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O impacto silencioso dos agrotóxicos no intestino, segundo estudo
Muita gente se preocupa com o que coloca no prato, e motivos não faltam. Quando falamos de agrotóxicos nos alimentos e seus efeitos, pensamos logo em toxicidade e nos resíduos que podem ficar na comida. Mas um novo estudo mostra que essa história pode ir além.
Ele mostra que algumas substâncias presentes na agricultura, na indústria e até no ambiente doméstico podem também atingir um alvo pouco considerado: as bactérias do nosso intestino.
O que os cientistas descobriram
No laboratório, os pesquisadores testaram mais de mil compostos que podem aparecer em alimentos, água ou no ambiente.
A lista incluía fungicidas, herbicidas, inseticidas, derivados industriais e outros contaminantes que acabam entrando na rotina sem que percebamos.
Eles queriam entender como esses químicos (alguns já detectados em amostras de sangue e urina de pessoas expostas) afetam o crescimento das bactérias mais frequentes do intestino humano.
A microbiota intestinal, apesar de invisível, participa da digestão, da produção de vitaminas, da defesa contra infecções e até da regulação metabólica.
Quando esse ecossistema perde o equilíbrio, surgem problemas como inflamação, disbiose e alterações que repercutem na saúde como um todo.
Fungicidas e químicos industriais foram os mais agressivos
Ao analisar as bactérias em laboratório, o estudo publicado na Nature Microbiology identificou quase 600 situações em que algum composto conseguiu frear o crescimento microbiano.
Entre todos os químicos avaliados, dois grupos chamaram mais atenção:
- Fungicidas usados em lavouras — como imazalil, fluazinam e prochloraz, comuns no tratamento de frutas e hortaliças.
- Substâncias industriais — como o retardante de chama TBBPA e o plástico bisfenol AF, encontrados em eletrônicos, plásticos e revestimentos.
Juntos, eles responderam por boa parte dos efeitos observados, e cerca de um terço desses produtos apresentou uma ação parecida com a de antibióticos, mesmo sem terem sido criados para isso.
O impacto foi ainda maior quando esses compostos atingiram bactérias que produzem ácidos graxos benéficos, fundamentais para proteger a parede intestinal e ajudar no controle de inflamações.
Em casos de exposição repetida, perder essas funções pode comprometer o equilíbrio da microbiota ao longo do tempo.
O estudo também analisou outros possíveis efeitos dos contaminantes sobre as bactérias, mas esses achados ainda estão em fase inicial e exigem mais pesquisa.
Por que isso importa para o consumidor
Mesmo sendo um estudo de laboratório, ele ajuda a ampliar a conversa sobre agrotóxicos nos alimentos e seus efeitos.
Além dos riscos já conhecidos, alguns desses químicos, como mencionado, podem interferir na microbiota intestinal, que é sensível ao que comemos e tem papel importante na digestão, na imunidade e no equilíbrio do organismo.
Para o leitor, isso não significa pânico, mas atenção.
Algumas atitudes simples podem ajudar.
Lavar bem frutas e hortaliças, dar preferência a alimentos da época (que costumam ter menor uso de químicos) e observar informações básicas dos rótulos quando estiverem disponíveis.
Sempre que possível, também vale alternar os tipos de alimentos ao longo da semana, o que reduz a exposição repetida aos mesmos compostos.
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