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Leite é vilão ou mocinho? Estudo de 25 anos revela os efeitos reais nas mulheres
Durante décadas, o leite foi considerado essencial à saúde óssea — especialmente para as mulheres. Rico em cálcio e proteínas, ele sempre foi associado à prevenção da osteoporose e à manutenção da densidade mineral dos ossos.
Mas nos últimos anos, esse “protagonismo do leite” passou a ser questionado. Afinal, será que o consumo de leite é realmente benéfico ou pode, em alguns casos, representar um risco à saúde?
Um novo estudo realizado na Finlândia e publicado no European Journal of Nutrition oferece respostas importantes a essa pergunta.
Após acompanhar mais de 14 mil mulheres durante 25 anos, os pesquisadores descobriram efeitos distintos entre os diferentes tipos de laticínios — revelando que, quando se trata de saúde óssea, nem todo leite é igual, e o queijo tem um papel específico.
Veja todos os detalhes aqui, no SaúdeLAB.
Fraturas: um desafio global para o envelhecimento saudável
As fraturas osteoporóticas são uma das principais complicações do envelhecimento.
Estima-se que ocorram cerca de 9 milhões de fraturas osteoporóticas por ano em todo o mundo, afetando principalmente punho, quadril e coluna.
Esses eventos têm grande impacto na qualidade de vida: causam dor crônica, perda de mobilidade e até mesmo aumento do risco de morte precoce.
Nos últimos 30 anos, a taxa de fraturas cresceu mais de 33% globalmente, impulsionada sobretudo pelo envelhecimento da população.
Na Finlândia, país foco do estudo, a estimativa é de que os casos de fraturas osteoporóticas aumentem 33% entre 2019 e 2034.
A influência da alimentação: o papel dos laticínios
Diante desse cenário, a ciência tem buscado identificar fatores de risco modificáveis que possam ajudar na prevenção dessas fraturas — e a alimentação está entre os principais.
Os laticínios, por serem fontes de cálcio, proteína e compostos bioativos, sempre estiveram no centro dessa discussão.
No entanto, os estudos sobre os efeitos do leite e derivados ainda apresentam resultados controversos.
Algumas pesquisas mostram proteção, enquanto outras sugerem riscos com o consumo elevado.
Um estudo sueco, por exemplo, apontou um aumento no risco de fraturas em mulheres com alta ingestão de leite — o que reforça a necessidade de estudos mais amplos e duradouros.
O estudo finlandês: 25 anos acompanhando mulheres
O estudo finlandês oferece um olhar inédito e robusto sobre o impacto dos laticínios na saúde óssea feminina.
Iniciado em 1989, ele acompanhou 14.220 mulheres nascidas entre 1932 e 1941, todas residentes na Finlândia.
Durante o acompanhamento médio de 17,6 anos, foram registrados:
- 4.358 casos de fraturas em geral;
- 2.326 fraturas osteoporóticas;
- 427 fraturas de quadril.
As participantes relataram o consumo diário de leite, iogurte, leite fermentado e queijo.
As fraturas relatadas foram verificadas por prontuários médicos, e foram excluídas do estudo aquelas causadas por acidentes de trânsito ou quedas de grande altura.
Além da alimentação, o estudo também considerou variáveis como atividade física, uso de suplementos de vitamina D e cálcio, consumo de álcool, uso de medicamentos que afetam os ossos e índice de massa corporal (IMC).
Resultados surpreendentes: tipos de laticínios fazem diferença
Os dados revelaram que o consumo de laticínios líquidos — como leite, iogurte e leite fermentado — esteve associado a uma redução significativa no risco de fraturas, especialmente as osteoporóticas.
Mulheres com consumo moderado ou alto desses produtos tiveram:
- Redução de 23% e 26% no risco de fraturas gerais, respectivamente;
- Redução de 31% e 36% no risco de fraturas osteoporóticas.
Por outro lado, o queijo, apesar de não ter demonstrado impacto nas fraturas osteoporóticas, reduziu em até 47% o risco de fraturas de quadril — uma das mais graves e incapacitantes.
Essa distinção entre os tipos de laticínios reforça a complexidade do tema: não é apenas “tomar leite” ou “comer queijo”, mas entender como cada alimento influencia diferentes regiões do corpo e tipos de ossos.
Por que o queijo protege mais o quadril?
