10 infecções que podem causar câncer: infectologista ensina como se proteger dessas ameaças invisíveis

Infecções que podem causar câncer existem e muitas são evitáveis. Saiba os riscos, sintomas e como se proteger.

Muita gente não sabe, mas infecções que podem causar câncer são mais comuns do que se imagina.

Embora o sistema imunológico seja capaz de combater muitas doenças infecciosas, algumas delas podem deixar sequelas que alteram o funcionamento das células do corpo, criando um ambiente propício para o desenvolvimento de tumores.

Para entender melhor essa relação, o SaúdeLAB conversou com a médica infectologista Keilla Mara Freitas.

A profissional explicou como algumas infecções podem desencadear o câncer.

Infecções que podem causar câncer: o que a medicina já sabe

Alguns vírus, bactérias e parasitas têm a capacidade de provocar inflamações crônicas no organismo, criando um ambiente favorável para o surgimento de tumores.

Essas infecções persistentes alteram o funcionamento das células e podem contribuir para o desenvolvimento do câncer.

A infectologista Keilla Mara Freitas explica melhor essa relação:

É verdade que algumas infecções podem causar vários tipos de câncer. Dentre as mais conhecidas estão o papilomavírus humano, que é o HPV, a hepatite viral pelo vírus B, a hepatite viral pelo vírus C e o vírus HIV, causador da doença Aids.

Ela acrescenta que, além dos vírus, outras infecções também desempenham esse papel:

São vírus que estão diretamente relacionados com o desenvolvimento de tumores. Mas também temos algumas bactérias e parasitas que, ao causarem infecções crônicas, aumentam o risco de desenvolvimento de determinados tipos de câncer.

Portanto, embora os vírus sejam os mais frequentemente associados ao câncer, é importante destacar que bactérias e parasitas também têm esse potencial, especialmente quando causam inflamações de longa duração.

As 10 principais infecções que podem causar câncer

A seguir, listamos as principais infecções que podem causar câncer, conforme a explicação da especialista:

  • HPV (Papilomavírus Humano): associado ao câncer do colo do útero, vulva, vagina, pênis, ânus e orofaringe.
  • Hepatite B e Hepatite C: relacionadas ao carcinoma hepatocelular, um tipo de câncer do fígado.
  • Epstein-Barr (EBV): apesar de muito comum na população, pode levar a linfoma de Burkitt, linfoma de Hodgkin, carcinoma de nasofaringe e, especialmente em transplantados, a outros tipos de linfoma.
  • Herpesvírus Humano 8 (HHV-8): causador do sarcoma de Kaposi, geralmente em pessoas com o sistema imunológico comprometido, como na Aids.
  • HTLV (Vírus Linfotrópico de Células T Humanas): pode provocar leucemia e linfoma de células T do adulto.
  • Helicobacter pylori (H. pylori): bactéria associada ao câncer gástrico (adenocarcinoma) e ao linfoma gástrico.
  • Clamídia trachomatis: ainda em estudo, mas fortemente associada ao câncer do colo do útero, especialmente na presença do HPV.
  • Schistosoma haematobium: parasita que aumenta o risco de carcinoma de bexiga.
  • Hepatite D (HDV): pode causar câncer de fígado, especialmente quando associada à hepatite B.
  • Sífilis (Treponema pallidum): embora menos estudada nesse aspecto, pode estar relacionada a alterações celulares crônicas em alguns órgãos, aumentando o risco de complicações.

Essas são as infecções que podem causar câncer de forma mais documentada.

No entanto, a ciência ainda investiga outros microrganismos com potencial cancerígeno.

Como essas infecções causam câncer?

A maioria dessas infecções não leva ao câncer de forma direta. O principal problema está na inflamação prolongada que elas geram no organismo, criando um ambiente propício para o desenvolvimento de tumores.

A Dra. Keilla explica esse mecanismo:

A principal forma, o principal mecanismo com que agentes infecciosos se associam à formação ou ao aparecimento de câncer é através da inflamação. Então, são agentes infecciosos causadores de quadros crônicos, de inflamação crônica, que acabam levando a um ambiente propício àquela região em que o agente infeccioso está.

Ela continua destacando que essa inflamação pode permanecer por anos, muitas vezes sem que a pessoa perceba.

Isso ocorre porque, enquanto a inflamação persiste, o sistema imunológico não consegue combater de forma eficaz o desenvolvimento e a multiplicação das células cancerígenas.

A profissional ainda salienta a importância da prevenção e do diagnóstico precoce, pois quanto mais cedo o problema for identificado, mais eficaz será o tratamento.

Quais são os sintomas dessas infecções?

A médica infectologista Keilla Mara Freitas alerta que muitos desses agentes infecciosos são silenciosos, especialmente no início.

