidades, incluindo diabetes, hipertensão, acidente vascular cerebral (AVC), insuficiência renal, câncer, demência e problemas cardíacos.
Estudos de custo-efetividade mostram que investir no tratamento adequado pode reduzir complicações médicas e hospitalizações, gerando economia a longo prazo e melhorando a qualidade de vida de milhões de pessoas.
Para os médicos, disponibilizar medicamentos como a chamada caneta emagrecedora no SUS poderia diminuir a incidência dessas complicações.
Um levantamento da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) estima que, entre 2021 e 2030, o SUS pode gastar cerca de R$ 10 bilhões com doenças ligadas à obesidade.
Considerando também as perdas indiretas, como anos de vida produtiva, o impacto total pode ultrapassar R$ 100 bilhões.
Questão de justiça social
Um dos pontos mais fortes da campanha é a desigualdade de acesso.
Atualmente, quem tem recursos consegue iniciar o tratamento e colher os benefícios. Já quem depende exclusivamente do SUS continua sem alternativas.
Em nota, as entidades médicas foram diretas: “Nós, profissionais de saúde, vemos pacientes piorarem a cada dia e assistimos à elitização do acesso ao tratamento medicamentoso da obesidade.”
Caminhos possíveis para a incorporação
Os especialistas acreditam que existem alternativas para viabilizar a medida. Uma delas seria começar disponibilizando a caneta emagrecedora no SUS para grupos de maior risco, como pacientes com obesidade associada a doenças cardiovasculares.
Outro fator que pode facilitar é a chegada de genéricos ao mercado.
A patente da liraglutida já expirou e a da semaglutida deve vencer em breve, o que tende a reduzir preços.
Além disso, a Fiocruz firmou um acordo com a farmacêutica EMS para produção nacional do medicamento, o que pode baratear ainda mais os custos.
Obesidade é uma doença, não uma escolha
A campanha também busca combater o estigma da obesidade.
Por muitos anos, a sociedade tratou o problema como falta de força de vontade.
Hoje, a ciência mostra que fatores genéticos e ambientais têm grande peso no desenvolvimento da doença.
Assim como no caso da hipertensão ou do diabetes, o tratamento muitas vezes precisa ser contínuo e pode incluir medicamentos.
A ideia é que a caneta emagrecedora no SUS seja vista como mais uma ferramenta de cuidado, não como um luxo ou vaidade.
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