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Seu filho(a) está entre os 9 e 12 anos? Especialista explica dilemas da pré-adolescência e comportamento nessa fase
Pré-adolescência e comportamento – O período da pré-adolescência costuma gerar dúvidas e até insegurança nos pais. Afinal, é nessa fase, geralmente entre os 9 e 12 anos, que os filhos começam a apresentar transformações físicas, emocionais e sociais marcantes.
Eles começam a deixar de ser crianças, mas ainda não são adolescentes plenos. E é justamente essa transição que pode trazer desafios intensos dentro de casa.
Mas afinal, como diferenciar atitudes típicas desse período de sinais que merecem atenção? Como manter o diálogo e fortalecer o vínculo com os filhos durante esse processo?
A psicóloga psicanalista Joana d’Arc Sakai conversou com o SaúdeLab e trouxe explicações importantes para ajudar as famílias a atravessarem essa etapa com mais equilíbrio e empatia.
Pré-adolescência e comportamento: o que muda nessa fase?
A pré-adolescência é um período de intensas transformações. Segundo a Dra. Joana, é o momento em que a criança começa a passar por mudanças físicas e emocionais, que afetam o comportamento:
“É aquele período em que as crianças começam a apresentar mudanças hormonais, físicas, emocionais, cognitivas e comportamentais. E isso gera, muitas vezes, estranhamento tanto nelas quanto nas famílias.”
Do ponto de vista emocional e cognitivo, a criança começa a desenvolver um pensamento mais abstrato, além de oscilar no humor e buscar autonomia.
Há uma tendência maior à privacidade, à sensibilidade, e à necessidade de pertencimento ao grupo de amigos, que passa a ocupar um lugar central na vida emocional.
“É um momento em que o pré-adolescente começa a questionar regras e a afirmar sua própria identidade”, explica a especialista.
Pré-adolescência e comportamento: teimosia, desafios e isolamento; isso é normal?
Muitos pais relatam mudanças marcantes no temperamento dos filhos.
Eles ficam mais teimosos, desafiadores ou até emocionalmente fechados.
De acordo com a psicóloga psicanalista Joana Joana d’Arc Sakai, esses comportamentos fazem parte do desenvolvimento saudável e não devem ser encarados como rejeição à autoridade dos pais.
“Essas atitudes refletem a busca por autonomia e por uma identidade própria. O pré-adolescente testa limites, quer diferenciar-se dos pais e passa a seguir muito mais a lógica do grupo de amigos”, explica.
Por isso, também podem surgir conflitos, maior sensibilidade a críticas e oscilações de humor repentinas, fruto da chamada “tempestade hormonal”.
Pré-adolescência e comportamento: quando se preocupar?
Apesar de muitas atitudes serem típicas da pré-adolescência, alguns sinais podem indicar a necessidade de atenção mais cuidadosa por parte dos pais ou de um acompanhamento profissional.
Entre os comportamentos que devem acender um alerta, a especialista cita:
- Isolamento social persistente;
- Mudanças abruptas de humor ou de rendimento escolar;
- Automutilação ou falas autodepreciativas;
- Desmotivação constante;
- Crises de choro frequentes;
- Rejeição severa a regras de proteção;
- Sentimentos de desesperança ou frases como “ninguém se importa comigo”.
“Esses sinais podem indicar sofrimento emocional ou mesmo quadros depressivos, e devem ser observados com atenção”, orienta a Dra. Joana.
O papel dos pais e responsáveis no comportamento do pré-adolescente
A forma como os pais reagem às mudanças comportamentais pode impactar profundamente o equilíbrio emocional da criança.
A Dra. Joana reforça que a pré-adolescência e o comportamento adotado podem ser reflexos da relação construída em casa.
“Se os pais entenderem que esse é um processo natural e necessário, fica mais fácil não levar as atitudes dos filhos para o lado pessoal. Porque não é que eles deixaram de amar os pais, ou que são ingratos, ou que se tornaram pessoas difíceis. Eles estão atravessando um momento de reorganização interna“, afirma.
Ela ressalta ainda que é necessário oferecer uma base segura para que a criança explore sua independência:
“Eles vão testar os limites. Isso é natural. Mas eles precisam encontrar nos pais um porto seguro. Alguém que diz: ‘Eu entendo que você está passando por mudanças, mas existem combinados na nossa casa, existem regras e existem formas respeitosas de se comunicar’. Isso ajuda muito.”
