O método Buteyko, que consiste em tapar a boca com fita adesiva para dormir, pode ser prejudicial à saúde

Para Gleison Guimarães, médico especialista em Pneumologia, o conceito oferece diversos riscos para adultos e, ainda mais, para crianças

Desenvolvida em 1950 pelo médico soviético Konstantin Pavlovich Buteyko, a técnica que leva o seu nome tem como princípio a crença de que as condições respiratórias, especialmente a asma, poderiam estar ligadas à forma como as pessoas respiram. Para o russo, se os pacientes aprendessem a respirar pelo nariz, os problemas pulmonares desapareceriam.

Com isso, ele desenvolveu a simples técnica de tapar a boca com fita adesiva ao dormir. Anos depois, a “terapia” ainda permanece popular e conta com praticantes ao redor de todo o mundo, que acreditam se tratar de um procedimento que ofereça efeitos positivos. Entenda os riscos, aqui no SaúdeLAB.

Método Buteyko

Muitos médicos discordam que a técnica seja benéfica. De acordo com Gleison Guimarães, médico especialista em Pneumologia pela UFRJ e pela Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), respirar pelo nariz é preferível, mas não obrigatório. “Na maioria dos casos, as pessoas não abrem a boca a não ser que estejam enfrentando alguma dificuldade ao respirar pelo nariz. Não há qualquer evidência médica que apoie o Buteyko como um tratamento eficiente”, relata.

Os defensores acreditam na eficácia da técnica pois, ao respirar pelo nariz, o ar é aquecido, facilitando o seu caminho até os pulmões. Como consequência, a entrada de oxigênio e a perda de dióxido de carbono se normalizam, diminuindo a possibilidade de inflamação e garantindo uma boa noite de sono.

Para o especialista, existem diversos riscos ao aderir a esse tipo de metodologia. “Se uma pessoa estiver enfrentando alguma dificuldade para respirar pelo nariz, por exemplo, sofrerá com a falta de ar. Se estiver doente e vomitar, poderá engasgar-se com a boca tampada se não agir com agilidade. A popularização desse tipo de tratamento pode se tornar um grande problema para a saúde”, pontua.

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Riscos

Alguns pais insistem em utilizar esse tipo de técnica em crianças e, até mesmo, em bebês. Isso é algo que pode ser o catalisador para uma série de tragédias e fatalidades. “Fazer uso do Buteyko em crianças é algo que nem mesmo os defensores do método recomendam. No caso de uma emergência, os adultos possuem a capacidade de acordar e arrancar a fita, mas as crianças ainda não contam com esse instinto. Esse tipo de comportamento aumenta, desnecessariamente, a possibilidade de morte de crianças em seus berços. Algumas delas contam com problemas respiratórios nas vias nasais, como adenóides ou um simples nariz entupido. Nestes casos, eles têm que respirar pela boca ou podem ter diversas complicações e, até mesmo, morrer”, lamenta.

O Buteyko promete diminuir problemas com a respiração e o ronco durante a noite. Entretanto, Gleison acredita que o melhor caminho é procurar um especialista. “Um médico realizará uma análise profunda em busca do real problema, podendo, assim, indicar o tratamento mais adequado. E, definitivamente, tapar a boca com fita adesiva não será um dos tratamentos utilizados”, finaliza.

Colaboração

Sobre Gleison Guimarães

É médico especialista em Pneumologia pela UFRJ e pela Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), especialista em Medicina do Sono pela Associação Brasileira de Medicina do Sono (ABMS) e também em Medicina Intensiva pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB). Possui certificado de atuação em Medicina do Sono pela SBPT/AMB/CFM, Mestre em Clínica Médica/Pneumologia pela UFRJ, membro da American Academy of Sleep Medicine (AASM) e da European Respiratory Society (ERS). É também diretor do Instituto do Sono de Macaé (SONNO) e da Clinicar – Clínicas e Vacinas, membro efetivo do Departamento de Sono da SBPT. Atuou como coordenador de Políticas Públicas sobre Drogas no município de Macaé (2013) e pela Fundação Educacional de Macaé (Funemac), gestora da Cidade Universitária (FeMASS, UFF, UFRJ e UERJ) até 2016. Professor assistente de Pneumologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro – Campus Macaé.

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