Fim de ano e pós-parto: quando as festas aumentam a ansiedade de mães e famílias de prematuros

O fim de ano costuma trazer encontros, visitas e casas cheias. Para muitas mães com bebês pequenos, esse período desperta ansiedade, principalmente quando elas sabem que terão que conviver com pessoas invasivas ou com familiares em quem não confiam totalmente para cuidar ou pegar o bebê.

Essa sensação é ainda mais intensa quando a mãe mora na casa onde as festas acontecem, como na casa da sogra ou da própria mãe.

Nesses casos, ela não pode simplesmente escolher passar o Natal em outro lugar ou fazer apenas uma visita rápida. Ela precisa permanecer ali enquanto as pessoas chegam, se instalam e convivem diretamente com ela e com o recém-nascido.

A preocupação cresce quando ela sabe que haverá gente que não usa máscara, não lava as mãos antes de tocar no bebê ou não compreende a importância desses cuidados.

Muitas mulheres não têm facilidade para dizer “prefiro que você higienize as mãos antes” ou “não quero visitas agora”.

Outras até gostariam, mas não conseguem se impor por características pessoais ou pela dinâmica familiar.

O apoio do parceiro também faz diferença.

Há homens que assumem a orientação das visitas e protegem essa mãe dizendo que vão resolver, que ninguém vai pegar o bebê sem cuidado.

Mas há outros que preferem não se indispor com a própria família e acabam concordando com comportamentos que deixam essa mulher insegura.

Isso aumenta a ansiedade, especialmente quando ela sente que não tem escolha sobre quem entra, quem toca ou como o bebê é manipulado.

Quando a rotina se quebra

Quando a casa deixa de ser um espaço previsível e a mãe antecipa dias de movimento, barulho e presença constante de outras pessoas, a ansiedade tende a aumentar.

A sensação de convivência contínua com visitantes ocupa mentalmente esse período, que ainda dificulta que ela descanse ou se sinta protegida dentro da própria casa.

Essa pressão se soma à responsabilidade de cuidar de um recém-nascido, ainda sem todas as vacinas, o que intensifica a preocupação com higiene, manipulação e exposição.

Para mulheres que já estavam emocionalmente vulneráveis, esse acúmulo de estímulos se transforma em sobrecarga.

Em algumas mulheres, especialmente quando existe histórico pessoal ou familiar de transtornos mentais, essa elevação de ansiedade pode contribuir para o surgimento ou agravamento de depressão pós-parto.

O que seria apenas uma época de festas acaba se tornando um período de tensão emocional constante.

Prematuridade e fim de ano

Mães e pais de bebês prematuros enfrentam desafios específicos nesse período.

Muitas vezes passaram semanas indo ao hospital em horários marcados, sem poder permanecer o tempo que gostariam ou sem conseguir fazer o método canguru.

Essa vivência aumenta a vulnerabilidade emocional e a probabilidade de desenvolver depressão.

Quando chega o fim do ano, o contraste entre o clima de celebração e o que essa mulher sente pode ser muito intenso.

Se o bebê ainda está internado, a tristeza se mistura com a frustração de ver todos comemorando enquanto ela está aflita.

A depressão produz justamente esse efeito, uma sensação de que a alegria do ambiente reforça ainda mais o próprio sofrimento.

Mesmo quando o bebê já está em casa, se essa mãe está fragilizada ou com sintomas depressivos, o excesso de barulho, movimento e expectativas sociais pode ampliar a dor emocional.

A percepção de que “todo mundo está feliz menos eu” é comum e aumenta a sensação de isolamento.

Quando a rede de apoio faz diferença

Nessas situações, o comportamento da rede de apoio pode mudar completamente a experiência da mulher.

Mães, especialmente as de prematuros, precisam de um ambiente que respeite seus limites, reconheça suas preocupações e ajude a reduzir estímulos desnecessários.

Quando familiares e parceiros acolhem, orientam visitas e garantem que os cuidados básicos com o bebê sejam seguidos, essa mãe se sente mais protegida.

Ter alguém que faça a mediação com visitantes reduz a sobrecarga e diminui a sensação de que ela está enfrentando tudo sozinha.

E, sempre que possível, o acompanhamento de um profissional de saúde mental perinatal oferece suporte adicional, que permite que ela atravesse esse período com mais segurança e sem carregar sozinha tudo aquilo que está vivendo.

Orientações de cuidado

Para quem está no pós-parto durante as festas:

  • Combine previamente como serão as visitas.
  • Prefira ambientes tranquilos, com menos circulação de pessoas.
  • Peça ajuda para que alguém comunique os cuidados essenciais, como lavar as mãos antes de tocar no bebê.
  • Observe seus níveis de ansiedade e procure apoio quando sentir que está ultrapassando seus limites.

Para famílias de prematuros:

  •  Reduza situações com barulho intenso e estímulos exagerados.
  • Respeite seu próprio ritmo emocional, mesmo quando o ambiente ao redor pede comemoração.
  • Procure apoio especializado se houver sinais de tristeza intensa, insegurança ou culpa.
  • Mantenha a rede de apoio informada sobre o que ajuda e o que dificulta esse momento.

Cuidar da saúde emocional da mãe é parte fundamental do cuidado com o bebê, principalmente no fim de ano, quando expectativas sociais e vulnerabilidades internas se encontram.

Leitura Recomendada: Parto prematuro: como as emoções da gestante influenciam o bebê

*Rafaela Schiavo é psicóloga perinatal e fundadora do Instituto MaterOnline. Dedica-se à saúde mental materna desde sua formação inicial, sendo autora de centenas de trabalhos científicos voltados à redução dos altos índices de sofrimento emocional durante a gestação e o puerpério.

 

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Psic Rafaela Schiavo
Psic Rafaela Schiavo

Rafaela Schiavo é psicóloga perinatal e fundadora do Instituto MaterOnline. Dedica-se à saúde mental materna desde sua formação inicial, sendo autora de centenas de trabalhos científicos voltados à redução dos altos índices de sofrimento emocional durante a gestação e o puerpério.

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