A comunicação aberta, o respeito pelos sentimentos do pré-adolescente e a manutenção de limites claros são fundamentais para um convívio saudável e uma transição mais leve.
Pré-adolescência e comportamento: erros comuns dos pais
A profissional aponta que muitos pais acabam cometendo equívocos ao lidar com os comportamentos da pré-adolescência, o que pode agravar os conflitos e o distanciamento.
“Muitos pais interpretam as atitudes dos filhos como um ataque pessoal. E isso é muito complicado, porque, em vez de olhar para o que está acontecendo com a criança, eles entram em um jogo de poder, de ‘quem manda aqui’. E isso só agrava a situação.”
Outro erro frequente é a negligência emocional.
Segundo ela, alguns responsáveis se afastam quando os filhos começam a parecer mais independentes ou rudes:
“Alguns pais se afastam, achando que o filho não precisa mais deles, porque está mais arredio, ou porque busca mais os amigos. Mas é justamente nesse momento que ele mais precisa de uma presença amorosa e firme.”
Reconhecer o papel afetivo e educativo, e manter o vínculo mesmo diante de conflitos, é essencial para atravessar a pré-adolescência com mais segurança emocional.
Conflitos com os pais: como lidar de forma mais leve?
Os maiores conflitos nessa fase geralmente envolvem a autoridade dos pais, os limites impostos e o desejo dos filhos por autonomia.
Muitas vezes, a teimosia ou o desafio não são apenas provocações: são expressões de um amadurecimento interno.
A especialista sugere que os pais evitem reações explosivas.
“A reatividade dos adultos tende a escalar o conflito. O ideal é manter a calma, explicar as regras com clareza e mostrar disposição para o diálogo”, recomenda.
Evitar gritos, comparações e disputas entre irmãos também é fundamental para manter o vínculo afetivo e o respeito mútuo.
A especialista ainda enfatiza:
“Esse período é muito importante porque prepara a criança para enfrentar os desafios da adolescência e da vida adulta. Se não houver um ambiente acolhedor, que permita questionamentos e erros, esse desenvolvimento pode ser prejudicado, gerando inseguranças e dificuldades no futuro.”
Ela alerta que um comportamento desafiador não deve ser encarado como problema, mas como uma manifestação natural do processo de amadurecimento.
Pré-adolescência e comportamento: telas e redes sociais
Um dos temas mais preocupantes da atualidade quando se fala em pré-adolescência e comportamento é o uso excessivo de telas e redes sociais.
A exposição prolongada pode prejudicar a capacidade de concentração, aumentar a impulsividade e diminuir a tolerância à frustração.
Além disso, os pré-adolescentes passam a buscar nas redes sociais a validação pessoal.
O número de curtidas, seguidores ou visualizações pode impactar diretamente a autoestima, especialmente quando comparado aos padrões irreais de influenciadores digitais.
“A exposição a conteúdos – editados e esteticamente perfeitos – pode gerar distorções na autoimagem e desencadear inseguranças. Há ainda o risco do cyberbullying, que tem efeito devastador sobre a autoestima”, alerta a especialista.
Outro fator importante é a luz azul emitida pelas telas, que atrapalha a produção de melatonina e prejudica o sono.
Com noites mal dormidas, os jovens tendem a apresentar piora no humor, menor rendimento escolar e maior irritabilidade.
Pré-adolescência e comportamento: como fortalecer o vínculo e ajudar os filhos nessa fase?
Mesmo diante dos desafios, a pré-adolescência pode ser encarada como uma oportunidade de fortalecer vínculos familiares.
E a chave para isso está na escuta, no respeito e na construção de rotinas compartilhadas.
Confira as principais dicas da especialista:
- Valorize o tempo de qualidade juntos, com refeições sem celulares, passeios, jogos, receitas, filmes ou piqueniques;
- Demonstre interesse genuíno pelo que o filho sente, acolhendo emoções sem julgamentos;
- Dialogue de forma clara, mostrando que os sentimentos deles são importantes;
- Estabeleça regras em conjunto, ouvindo o que eles têm a dizer e explicando os motivos dos limites;
- Ensine a nomear emoções, ajudando na alfabetização emocional: raiva, medo, insegurança, alegria etc.
“A criança precisa se sentir segura para expressar o que sente. Quando isso acontece, ela aprende a lidar com suas emoções e a confiar no vínculo com os pais”, conclui a Dra. Joana.
Dra. Joana d’Arc Sakai é psicóloga psicanalista. Mestra e doutora pela USP. Palestrante e escritora. @sakaipsicologia