Falar consigo mesmo pode fazer bem (se você souber o jeito certo)

Muita gente já se pegou pensando alto, dizendo “você consegue” antes de uma apresentação ou repetindo “por que eu fiz isso?” depois de um erro. Essa conversa silenciosa (o chamado diálogo interno) é uma das formas mais comuns de processar emoções, tomar decisões e se preparar para situações difíceis.

Mas um novo estudo publicado neste início de novembro (dia 6) na revista Scientific Reports mostra que o jeito como essa conversa acontece faz toda a diferença.

Pesquisadores da Universidade de Michigan e da Bryn Mawr College acompanharam mais de 200 pessoas por duas semanas para entender com que frequência elas “conversam” consigo mesmas e de que forma isso impacta o humor.

No total, foram analisadas quase 13 mil respostas em tempo real sobre momentos de autocrítica, preparação para algo importante, tentativas de se sentir melhor e situações de satisfação pessoal.

Entendendo melhor o que é diálogo interno

O diálogo interno é a conversa que temos conosco (seja em voz alta, seja apenas em pensamento.

Ele funciona como uma espécie de “voz da consciência”, que comenta, orienta e até questiona nossas atitudes.

Pode assumir diferentes tons, sendo acolhedor, crítico, racional ou emocional.

Para a psicologia, esse diálogo é uma ferramenta importante de autorregulação emocional.

É por meio dele que refletimos sobre decisões, avaliamos comportamentos e tentamos controlar sentimentos.

Em crianças, esse processo começa como um discurso em voz alta (algo que Piaget já havia observado), mas com o tempo se transforma em uma conversa mental silenciosa que acompanha o adulto ao longo da vida.

Quando o diálogo interno ajuda (e quando atrapalha)

O estudo mostrou que nem toda conversa que temos conosco funciona da mesma forma.

Existem dois tipos principais de diálogo interno:

  • Imersivo, quando a pessoa fala de modo pessoal, em primeira pessoa — por exemplo: “Eu consigo fazer isso”, “Eu não acredito que fiz isso”;
  • Distanciado, quando a pessoa fala como se estivesse aconselhando alguém — por exemplo: “Maria, você consegue”, “Calma, João, pensa com calma antes de responder”.

Os pesquisadores perceberam que o primeiro tipo, o imersivo, é o mais comum; é o nosso “modo automático” de pensar.

Mas o segundo, o distanciado, pode ser mais útil para lidar com emoções e se preparar para desafios.

  • Quando funciona:

Nas situações em que as pessoas usavam o diálogo distanciado para se preparar para algo importante (como uma reunião tensa, uma conversa difícil ou uma apresentação) elas se sentiam mais calmas e confiantes logo depois.

Falar consigo mesmo usando o próprio nome, como se visse a cena de fora, parecia trazer clareza mental e menos ansiedade.

É como se o cérebro passasse a enxergar o problema com mais racionalidade e menos drama.

  • Quando não ajuda tanto:

Por outro lado, esse tipo de conversa não teve o mesmo efeito positivo quando a pessoa tentava apenas “se consolar” após uma frustração.

Nessas situações, o diálogo interno costuma ser mais emocional e impulsivo, e é difícil aplicar a mesma lógica racional do momento de preparação.

Em resumo, o diálogo distanciado ajuda mais antes de um desafio do que depois de um erro.

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O poder de se ouvir do jeito certo

Os resultados indicam que treinar um tipo mais consciente e equilibrado de diálogo interno pode ajudar a lidar com o estresse e melhorar o bem-estar emocional.

“Conversar consigo mesmo” não é sinal de loucura; é, na verdade, um recurso mental comum e até benéfico.

A diferença está em como essa conversa acontece.

Usar o próprio nome, por exemplo, pode ajudar a enxergar os problemas com mais clareza e menos autocrítica, como se estivéssemos aconselhando um amigo.

Os pesquisadores reforçam que todos nós temos uma voz interna que nos orienta e que aprender a utilizá-la de forma mais consciente pode melhorar o equilíbrio emocional, a autoconfiança e até o desempenho em situações de pressão.

Vale destacar que o estudo não encontrou relação entre o tipo de diálogo interno e traços de personalidade como ansiedade ou narcisismo; o que indica que qualquer pessoa pode se beneficiar desse tipo de prática mental.

Em tempos de tanta cobrança e ansiedade, entender o próprio diálogo interno pode ser um passo valioso rumo ao bem-estar psicológico.

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Michele Azevedo
Michele Azevedo

Formada em Letras - Português/ Inglês, pós-graduada em Arte na Educação e Psicopedagogia Escolar, idealizadora do site Escritora de Sucesso, empresária, redatora e revisora dos conteúdos do SaúdeLab.

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