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Por que o AVC em pessoas jovens está aumentando? Neurologista explica após caso de youtuber
O AVC em pessoas jovens tem se tornado uma preocupação crescente entre médicos e especialistas em saúde. O caso recente do biólogo e influenciador digital Paulo Miranda Nascimento, conhecido como Pirula, de 43 anos, trouxe à tona um problema que, até pouco tempo atrás, era visto como algo restrito a pessoas idosas.
Pirula, que tem mais de um milhão de seguidores no YouTube e é referência na divulgação científica no Brasil, sofreu um acidente vascular cerebral na noite do dia 25 de maio.
Ele está internado em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) em São Paulo.
Segundo informações divulgadas por amigos nas redes sociais, seu estado é considerado estável, mas ainda inspira cuidados constantes.
O episódio gerou comoção nas redes e reacendeu debates — infelizmente, também circulando desinformação.
Algumas pessoas tentaram, sem qualquer embasamento científico, relacionar o quadro do biólogo ao uso de vacinas, o que foi prontamente descartado por especialistas.
Na verdade, o que muitos desconhecem é que o AVC em pessoas jovens tem aumentado significativamente nas últimas décadas, tanto no Brasil quanto no mundo.
Dados preocupantes sobre o AVC em jovens
O AVC (Acidente Vascular Cerebral) é uma emergência médica que acontece quando o fluxo de sangue para uma parte do cérebro é interrompido, causando falta de oxigênio e, consequentemente, a morte das células cerebrais.
Isso pode ocorrer por um entupimento de vasos (AVC isquêmico) ou por sangramento no cérebro (AVC hemorrágico).
Dependendo da área afetada, pode gerar sequelas como dificuldade na fala, perda de movimentos, visão ou até levar à morte.
E, a cada ano, são registrados cerca de 12 milhões de novos casos de AVC no mundo. Desse total, 1,8 milhão ocorrem em pessoas com menos de 50 anos.
No Brasil, o crescimento é evidente.
Em 2008, o Sistema Único de Saúde (SUS) registrava 33,3 mil internações por AVC em pessoas abaixo dos 50 anos.
Em 2024, esse número saltou para 44,1 mil; um aumento de 32%.
Por que o AVC tem crescido entre os jovens?
A neurologista Marília Graner explica que, embora o acidente vascular cerebral seja mais comum em pessoas acima dos 60 anos, há um aumento expressivo entre adultos jovens, especialmente na faixa de 18 a 45 anos.
“Esse crescimento está relacionado a mudanças no estilo de vida e no perfil de saúde dessa população”, afirma.
Entre os principais fatores de risco destacados pela médica estão:
- Hipertensão arterial não diagnosticada ou mal controlada;
- Uso de anticoncepcionais hormonais combinados com tabagismo;
- Doenças cardíacas não detectadas;
- Alterações no sangue que favorecem a formação de coágulos, como as trombofilias;
- Condições autoimunes, como o lúpus.
Além desses, ela alerta para um fator preocupante:
“O uso de drogas ilícitas — especialmente estimulantes como cocaína e anfetaminas — e o consumo indiscriminado de anabolizantes têm se tornado preocupações crescentes. Essas substâncias podem causar danos diretos aos vasos cerebrais, aumentando o risco de trombose e hemorragias.”
Fatores comportamentais como estresse crônico, má qualidade do sono, sedentarismo, obesidade e alimentação inadequada também estão na lista dos vilões que favorecem o AVC em pessoas jovens.
Sinais de alerta: como reconhecer um AVC em jovens?
Ao contrário do que muitos imaginam, os sintomas de um AVC em pessoas jovens são os mesmos observados em pessoas idosas.
Saber identificá-los pode ser decisivo para salvar vidas e reduzir sequelas.
A Dra. Marília Graner recomenda utilizar a regra do SAMU para memorizar os sinais:
- S – Sorriso torto ou assimetria facial;
- A – Abraço: dificuldade para levantar os dois braços ou fraqueza em um dos lados;
- M – Música: fala arrastada, confusa ou incompreensível;
- U – Urgente: acione imediatamente o SAMU pelo número 192.
Outros sinais importantes incluem perda súbita da visão, tontura intensa, desequilíbrio, além de dor de cabeça muito forte e súbita, especialmente quando o AVC é do tipo hemorrágico.
“É importante educarmos a população para que todos consigam reconhecer esses sinais com rapidez porque existe uma janela terapêutica estreita — em geral, até 4,5 horas após o início dos sintomas — para o uso de medicações trombolíticas que podem reverter o quadro ou minimizar as sequelas”, alerta a neurologista.
Ela ainda destaca que, em casos específicos, pode ser realizada a trombectomia mecânica, um procedimento que consiste na retirada do coágulo que interrompe o fluxo de sangue no cérebro.
“Quanto mais rápido o atendimento, maiores as chances de recuperação e menor o risco de sequelas.”
É possível prevenir um AVC em pessoas jovens?
A resposta da Dra. Marília é objetiva: sim, na maioria dos casos.
“Diversos hábitos e condições aumentam o risco de AVC em jovens, muitos deles passíveis de prevenção”, explica.
Entre os principais cuidados recomendados estão:
- Controlar a pressão arterial, fazendo check-ups regulares;
- Evitar o tabagismo e o uso de drogas ilícitas;
- Manter uma alimentação equilibrada, rica em frutas, verduras e alimentos naturais;
- Praticar atividades físicas regularmente;
- Controlar o estresse e priorizar a qualidade do sono;
- Realizar acompanhamento médico, especialmente se houver histórico familiar de doenças cardiovasculares ou trombofilias;
- Mulheres devem discutir com seu médico o uso de anticoncepcionais, especialmente se forem fumantes.
Fique atento aos sinais. Cuide da sua saúde
O aumento dos casos de AVC em pessoas jovens acende um alerta urgente: “O AVC não escolhe idade!”, afirma a neurologista Marília Graner.
Ela destaca que, infelizmente, muitos jovens têm sido surpreendidos por um evento neurológico grave, muitas vezes “sem diagnóstico prévio de doenças”, o que torna essa realidade ainda mais preocupante.
Esse cenário revela uma lição importante: “O cuidado com a saúde precisa começar cedo, antes que os sintomas apareçam.”
O cérebro, como lembra a especialista, é extremamente sensível, e as consequências de um AVC podem ser severas.
“Danos a esse órgão tão importante podem comprometer não apenas a fala, os movimentos e a memória, mas também a autonomia e a qualidade de vida,” aponta.
Tempo é cérebro
Diante desse cenário, o alerta da neurologista Marília Graner é direto e não deixa espaço para dúvidas: “tempo é cérebro!”
Ela explica que compreender rapidamente os sinais de alerta faz toda a diferença. “Reconhecer os sinais de alerta com rapidez para identificar que um AVC está acontecendo e buscar atendimento imediato pode salvar vidas.”
Porém, tão importante quanto saber agir na emergência é investir em hábitos que evitem que o problema aconteça.
Como reforça Marília, “o melhor caminho é sempre a prevenção“.
Ela ressalta que esse cuidado não é algo complexo, mas um compromisso diário com a própria saúde.
“Adotar uma rotina de autocuidado, com hábitos saudáveis e atenção aos sinais do corpo, é a forma mais eficaz de evitar que o AVC aconteça.”
A mensagem é clara, objetiva e necessária: priorizar o autocuidado não é uma escolha apenas para quem já apresenta fatores de risco. É uma urgência para qualquer pessoa, de qualquer idade, que deseja preservar sua qualidade de vida, sua autonomia e seu bem-estar.
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