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Dependência do álcool: pesquisadores testam molécula que ‘desliga’ o impulso de beber
Um estudo publicado neste mês de novembro, na revista Biomedicine & Pharmacotherapy, revelou resultados animadores sobre um possível tratamento para dependência do álcool.
Pesquisadores da Universidade Miguel Hernández, na Espanha, testaram uma nova substância chamada MCH11, que conseguiu reduzir o consumo e a motivação para beber em camundongos, com diferenças de efeito entre machos e fêmeas.
Segundo os autores, o composto atua no sistema endocanabinoide, um conjunto de substâncias e receptores cerebrais ligados ao prazer, à ansiedade e à impulsividade.
Esses mecanismos que também influenciam o desejo por álcool.
Nos experimentos, os animais tratados com MCH11 apresentaram comportamento menos ansioso, menor impulsividade e menor interesse em bebidas alcoólicas, mesmo quando o álcool estava disponível.
O que é a dependência do álcool
A dependência do álcool é uma condição crônica caracterizada pela dificuldade de controlar o consumo, mesmo diante de prejuízos à saúde, ao trabalho e às relações pessoais.
O corpo se adapta à presença constante da substância, gerando tolerância e sintomas de abstinência quando o consumo é interrompido.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o alcoolismo afeta milhões de pessoas em todo o mundo e está ligado a doenças hepáticas, transtornos mentais e cardiovasculares.
Embora existam medicamentos para ajudar no controle (como o dissulfiram e o topiramato), os resultados nem sempre são satisfatórios, e grande parte dos pacientes volta a beber nos meses seguintes ao tratamento.
Como o MCH11 atua
O novo composto atua inibindo uma enzima chamada monoacilglicerol lipase (MAGL), responsável por degradar uma substância natural do corpo chamada 2-AG.
Essa molécula faz parte do sistema endocanabinoide, que influencia diretamente as sensações de prazer e recompensa.
Ao impedir a degradação do 2-AG, o MCH11 ajuda a equilibrar o sistema endocanabinoide, o que, segundo os cientistas, reduz o impulso de buscar o álcool.
Nos testes, o composto não afetou a locomoção nem a cognição dos animais, indicando, portanto, que o efeito não se deve a sedação, mas a uma modulação seletiva de circuitos cerebrais ligados à recompensa.
Diferenças entre machos e fêmeas
Um ponto interessante do estudo foi a diferença de resposta entre os sexos.
Machos responderam bem a doses mais baixas da substância, enquanto as fêmeas precisaram de doses maiores para apresentar o mesmo efeito.
Os pesquisadores observam que essas variações podem estar associadas a diferenças biológicas no sistema endocanabinoide, como níveis distintos de moléculas reguladoras e receptores.
Possível aliado ao tratamento atual
Os testes também mostraram que o MCH11, quando combinado ao medicamento topiramato (já usado no controle da dependência do álcool), potencializou a redução do consumo, sugerindo uma ação complementar.
Embora os resultados ainda sejam experimentais e restritos a modelos animais, os cientistas destacam que o avanço é significativo.
A descoberta abre caminho para terapias mais eficazes e personalizadas, levando em conta inclusive as diferenças biológicas entre homens e mulheres.
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