Sabia que você pode ter câncer de pulmão mesmo sem fumar? O que se come também conta

Quando falamos em câncer de pulmão, a maioria das pessoas associa imediatamente ao cigarro ou, mais recentemente, ao uso de cigarros eletrônicos (vapes). E com razão: o tabagismo é, de fato, a principal causa da doença.

No entanto, uma nova preocupação vem ganhando espaço e precisa ser levada a sério, mesmo por quem nunca fumou na vida. A relação entre alimentos ultraprocessados e câncer de pulmão tem chamado atenção.

E não é mais uma hipótese isolada, um estudo recente traz evidências de que esse tipo de alimentação pode estar ligado ao desenvolvimento do câncer de pulmão.

Mais do que um alerta científico, esse é um convite à reflexão sobre como hábitos aparentemente inofensivos podem impactar a nossa saúde de maneira muito mais séria do que imaginamos.

Não é só o cigarro: ultraprocessados e câncer de pulmão

Por muito tempo, o cigarro reinou absoluto na lista dos grandes vilões do câncer de pulmão. De fato, ele continua sendo o principal responsável por novos casos no mundo.

Mas reduzir essa doença complexa a apenas um fator de risco é, hoje, um erro perigoso.

Nos últimos anos, pesquisadores têm apontado que outros elementos do nosso estilo de vida também podem contribuir para o surgimento do câncer de pulmão e a alimentação é um dos mais relevantes.

A maioria das pessoas não imagina que o que colocamos no prato diariamente possa interferir na saúde dos nossos pulmões.

Mas estudos recentes mostram que a alta ingestão de alimentos ultraprocessados pode aumentar consideravelmente o risco da doença, mesmo entre pessoas que nunca fumaram.

Esses alimentos (como bolachas industrializadas, salgadinhos, refrigerantes e produtos prontos para aquecer) são ricos em aditivos químicos, gorduras de baixa qualidade e açúcares, e muitas vezes substituem alimentos naturais e protetores, como frutas, vegetais e grãos integrais.

O resultado é um desequilíbrio inflamatório no corpo, uma microbiota intestinal desregulada e uma sobrecarga de substâncias potencialmente tóxicas, que podem afetar o organismo de diferentes maneiras, inclusive favorecendo o surgimento de células tumorais nos pulmões.

Por isso, ainda que parar de fumar continue sendo a principal atitude para reduzir o risco, olhar para os nossos hábitos alimentares com mais atenção pode ser um passo fundamental na prevenção.

A relação entre alimentos ultraprocessados e câncer de pulmão está cada vez mais clara.

O que são alimentos ultraprocessados e por que eles são tão problemáticos

Você já parou para pensar em quantos alimentos consome por dia que vêm prontos ou quase prontos para o consumo?

Pães embalados, embutidos como presunto e mortadela, biscoitos recheados, refrigerantes, sucos de caixinha, refeições congeladas, cereais matinais açucarados… Esses são apenas alguns exemplos de alimentos ultraprocessados, que fazem parte do cotidiano de muitas famílias brasileiras.

Mas afinal, o que define um alimento ultraprocessado?

Segundo a classificação NOVA, criada por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), os ultraprocessados são produtos que passam por diversas etapas industriais e contêm ingredientes que você não encontraria facilmente em uma cozinha comum.

São feitos, em sua maioria, de substâncias extraídas de alimentos, como amidos modificados, proteínas isoladas, corantes, aromatizantes, adoçantes e conservantes.

Esses produtos são projetados para serem saborosos, durarem mais tempo nas prateleiras e serem consumidos com praticidade.

O problema é que, nessa busca por conveniência e paladar, a composição nutricional acaba sendo extremamente desequilibrada: pobre em fibras, vitaminas e minerais, e rica em açúcares, gorduras ruins, sódio e aditivos químicos.

Ao longo do tempo, esse padrão alimentar não apenas favorece o ganho de peso e o aumento do risco de doenças crônicas como diabetes, hipertensão e problemas cardiovasculares, como também pode contribuir para o desenvolvimento de diversos tipos de câncer, inclusive o de pulmão.

