Book Appointment Now

Comer 6 bolachas recheadas reduz 40 minutos de vida? Estudo da USP revela impacto de alimentos na longevidade
Entenda o impacto dos alimentos na longevidade e no meio ambiente.
Um estudo recente conduzido por pesquisadores da USP, UERJ e Universidade Técnica da Dinamarca trouxe uma análise inédita sobre como os alimentos mais consumidos no Brasil afetam não apenas a saúde humana, mas também o meio ambiente.
Entre os resultados mais impactantes está a estimativa de que o consumo contínuo de 115 gramas de bolachas recheadas (menos de um pacote) pode reduzir em 39 minutos o tempo de vida saudável de uma pessoa.
Publicado na revista International Journal of Environmental Research and Public Health, o trabalho utiliza o Índice Nutricional de Saúde (Heni), que calcula o efeito dos alimentos em anos de vida ajustados por incapacidade (DALYs, na sigla em inglês).
A pesquisa avaliou 33 alimentos com base em seu impacto na saúde e em fatores ambientais, como emissão de gases de efeito estufa e consumo de água.
Os alimentos que mais reduzem a expectativa de vida saudável
Além das bolachas recheadas (-39,69 minutos), outros alimentos aparecem no topo da lista de maiores prejuízos à saúde:
- Carne suína (-36,09 minutos)
- Margarina (-24,76 minutos)
- Carne bovina (-21,86 minutos)
- Biscoitos salgados (-19,48 minutos)
Por outro lado, alguns alimentos demonstraram efeitos positivos, adicionando minutos de vida saudável:
- Peixes de água doce (+17,22 minutos)
- Banana (+8,08 minutos)
- Feijão (+6,53 minutos)
- Arroz com feijão (+2,11 minutos)
Não é sobre um único consumo, mas sobre hábitos contínuos
A professora Aline Martins de Carvalho, da Faculdade de Saúde Pública da USP, ressalta que o dado não significa que comer algumas bolachas uma vez levará à perda imediata de tempo de vida. O cálculo considera o consumo diário e prolongado desses alimentos ao longo dos anos.
“Se a pessoa consome por muitos anos e de forma diária, esse hábito irá reduzir o tempo de vida saudável dela“, explica Carvalho.
Impacto ambiental: carne bovina e pizza lideram em danos
Além da saúde humana, o estudo analisou o custo ambiental da produção dos alimentos. A carne bovina se destacou negativamente, emitindo mais de 21 kg de CO₂ equivalente por porção, enquanto a pizza de muçarela consome 306 litros de água em uma porção média.
Em contraste, alimentos como banana (0,1 kg de CO₂ equivalente) e feijão (14,8 litros de água por porção) apresentaram um impacto ambiental significativamente menor.
Desigualdades regionais e desafios alimentares
A pesquisa também identificou diferenças regionais. No Nordeste e parte do Norte, onde há maior consumo de carne seca (-61,15 minutos), o impacto na saúde foi mais negativo. Por outro lado, combinações como açaí com granola (+41,43 minutos) tiveram efeitos positivos.
Outro problema apontado é a monotonia alimentar no Brasil, com dietas centradas em arroz, feijão e carnes, e pouco aproveitamento de alimentos regionais e biodiversos.
Agricultura familiar vs. agronegócio: um debate necessário
O estudo destaca que, enquanto o agronegócio responde por 70,45% do consumo de água no país (principalmente na produção de carne bovina), a agricultura familiar tem papel crucial na produção de feijão, mandioca, frutas e hortaliças, alimentos com melhor desempenho em saúde e sustentabilidade.
“Políticas que incentivem a produção local e diversificada podem promover sistemas alimentares mais justos e sustentáveis“, afirmam os pesquisadores.
Como foi calculado o tempo de vida perdido?
Os cientistas utilizaram dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF 2017-2018) e do Índice Multidimensional de Sistemas Alimentares Sustentáveis (MISFS-R). O cálculo considerou:
- Componentes nutricionais (sódio, gorduras, fibras etc.)
- Impacto na saúde (associação com doenças crônicas)
- Fatores ambientais (emissões de CO₂ e uso de água)
A métrica usada foi o μDALY (micro Disability-Adjusted Life Year), que converte o risco alimentar em minutos de vida saudável perdidos ou ganhos.
Limitações do estudo
A pesquisa não considerou fatores como:
- Consumo excessivo de açúcar (dado ausente na análise)
- Influência genética e estilo de vida (sedentarismo, tabagismo etc.)
O que podemos aprender com esses dados?
A principal lição é que pequenas escolhas diárias têm impacto cumulativo na saúde e no planeta. Optar por alimentos in natura, reduzir o consumo de ultraprocessados e diversificar a dieta são passos importantes para uma vida mais longa e sustentável.
Enquanto bolachas recheadas e carnes processadas diminuem o tempo de vida saudável, alimentos como peixes, feijão e frutas podem adicionar minutos valiosos. A mudança não precisa ser radical, mas consciente e progressiva.
O estudo não propõe a eliminação total de certos alimentos, mas um consumo mais equilibrado. Políticas públicas que facilitem o acesso a comida saudável e sustentável, aliadas a escolhas individuais mais informadas, podem transformar não apenas a saúde das pessoas, mas também o futuro do planeta.
Leia mais: Risco de câncer em crianças por fogões a gás é quase o dobro do que em adultos