Ela afirma:

Boa parte dessas infecções não possuem sintomas específicos ou, em grande parte do seu desenvolvimento, não apresentam nenhum sintoma. As hepatites virais, por exemplo, podem causar sintomas inespecíficos no início, na fase aguda, que facilmente podem ser confundidos com alguma virose. Esses sintomas logo melhoram, mas o vírus continua se multiplicando, causando inflamação.

Ela acrescenta que, à medida que a infecção evolui, o sintoma principal passa a ser o das complicações, como no caso do câncer já desenvolvido.

Portanto, confiar apenas nos sintomas pode atrasar o diagnóstico.

Por isso, o acompanhamento médico regular é fundamental para a detecção precoce e prevenção de complicações.

Como se proteger das infecções que causam câncer?

Felizmente, muitas das infecções que podem causar câncer são evitáveis com medidas simples.

A especialista explica:

Existem várias estratégias para se proteger dessas infecções que aumentam o risco de câncer, mas para cada infecção tem a sua estratégia, pois existem diferentes formas de se contrair. De forma geral, o sexo seguro, especialmente com pessoas que você não conhece o histórico sorológico, ou seja, o uso de preservativo durante as relações sexuais é uma via bastante eficaz que já protege contra várias dessas infecções.

Ela prossegue reforçando que há também cuidados de higiene e vacinação que fazem diferença:

Algumas infecções, como hepatite B e C, por exemplo, além de terem transmissão pela via sexual, também podem ser transmitidas pelo sangue, como no compartilhamento de seringas ou em procedimentos como manicure. Então, todo esse cuidado com higienização e com riscos biológicos deve ser considerado. E é muito importante também o rastreio dessas infecções e dos principais tipos de câncer, por meio de exames de check-up, pelo menos anuais.

Exames e vacinas ajudam a prevenir o câncer relacionado a infecções

A vacinação é uma das formas mais eficazes de se proteger.

No Brasil, o SUS oferece gratuitamente as vacinas contra o HPV e a hepatite B, que atuam diretamente na prevenção de infecções ligadas ao surgimento de alguns tipos de câncer.

Além disso, exames regulares são fundamentais para detectar precocemente tanto as infecções quanto os danos que elas podem causar.

Entre os principais exames preventivos estão:

  • Papanicolau – identifica alterações no colo do útero causadas pelo HPV;
  • Testes sorológicos – essenciais para diagnosticar hepatites B e C, além do HIV;
  • Endoscopia e biópsias – úteis para detectar a bactéria Helicobacter pylori, relacionada ao câncer de estômago.
  • Essas medidas permitem o diagnóstico precoce e aumentam significativamente as chances de evitar complicações graves, como o desenvolvimento de tumores.

Ter a infecção significa que vou ter câncer?

A resposta é não. A Dra. Keilla esclarece que a presença da infecção, por si só, não determina o surgimento de um câncer.

Nem todo mundo que se infecta por essas infecções vai necessariamente desenvolver câncer. É necessário ter uma junção de fatores: a infecção, inflamação, fatores genéticos, fatores ambientais, de estilo de vida e várias outras questões, a depender especificamente de cada tipo de agente infeccioso.

Ela reforça que a prevenção deve ir além do controle da infecção.

Por isso, deve-se monitorar e evitar ou tentar diminuir ou mitigar os fatores de risco para o desenvolvimento dessas doenças.

Ou seja, uma infecção pode aumentar o risco, mas não é determinante. É a combinação de fatores (imunidade, genética, hábitos) que define o desfecho.

Infecções que podem causar câncer: por que falar sobre isso é tão importante?

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), até 15% dos casos de câncer no mundo estão ligados a agentes infecciosos.

Isso quer dizer que milhares de diagnósticos poderiam ser evitados com medidas simples, como acesso à informação de qualidade, vacinação, diagnóstico precoce e acompanhamento médico.

A entrevista com a médica infectologista reforça que cuidar da imunidade, realizar check-ups regulares, praticar sexo seguro e manter a vacinação em dia são atitudes que podem salvar vidas.

Conhecer os riscos é o primeiro passo para evitá-los. E agir a tempo faz toda a diferença.

Dra Keilla Freitas – Infectologista

  • Especializada em Controle de Infecção Hospitalar pela USP (Universidade de São Paulo)
  • Residência médica em Infectologia pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais)
  • Instagram: @drakeillafreitas

Compartilhe este conteúdo
Elizandra Civalsci Costa
Elizandra Civalsci Costa

Farmacêutica (CRF MT n° 3490) pela Universidade Estadual de Londrina e Especialista em Farmácia Hospitalar e Oncologia pelo Hospital Erasto Gaertner. - Curitiba PR. Possui curso em Revisão de Conteúdo para Web pela Rock Content University e Fact Checker pela poynter.org. Contato (65) 99813-4203

plugins premium WordPress

VIRE A CHAVE PARA EMAGRECER

INSCRIÇÕES GRATUITAS E VAGAS LIMITADAS