O que o novo estudo revelou sobre ultraprocessados e câncer de pulmão

Um dos dados mais preocupantes veio de uma análise recente publicada na revista científica Thorax, que investigou a relação entre o consumo de ultraprocessados e o risco de câncer de pulmão.

O estudo acompanhou mais de 100 mil adultos americanos por mais de uma década, analisando seus hábitos alimentares e sua saúde ao longo dos anos.

Durante esse período, foram identificados 1.706 novos casos de câncer de pulmão, e a correlação com a alimentação foi clara: as pessoas que consumiam mais alimentos ultraprocessados apresentaram um risco até 41% maior de desenvolver a doença.

Esse aumento foi observado tanto em pessoas que desenvolveram o câncer de pulmão de células não pequenas (NSCLC), o tipo mais comum, quanto no tipo mais agressivo e raro, o de pequenas células (SCLC).

E o mais impressionante: o risco permaneceu elevado mesmo após os pesquisadores ajustarem os dados para fatores importantes como tabagismo, diabetes, hipertensão, nível de atividade física e qualidade geral da dieta.

Ou seja, o consumo de ultraprocessados se destacou como um fator independente de risco.

Por que esses alimentos podem favorecer o câncer de pulmão

Mas como exatamente os alimentos ultraprocessados podem estar ligados a um tipo de câncer que, até pouco tempo, era quase exclusivamente associado ao tabaco?

Os cientistas apontam algumas explicações:

  • Inflamação crônica: ultraprocessados favorecem um estado inflamatório persistente no corpo, que pode criar um ambiente propício para mutações celulares e crescimento tumoral.
  • Desregulação da microbiota intestinal: aditivos como carragena, muito usados como espessantes, podem alterar a flora intestinal e provocar inflamações que afetam inclusive outros órgãos, como os pulmões.
  • Exposição a compostos tóxicos: durante o processamento ou o preparo desses alimentos, compostos como acroleína — também presente na fumaça do cigarro — podem surgir e atuar como agentes carcinogênicos.
  • Baixo valor nutricional: ao substituir alimentos protetores como frutas, verduras e grãos integrais, os ultraprocessados reduzem a oferta de fibras, antioxidantes e nutrientes que têm papel comprovado na proteção contra o câncer.

O que você pode fazer para se proteger

A boa notícia é que pequenas mudanças no dia a dia podem fazer uma grande diferença. Se você deseja reduzir seu risco de câncer de pulmão (mesmo sendo não fumante) vale a pena repensar seus hábitos alimentares.

Aqui estão algumas orientações práticas:

  • Dê preferência a alimentos in natura ou minimamente processados: frutas, hortaliças, legumes, ovos, arroz, feijão e carnes frescas devem ser a base da sua alimentação.
  • Evite embalagens coloridas e produtos com listas de ingredientes longas: quanto mais industrializado o produto, maior a chance de conter substâncias que não fazem bem à saúde.
  • Planeje suas refeições com antecedência: isso evita recorrer a produtos prontos ou fast-food por falta de tempo.
  • Reeduque seu paladar: diminuir o consumo de sal, açúcar e temperos artificiais ajuda o corpo a readquirir o gosto pelos sabores naturais dos alimentos.
  • Fique atento aos rótulos: mesmo produtos vendidos como “saudáveis” podem ser ultraprocessados disfarçados.

O pulmão também sente o que você come

O câncer de pulmão não é mais uma preocupação exclusiva de fumantes.

A forma como nos alimentamos, especialmente em uma sociedade onde os ultraprocessados dominam as prateleiras e os comerciais, também pode impactar profundamente nossa saúde respiratória.

Este é um chamado à conscientização e à mudança. Repensar a alimentação é tão importante quanto evitar o cigarro.

Nosso pulmão sente os efeitos do que respiramos, mas também sente, cada vez mais, os efeitos do que comemos.

Leitura Recomendada: Câncer de intestino pode voltar e médico orienta o que fazer para reduzir esse risco

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Michele Azevedo
Michele Azevedo

Formada em Letras - Português/ Inglês, pós-graduada em Arte na Educação e Psicopedagogia Escolar, idealizadora do site Escritora de Sucesso, empresária, redatora e revisora dos conteúdos do SaúdeLab.

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