A descoberta de que o queijo tem efeito protetor principalmente sobre o quadril chamou atenção dos pesquisadores.
Embora o estudo não tenha investigado os mecanismos exatos, algumas hipóteses ajudam a explicar essa relação:
Maior teor de cálcio por porção
O queijo costuma ter uma concentração de cálcio maior que a do leite ou iogurte.
Como o quadril é uma das regiões com maior perda de massa óssea em idosos, a presença constante de cálcio na dieta pode fazer diferença na resistência dessa área.
Presença de vitamina K2
Queijos maturados (como parmesão, gouda e emmental) são fontes naturais de vitamina K2, um nutriente essencial para a fixação do cálcio nos ossos e para a regulação da osteocalcina, proteína importante na saúde óssea.
Absorção intestinal diferenciada
Há evidências de que o cálcio presente nos queijos, especialmente os envelhecidos, possa ter uma biodisponibilidade maior, favorecendo a absorção intestinal e a deposição no tecido ósseo.
E o leite? Vilão ou mocinho?
Apesar da polêmica gerada por outros estudos, especialmente o sueco que relacionou o alto consumo de leite com risco aumentado de fraturas e mortalidade, os pesquisadores finlandeses não encontraram esse mesmo efeito prejudicial.
Segundo os autores, a diferença pode estar no contexto alimentar e de saúde pública da Finlândia, onde o consumo de laticínios está associado a políticas de fortificação com vitamina D e campanhas de educação alimentar desde a década de 80.
Além disso, hábitos como atividade física regular, exposição solar adequada e menor prevalência de tabagismo também podem ter contribuído para resultados mais positivos.
Em outras palavras, o leite pode ser benéfico dentro de um estilo de vida equilibrado — mas seu efeito isolado pode variar dependendo de fatores como genética, microbiota intestinal, hábitos alimentares e até uso de medicamentos.
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E o cálcio em cápsulas? Funciona do mesmo jeito?
É importante destacar que o estudo avaliou o consumo de cálcio via alimentos naturais — e não de suplementos. Isso reforça a importância da alimentação como fonte prioritária de nutrientes, sempre que possível.
Embora suplementos de cálcio possam ser úteis em casos de deficiência diagnosticada, seu uso indiscriminado pode gerar riscos, como cálculo renal e até aumento do risco cardiovascular em algumas populações. Portanto, a orientação médica é essencial.
Mulheres na menopausa: atenção redobrada
Durante a menopausa, a queda nos níveis de estrogênio acelera a perda óssea — o que aumenta significativamente o risco de fraturas.
Nesse contexto, a alimentação rica em cálcio e vitamina D, combinada com exercício físico (principalmente com impacto leve e resistência), é uma das estratégias mais eficazes para preservar a densidade óssea.
O estudo finlandês reforça que o consumo de leite, iogurte e queijo pode ser aliado importante nessa fase da vida — desde que integrado a um estilo de vida saudável e supervisionado por profissionais de saúde.
Mas e quem tem intolerância à lactose?
Para pessoas com intolerância à lactose, os benefícios dos laticínios ainda podem ser aproveitados com adaptações. Existem diversas opções:
- Leites e iogurtes sem lactose (com a enzima lactase adicionada);
- Queijos maturados, que naturalmente têm menos lactose;
- Suplementação personalizada de cálcio e vitamina D, se necessário.
Vale lembrar que a intolerância à lactose não é uma alergia — e muitas vezes, o consumo em pequenas quantidades, de forma fracionada, pode ser bem tolerado.
Equilíbrio e informação são a chave
O estudo de 25 anos com mais de 14 mil mulheres traz evidências sólidas de que os laticínios, especialmente leite, iogurte e queijo, têm potencial protetor contra fraturas ósseas — com destaque para o queijo na prevenção de fraturas de quadril.
Esses dados reforçam a importância de olhar para a alimentação como um todo, avaliando os tipos de alimentos consumidos, suas quantidades, e o contexto de vida de cada pessoa.
O leite não é vilão, mas também não é solução mágica. O que faz diferença é o conjunto: alimentação variada, rica em nutrientes, atividade física regular, acompanhamento médico e uso consciente de suplementos, quando indicado.
Se você está na menopausa, tem histórico familiar de osteoporose ou quer cuidar melhor dos seus ossos, procure orientação de um nutricionista ou endocrinologista para ajustar sua dieta de forma segura e eficaz.
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