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Cardiopatia congênita e exercícios físicos: o que a ciência descobriu vai te surpreender
Por muito tempo, pessoas com cardiopatia congênita foram aconselhadas a evitar atividades físicas intensas. No entanto, uma pesquisa realizada pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) desafia essa recomendação tradicional.
O estudo revelou que praticar exercícios físicos não só é seguro para esses pacientes, como também traz benefícios significativos para a saúde, como melhora na capacidade física, composição corporal e qualidade de vida.
Os resultados mostram que um programa de exercícios domiciliares pode ajudar pacientes com cardiopatia congênita a ganhar mais autonomia para as atividades do dia a dia.
Essa descoberta representa um grande avanço para a qualidade de vida dessa população, que muitas vezes vive com limitações impostas pela própria condição ou por restrições médicas.
O que é cardiopatia congênita?
Muitas pessoas já ouviram falar, mas o que é cardiopatia congênita exatamente?
Essa condição se refere a malformações no coração que ocorrem ainda no período fetal, afetando sua estrutura ou funcionamento.
As alterações podem ser leves, sem grandes impactos na vida do paciente, ou complexas, exigindo cirurgias e acompanhamento médico contínuo.
Ela pode comprometer o fluxo sanguíneo, a oxigenação do organismo e o funcionamento adequado do coração.
Estima-se que a cardiopatia congênita afete cerca de 1% dos recém-nascidos em todo o mundo, o que equivale a aproximadamente 1,35 milhão de casos por ano.
Esse dado é amplamente aceito por entidades como a American Heart Association e a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Com os avanços da medicina, muitos pacientes conseguem levar uma vida normal e saudável.
No entanto, ainda há um mito de que pessoas com essa condição não podem praticar exercícios físicos, o que pode prejudicar sua qualidade de vida.
A pesquisa da FMUSP vem justamente para mudar essa visão, mostrando que a prática de atividades físicas bem orientadas pode ser uma grande aliada para quem tem cardiopatia congênita.
Agora que você já sabe melhor o que é cardiopatia congênita, vale a pena entender mais profundamente o que o estudo revela sobre os benefícios da atividade física para essa população.
Como foi feito o estudo?
A pesquisa foi conduzida por Daniela Regina Agostinho, especialista em Reabilitação Cardíaca e profissional de Educação Física.
O estudo contou com a participação de 42 pacientes adultos com cardiopatia congênita, que foram divididos em dois grupos:
- Grupo de Treinamento (GT): participou de um programa de exercícios domiciliares;
- Grupo Controle (GC): manteve sua rotina normal, sem a inclusão de atividades físicas específicas.
Os participantes do grupo GT receberam vídeos com aulas gravadas, que deveriam ser seguidas quatro vezes por semana, durante três meses.
O treinamento foi progressivo, começando com exercícios leves e aumentando gradualmente a intensidade.
Os exercícios incluíam atividades aeróbicas, como polichinelos, corrida estacionária e deslocamento lateral, além de exercícios de resistência muscular, que utilizavam o peso do próprio corpo e, posteriormente, bandas elásticas.
Para garantir a segurança dos participantes, eles receberam orientações sobre sinais de alerta durante o exercício, além de monitores de frequência cardíaca e planilhas de controle.
A pesquisadora acompanhou o progresso de cada paciente quinzenalmente.
Os benefícios dos exercícios físicos para quem tem cardiopatia congênita
Após 12 semanas de treinamento, os pacientes do grupo GT apresentaram melhoras significativas em diversos aspectos da saúde.
Já os participantes do grupo controle, que não fizeram exercícios, não tiveram mudanças expressivas.
Entre os benefícios observados nos pacientes que se exercitaram, destacam-se:
1. Melhora da capacidade física
Os participantes do grupo GT demonstraram aumento na capacidade cardiorrespiratória, medido por testes de esforço físico.
Houve melhora na ventilação pulmonar, na frequência cardíaca e no consumo de oxigênio, o que significa que os pacientes ficaram mais resistentes ao esforço e menos cansados no dia a dia.
Segundo a pesquisadora, isso ocorre porque o coração se torna mais eficiente em bombear o sangue, melhorando a circulação e a distribuição de oxigênio pelo corpo.
Além disso, os pulmões passam a absorver e eliminar gases com mais eficiência, reduzindo a fadiga.
2. Redução da gordura corporal e aumento da massa magra
Outro ponto positivo foi a melhora na composição corporal dos pacientes do grupo GT.
Eles perderam gordura corporal e ganharam mais massa muscular, o que é essencial para um metabolismo mais ativo e saudável.
Além disso, houve aumento na taxa metabólica basal, que é a quantidade de energia que o corpo precisa para manter funções vitais, como respiração e circulação sanguínea.
Com isso, o organismo se torna mais eficiente na queima de calorias, mesmo em repouso.
3. Mais qualidade de vida
Os pacientes que participaram do programa de exercícios também relataram uma melhora significativa na qualidade de vida.
Foram observadas melhorias em aspectos como vitalidade, capacidade funcional e interação social.
Antes do início do estudo, não havia grandes diferenças entre os dois grupos em relação ao bem-estar.
No entanto, ao final das 12 semanas, os participantes do grupo GT apresentaram avanços significativos em relação à disposição e autoestima.
4. Aumento do fluxo sanguíneo muscular
Outro benefício importante foi o aumento do fluxo sanguíneo nos músculos.
Isso significa que os músculos passaram a receber mais oxigênio e nutrientes, o que contribui para o bom funcionamento do sistema cardiovascular e melhora o desempenho físico.
Essa melhoria foi observada especialmente no antebraço, onde os pesquisadores analisaram a circulação sanguínea antes e depois do período de treinamento.
Os resultados indicam que a prática de exercícios ajuda o corpo a se tornar mais eficiente na distribuição do sangue, favorecendo a saúde cardiovascular como um todo.
Diferença entre homens e mulheres
A pesquisa também analisou os efeitos dos exercícios de acordo com o gênero.
Os homens apresentaram melhoras mais expressivas em alguns aspectos, como consumo de oxigênio e redução do colesterol LDL (conhecido como “colesterol ruim”).
Isso não significa que as mulheres não se beneficiaram do programa, mas indica que podem precisar de estratégias de treinamento mais personalizadas para obter os mesmos resultados.
Exercícios físicos são aliados da saúde do coração
Os resultados da pesquisa da FMUSP deixam claro que pacientes com cardiopatia congênita podem – e devem – praticar exercícios físicos, desde que sejam bem orientados.
Atividades físicas regulares contribuem para a melhora da capacidade cardiovascular, reduzem o risco de complicações e proporcionam mais qualidade de vida.
No entanto, é fundamental que os exercícios sejam adaptados às necessidades de cada paciente e acompanhados por profissionais de saúde.
Se você tem cardiopatia congênita ou conhece alguém que tem, converse com um médico ou especialista para entender qual tipo de exercício pode ser mais adequado para sua condição.
Afinal, cuidar da saúde do coração não significa abrir mão de uma vida ativa e saudável.
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