Ameaça invisível à gestação: estudo inédito encontra microplástico na placenta de brasileiras

Pela primeira vez na América Latina, cientistas identificaram microplástico na placenta e no cordão umbilical de gestantes brasileiras.

A descoberta, feita em hospitais públicos de Maceió (AL), levanta uma preocupação séria: essas partículas estão chegando até os bebês antes mesmo de nascerem.

O achado foi resultado de uma pesquisa com mulheres atendidas pelo SUS e mostra que a poluição causada por plásticos descartáveis pode estar afetando a saúde desde a gestação.

O que é microplástico e por que ele preocupa?

Microplásticos são pedaços muito pequenos de plástico, com menos de 5 milímetros, que se formam a partir da degradação de embalagens, roupas sintéticas e outros produtos plásticos.

Eles estão por toda parte: na água, no ar, nos alimentos e até em produtos industrializados.

O grande problema é que, mesmo invisíveis a olho nu, esses fragmentos conseguem entrar no corpo humano.

E agora, com a comprovação da presença de microplástico na placenta e no cordão umbilical, é sugerido que eles possam atingir o feto.

O que os pesquisadores encontraram nas gestantes?

Os cientistas analisaram amostras de dez gestantes atendidas por dois hospitais públicos de Maceió.

No total, foram encontradas 229 partículas de microplástico: 110 nas placentas e 119 nos cordões umbilicais.

Ou seja, em 8 das 10 gestantes, havia mais partículas no cordão do que na placenta, indicando que o material atravessou a barreira que deveria proteger o bebê.

Os tipos de plástico mais encontrados foram o polietileno (comum em sacolas e embalagens descartáveis) e a poliamida (presente em tecidos sintéticos como roupas esportivas).

A análise foi feita com um equipamento capaz de identificar com precisão a composição química desses materiais.

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Microplástico na placenta: como eles chegam ao corpo?

Mesmo sem saber exatamente qual é a principal fonte de contaminação, os pesquisadores apontam possíveis causas.

O consumo frequente de frutos do mar (especialmente moluscos filtradores), a exposição ao ar contaminado e até a ingestão de água mineral armazenada em galões de plástico expostos ao sol estão entre elas.

Em resumo: o microplástico na placenta pode ser consequência da poluição que está em todo o nosso cotidiano, especialmente em regiões onde há maior contato com ambientes contaminados.

E quais os riscos para o bebê?

Ainda não é possível afirmar com certeza quais os efeitos do microplástico sobre o desenvolvimento do feto.

No entanto, estudos anteriores já apontaram possíveis danos.

Há indícios de que essas partículas alteram o funcionamento da placenta e favorecem a produção de substâncias inflamatórias que podem afetar a saúde do bebê.

Pesquisas internacionais também relacionaram certos tipos de plástico na placenta com o aumento do risco de partos prematuros.

Brasil está no centro das descobertas

Essa foi a primeira vez que uma pesquisa na América Latina detectou microplástico na placenta e no cordão umbilical.

O estudo foi liderado pela Universidade Federal de Alagoas, em parceria com cientistas internacionais e com apoio de agências de fomento à pesquisa.

As amostras analisadas vieram de mulheres em situação de maior vulnerabilidade, atendidas pelo SUS.

Isso mostra que o problema não é restrito a países desenvolvidos.

Pelo contrário, populações em regiões mais pobres podem estar ainda mais expostas por causa do descarte irregular de lixo e da falta de saneamento adequado.

Próximos passos da pesquisa

A equipe envolvida no estudo já está ampliando o número de gestantes analisadas.

A meta agora é examinar amostras de 100 mulheres e verificar se há alguma relação direta entre a presença dos microplásticos e complicações na gestação ou na saúde dos recém-nascidos.

Além disso, está sendo criado um centro especializado para aprofundar esse tipo de análise.

A expectativa é que os novos resultados sejam divulgados até 2027.

Um problema coletivo que exige resposta pública

A presença de microplástico na placenta é um alerta não apenas para a saúde individual, mas para toda a sociedade.

Não se trata de algo que se resolve apenas com ações pessoais, como evitar embalagens plásticas. O desafio maior é político e estrutural.

Faltam no Brasil regras claras sobre a produção, o uso e o descarte de plásticos.

Também não há exigências de filtros ou barreiras tecnológicas para impedir que partículas escapem no processo industrial.

Por isso, cientistas defendem que o combate à poluição plástica precisa ser feito com leis mais rígidas, fiscalização eficiente e incentivo à produção sustentável.

Enquanto essas medidas não forem adotadas, a tendência é que mais bebês nasçam já contaminados por microplásticos, antes mesmo de dar o primeiro suspiro fora do útero.

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Michele Azevedo
Michele Azevedo

Formada em Letras - Português/ Inglês, pós-graduada em Arte na Educação e Psicopedagogia Escolar, idealizadora do site Escritora de Sucesso, empresária, redatora e revisora dos conteúdos do SaúdeLab.

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